• Nova diretoria da Câmara precisa ter biografia inquestionável e capacidade de conduzir ainda este ano as votações das reformas vitais à reconstrução da vida nacional
Era previsível, inevitável mesmo. A renúncia do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara é mais um daqueles fatos preestabelecidos na vida política à espera das circunstâncias apropriadas para realização.
Nas crises do poder, protagonistas acossados, como Cunha, acreditam que conseguem manipular e transformar a realidade a seu favor. Nunca há final feliz para eles, ensina a História.
Os eleitores anteveem, com habitual sagacidade. Em abril, por exemplo, três em cada quatro brasileiros adultos (ou seja, 73%) achavam imprescindível a renúncia do presidente da Câmara, registrou em sondagem de opinião da época o Instituto Datafolha.
Cerca de um ano antes, Cunha havia sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em dezembro, a PGR pediu seu afastamento do cargo por promover e integrar organização criminosa e usar o mandato e cargo de presidente da Câmara “com manifesto desvio de finalidade” para “constranger e intimidar” pessoas e “com o escopo de embaraçar e impedir” as investigações.
Desde então, a percepção coletiva tem indicado um epílogo nada favorável ao deputado fluminense. Segundo todas as pesquisas dos últimos seis meses, mais de dois terços dos eleitores entendiam ser necessária não apenas a renúncia como, também, a cassação do seu mandato parlamentar. Em maio, o Supremo foi ao limite da fronteira institucional e decidiu afastá-lo das funções e do mandato, proibindo-o até de pisar na sede da Câmara.
A renúncia à presidência, ontem, libera o deputado para uma luta pela salvação do seu mandato, certamente inglória porque, hoje, isso é percebido no Parlamento como acontecimento improvável. Ao mesmo tempo, transforma, de fato, esse caso em detalhe do processo legislativo: Cunha já é página virada.
Agora, os deputados federais têm a oportunidade e o dever de resgatar a Câmara. Passo preliminar, essencial, é a eleição na próxima quinta-feira de uma Mesa Diretora e de um presidente com biografias inquestionáveis, reconhecíveis pela liderança e pela capacidade de devolver a instituição à estabilidade perdida.
A seguir, os escolhidos precisam demonstrar — em harmonia, mas com independência do Executivo e do Judiciário — capacidade de conduzir ainda este ano as votações do conjunto de medidas pendentes e vitais à reconstrução da vida nacional.
A pauta é extensa, complexa, impõe negociações no Legislativo, e abrange desde leis anticorrupção às reformas político-eleitoral, fiscal, trabalhista e previdenciária. Sem isso, será difícil aos parlamentares recuperar seu ativo mais valioso: a confiança do eleitorado.
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