• Segundo depoimentos, Cunha ouviu que, pelo bem da Câmara, sua saída era indispensável porque a situação havia chegado ao limite
Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A decisão de renunciar à presidência da Câmara foi tomada entre o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e seus aliados na madrugada desta quinta-feira, 7. Cunha ouviu um por um e decretou, às 3h da madrugada: "Todo mundo concorda? Então será feita amanhã às 13h". Nesta quinta, Cunha foi recebido pelos aliados na Câmara e ao final do pronunciamento recebeu os cumprimentos dos deputados em uma sala reservada.
As conversas sobre a renúncia já vinham acontecendo nas últimas semanas devido ao agravamento da instabilidade política na Câmara e aos problemas causados pelo presidente interino Waldir Maranhão (PP-MA), mas nenhuma até então tinha sido conclusiva. À medida que a decisão de renunciar foi amadurecendo, Cunha começou a preparar a carta de renúncia.
Segundo depoimentos, Cunha ouviu que, pelo bem da Câmara, sua renúncia era indispensável porque a situação havia chegado ao limite. Fontes afirmam que ele está consciente de que dificilmente conseguirá escapar da cassação. "Nem ele acha que a renúncia é suficiente para salvar o mandato dele", disse um parlamentar.
Participaram da reunião da madrugada os líderes Jovair Arantes (PTB-GO), Baleia Rossi (PMDB-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), André Moura (PSC-SE), Aelton de Freitas (PR-MG), Marcelo Aro (PHS-MG) e Rogério Rosso (PSD-DF), este último o mais cotado para suceder Cunha na presidência. O peemedebista marcou o horário do anúncio para as 13h desta quinta porque precisaria comunicar ao Supremo Tribunal Federal (STF) de manhã sobre sua ida à Câmara.
"Ele tomou a decisão no tempo certo, na hora certa. A Casa tem que entender como um gesto positivo", disse o líder do PTB, Jovair Arantes, referindo-se ao processo de cassação em andamento. Jovair afirmou que a decisão de Cunha mostrou "respeito" pela Casa e que fez questão de manifestar solidariedade ao peemedebista.
O deputado Marcelo Aro disse que só viu Cunha aos prantos como nesta quinta em uma situação: no dia em que o STF decidiu pelo seu afastamento do cargo. "Nem na busca e apreensão foi assim", contou.
A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) destacou o papel do peemedebista na aprovação do afastamento da presidente Dilma Rousseff. "Ele teve seu papel, engrandeceu o Legislativo e nos ajudou a nos livrarmos da 'democratura' do PT", declarou.
Sucessão. Com a renúncia de Cunha, está oficialmente aberta a temporada de disputa pela presidência da Câmara. Entre os 12 nomes cotados, Rosso é o que mais agrada aos partidos do centrão (bloco formado por 13 partidos) por se tratar de um perfil conciliador e com capacidade de unir os partidos da base governista. O grupo quer agora se aproximar do PSDB.
Até o momento, 12 parlamentares se colocaram para a disputa, incluindo Rosso. Do PSB: Hugo Leal (RJ), Heráclito Fortes (PE) e Júlio Delgado (MG); do DEM: Rodrigo Maia (RJ) e José Carlos Aleluia (BA); além de Esperidião Amin (PP-SC), Carlos Manato (SD-ES), Beto Mansur (PRB-SP) e Fernando Giacobo (PR-PR). O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), também foi mencionado e como uma ala do PMDB acredita que deve assumir a vaga, o nome do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Osmar Serraglio (PMDB-PR), também entrou na bolsa de apostas.
A preocupação do centrão é a mesma da antiga oposição ao governo Dilma Rousseff: não indicar nenhum investigado da Operação Lava Jato. "Isso é consenso e eliminou alguns nomes do processo", contou um parlamentar.
Cientes de que a disputa pode se transformar numa "guerra" se não houver consenso entre os aliados, a palavra de ordem no centrão é "não dormir". "Cabe à base ter juízo de achar um nome que dê governabilidade", pregou Aro. Os próximos dias serão de negociações para a escolha do sucessor de Cunha.
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