Principal investigado
disse a Gilberto Miranda que, a partir de encontro com funcionário, "céu é
o limite"
Investigações da
Polícia Federal indicam que o secretário executivo da Secretaria de Portos da
Presidência, Mário Lima Júnior, negociou com a máfia dos pareceres a liberação
de projeto de interesse do grupo investigado na Operação Porto Seguro. Número 2
da pasta chefiada pelo ministro Leônidas Cristino (PSB-CE), Lima Júnior se
reuniu com o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (Ana) Paulo Rodrigues
Vieira, apontado pela PF como chefe da quadrilha, para Miranda. E marcou encontro
com o ex-parlamentar, em São Paulo, em viagem bancada com verba pública.
"Ele (Lima) vai no seu escritório. Aí, você faz um contato direto. A
partir de agora, o céu é o limite", disse Vieira em conversa com Miranda,
gravada pela PF. A Secretaria de Portos confirmou que Lima Júnior esteve em
Santos em 26 de abril e se encontrou com Luís Awazu, sócio da São Paulo
Empreendimentos, mas negou reunião com Miranda.
Esquema levou
número 2 da Secretaria de Portos a reunião para beneficiar obra
Porto Seguro.Acusado pela PF de chefiar venda de pareceres técnicos, Paulo
Vieira intermediou encontro entre Mário Lima Jr. e o ex-senador Gilberto
Miranda, interessado em empreendimento privado em ilha; na viagem, secretário
executivo usou diárias de R$ 1,1 mil
Fábio Fabrini
BRASÍLIA – O secretário executivo da Secretaria de Portos da Presidência
(SEP), Mário Lima Júnior, negociou com a quadrilha acusada de vender pareceres
técnicos a liberação de um projeto de interesse do grupo investigado na Operação
Porto Seguro, da Polícia Federal.
Número 2 da pasta chefiada pelo ministro Leônidas Cristino (PSB-CE), ele se
reuniu com o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira,
apontado pela PF como chefe da quadrilha, para tratar da construção de um porto
privativo na Ilha de Bagres, em Santos, a ser explorado por empresa ligada ao
ex-senador Gilberto Miranda. E marcou encontro com o ex-parlamentar, em São
Paulo, em viagem bancada com dinheiro público. "Ele (Lima) vai no seu
escritório. Aí, você faz um contato direto. A partir de agora, o céu é o
limite", disse Vieira em conversa com Miranda, gravada pela PF.
As escutas mostram o roteiro traçado pelo ex-diretor da ANA para cooptar o
secretário executivo. Segundo a PF, o porto seria explorado pela São Paulo
Empreendimentos, ligada ao ex-senador, que tem como sócio o empresário Luís
Awazu. O objetivo era que o governo o declarasse de utilidade ou interesse
público, o que dependia do aval da Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(Antaq), da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Secretaria de Patrimônio da
União (SPU), além da SEP.
A PF flagrou as negociações com Lima em abril deste ano. No dia 20, ele se
reuniu com Vieira e tratou dos interesses da empresa. Os dois ligam para o ex-senador
e, com o telefone na função viva-voz, acertam encontro para seis dias depois,
em São Paulo. "Será um prazer grande", diz Lima a Miranda.
Helicóptero. De acordo com as escutas, o secretário executivo almoçaria com
Vieira em Santos. Depois, seguiria para o escritório do ex-parlamentar, que
ofereceu uma carona de luxo para a dupla: "Você não quer que eu mande o
helicóptero levar e pegar vocês?", pergunta ao ex-diretor da ANA.
"Não, pelo amor de Deus! Você quer derrubar a gente?", reage Paulo
Vieira, dando em seguida orientações para o encontro.
Uma das preocupações do grupo era com a reformulação do setor portuário,
ordenada pela presidente Dilma Rousseff, que poderia suspender os processos
para a liberação de portos. Questionado pelo ex-senador se o secretário daria a
"utilidade pública", Vieira responde afirmativamente, segundo as
transcrições da PF no inquérito: "Ele é tinhoso, mas vai dar. Vai querer
que você peça... aquele negócio que todo político quer".
Miranda pergunta se o número 2 de Cristino tem interesse político, ao que o
ex-diretor da ANA explica: "Ele, não. Mas o chefe tem". Os dois
acertam, então, acionar uma pessoa identificada apenas por "W".
Segundo a PF, tratava-se do então advogado-geral da União adjunto, José Weber
Holanda, supostamente cooptado para ajudar na liberação de parecer favorável ao
negócio, em troca de propina. Naquele dia, mais tarde, Weber e Vieira teriam se
encontrado.
No dia 22, ao instruir Miranda novamente, Vieira descreve Lima e tranquiliza
Miranda. "Conheço o estilo do Mário, Gilberto. Ali nós não vamos ter
problema, não. Ele vai fazer aquilo lá... É só saber conduzir direitinho. Ele
deve te pedir... aquela firula de político, mas, moral da história", disse
o ex-diretor da ANA.
As escutas da PF indicam que a reunião privada com o número 2 da SEP, de
fato, ocorreu em 26 de abril, como combinado. "Nós vamos ter o encontro
hoje?", questiona o ex-senador. "Eu não viajei, não, mas o Mário deve
ter viajado. Estou indo para aí mais tarde e nós devemos encontrar... tá mantida
(sic)", responde Vieira, horas antes do compromisso, agendado para o fim
da tarde.
De acordo com o Portal da Transparência do governo, Lima recebeu 2,5
diárias, no valor de R$ 1,1 mil, para viajar a São Paulo entre 25 e 27 de
abril, embarcando em seguida para o Ceará, seu Estado de origem.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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