- O Globo
A indústria brasileira vem sofrendo duas frentes de baixa. Uma, interna, com a desaceleração do consumo, e outra, externa, com a queda das exportações. Tirando da conta a exportação contábil das plataformas de petróleo, a indústria vendeu US$ 2,7 bilhões a menos em produtos manufaturados de janeiro a julho, com redução de 5,6% sobre o mesmo período de 2013. Só de carros, a queda é de US$ 1 bilhão.
Os números da balança comercial mostram a falta de competitividade da nossa indústria. Com a crise na Argentina, o setor de transportes foi diretamente afetado, porque cerca de 80% das vendas externas de automóveis têm como destino o país vizinho. Como o problema cambial dos argentinos vem de longe, houve tempo considerável para se buscar outros mercados, mas isso não aconteceu. O resultado foi um recuo de 35% nas exportações de automóveis, de US$ 2,9 bilhões para US$ 1,9 bilhão, segundo o Ministério do Desenvolvimento.
Quando se olha a indústria de transportes como um todo, incluindo aviões, tratores, ônibus, trens, motores e peças, a perda é de US$ 2,3 bilhões até julho. A venda de peças para veículos caiu US$ 536 milhões, enquanto a de motores recuou US$ 238 milhões. Entre os itens que subiram - mas não a ponto de reverter o quadro - estão trens, ônibus, peças para helicópteros, motores e turbinas para aviões.
Alguns produtos tiveram aumento das exportações. A venda de tubos de ferro, aço e acessórios, por exemplo, disparou 115%, com aumento de receita de US$ 458 milhões, enquanto a de tubos flexíveis subiu US$ 145 milhões. Mas, ainda assim, o número final entre os produtos manufaturados é de queda.
Essa fraqueza industrial é ruim porque ameaça a preservação de empregos que são considerados de alto nível de qualificação, quando comparados com o setor de serviços, por exemplo. Mas as consequências vão além disso. Com um déficit em conta-corrente na casa de 4% do PIB, cada dólar a menos que deixa de entrar no país aumenta a fragilidade externa de nossa economia.
De janeiro a julho, as exportações de produtos básicos cresceram US$ 3,4 bilhões, enquanto as de produtos semimanufaturados caíram US$ 1,6 bilhão. Ou seja, a participação da indústria no nosso comércio externo está ficando menor em 2014.
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