Daniela Lima – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer (PMDB) admitiu a aliados que, caso assuma o Planalto, não conseguirá promover um corte no número de ministérios do tamanho que desejava inicialmente.
O peemedebista começou as conversas, às vésperas da votação do impeachment na Câmara, afirmando que gostaria de formular um desenho para o novo governo que "coubesse dentro da Esplanada", numa referência ao espaço que abriga os órgãos do Executivo e conta com 19 edifícios. Sua proposta era resumir a quantidade de ministros, hoje em 32, a algo entre 20 a 22. A conta agora está em 26 –e ainda não fecha.
A dificuldade em fazer o corte é fruto da pressão para acomodar partidos que se aliaram a Temer para garantir a aprovação do impeachment na Câmara, como PP, PR, PSD e PRB. Essas siglas estavam na base de apoio de Dilma Rousseff, mas votaram majoritariamente pelo afastamento da petista.
Há ainda outro problema: ele terá que abrir espaços para PSDB, DEM e PPS, siglas que hoje são oposição, mas fizeram acordos com o PMDB para dar apoio a Temer no Congresso. Os tucanos, por exemplo, já contam com um nome certo na Esplanada, o do senador José Serra (SP), que foi sondado e indicou que aceita o Ministério das Relações Exteriores.
Com isso, para contemplar as outras áreas da sigla, que tem divisões internas históricas, Temer deverá entregar um segundo ministério para o PSDB, dessa vez com indicação selada pela bancada da Câmara, que fará sua escolha sob a batuta do presidente da legenda, senador Aécio Neves (PSDB-MG).
O segundo posto seria uma forma de compensar as alas do tucanato que apoiam a liderança de Aécio e até do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Eles disputam com Serra o espaço de "presidenciável" nas eleições de 2018 e atuam para não deixar o senador paulista despontar como único beneficiário de um governo peemedebista, caso ele seja bem avaliado.
A necessidade de fazer todas as acomodações obrigou aliados de Temer a refazerem seus planos. As secretarias especiais de Portos e Aviação Civil, por exemplo, seriam antes fundidas a outra pasta, que comandaria o setor de infraestrutura. Agora, Portos está sendo negociada com o PRB e a Aviação com o PR.
Havia ainda a disposição de unir Educação à Cultura. O projeto está sendo colocado de lado, no entanto, porque o PPS manifestou interesse na segunda pasta e a primeira passou a ser cotada como um espaço para o DEM. Quem lidera as indicações para Educação é o deputado Mendonça Filho (DEM-PE).
Outra ideia de Temer que caminha para não se concretizar é a fusão de Esportes e Turismo. Inicialmente, o vice previa colocar as duas áreas sob a batuta de seu aliado, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, que comandava o Turismo mas deixou a pasta quando o impeachment de Dilma avançou na Câmara.
Hoje, no entanto, o mais provável é que Alves fique com a chefia do Turismo e o PMDB da Câmara indique alguém para os Esportes.
Desgaste
A ginástica para tentar contemplar a todos e ainda manter um discurso de que fará um governo mais enxuto já começa a trazer desgastes para o vice.
A indicação de que o MDIC (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) seria extinto foi mal recebida por entidades como a CNI (Confederação Nacional das Indústrias). No campo político, também há descontentes. O PRB, que chefiava Esportes, tem dito que não está disposto a ficar agora com a Secretaria de Portos, espaço que lhe foi ofertado.
A sigla esperava indicar um nome para Agricultura, mas houve objeção na ala ruralista do Congresso, em especial do senador Ronaldo Caidado (GO), líder do DEM no Senado, e o plano foi suspenso. O PRB, porém, está disposto a insistir.
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