- Folha de S. Paulo
No fim do dia, os poderes brasilienses pareciam insatisfeitos com o pedido de prisão dos caciques do PMDB. Pelo menos no fim do dia de ontem. A hipótese de cadeia parecia improvável, com exceção frágil de Eduardo Cunha.
Se assim for, fica afastado o risco de tumulto ainda maior e imediato na política, pelo menos de turumbamba suficiente para inviabilizar projetos de remendos na economia. Mas o funcionamento da coalizão temerista no Congresso é uma incógnita. Até agora, o governo venceu jogos fáceis.
Ministros do Supremo rumorejavam ontem que a prisão dos caciques em geral parecia "exagerada" e que o vazamento do pedido de cana em regra foi um "expediente inaceitável", caso tenha partido de Rodrigo Janot.
No Senado, a reação misturou corporativismo com solidariedade na lambança, do PT ao PMDB, passando pelo PSDB. No governo, para variar, a reação oscilou. Foi da tola ideia de que o rolo "tiraria o foco da crise" do Planalto para a compreensão de que estão todos no mesmo barco, seja no convés estropiado, seja no porão que já faz água.
A sobrevida do governo Temer depende do futuro da Lava Jato e do remendo econômico.
Quanto à Lava Jato, Temer pouco pode fazer. No que estava ao seu alcance, levar menos escândalos para o Planalto, errou ou se rendeu à necessidade de adquirir votos no Congresso ou o silêncio de nada inocentes, como Cunha.
Quanto à economia, Temer ainda está em período de graça, pelo menos na opinião dos poderes do dinheiro. Os tumultos do seu início de governo, por enquanto apenas levantam a suspeita de que tudo pode ir à breca, não de que irá.
Não há projetos de mudanças econômicas no Congresso. Isto é, as coisas podem se acalmar um pouco antes de que as votações comecem. Medidas como impostos e Previdência devem ser empurradas com a barriga até passada a eleição. O teto dos gastos, porém, terá de ser aprovado antes disso, caso Temer não queira perder o crédito na elite do dinheiro.
Temer gasta esse crédito. Por exemplo, surfa no deficit de Dilma Rousseff. Jogou a conta do rombo para cima, a fim de torrar neste ano, atender parlamentares e servidores e evitar arrocho maior no funcionamento do governo. Os povos dos mercados toleraram, pois falta alternativa, porque 2016 está mesmo perdido e pela promessa de que virão o teto de gastos e "reformas".
A incógnita maior, ressalte-se, está na coalizão indizível desses parlamentares que se acusam, provavelmente com razão, de bandido, safado e ladrão.
Parte do salseiro recente e até da hipótese de retorno de Dilma Rousseff se deve ao fato de que deputados querem pagamentos do apoio a Temer e senadores barganham os votos finais do impeachment. Mas qual será o saldo da feira?
Um integrante e conhecedor do ambiente diz que a coisa pode se acalmar, "sem outras novidades". "Se a Lava Jato é inevitável, cada um cuide de si e é melhor o pessoal não fazer marola. Melhor ficar no poder com Temer do que ficar com a Lava Jato e sem nada", diz o deputado federal.
Pode ser. Temer tem que provar logo que tem o apoio desse bando de negocistas e nanicos e fazer com que seu governo pare de tolices e reacionarismos chocantes.
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