Com os números ruins do Produto Interno Bruto do segundo trimestre, um recuo de 0,6% ante o primeiro trimestre do ano (-0,4), pessimistas e otimistas tendem a convergir para o fato de que o pior ponto da recessão já foi atingido. Para o futuro, interessa saber a rapidez com que a economia poderá sair do buraco e voltar a crescer e com que intensidade. O terreno continua movediço e a melhoria das apostas na evolução do PIB para 2017 tem sido movida basicamente por expectativas, que podem ou não se concretizar.
Os dados de trimestre contra trimestre imediatamente anterior, com ajuste sazonal, foram ligeiramente piores do que o previsto por economistas consultados peloValor. O resultado foi puxado para baixo, do lado da oferta, pelo setor de serviços (peso de 72% no PIB). Pelo lado da demanda, o consumo do governo se tornou negativo e a contribuição do setor externo foi menor, ao contrário dos trimestres anteriores, devido a uma reação das importações (4,5%). A formação bruta de capital fixo deu um promissor alento, com avanço pequeno de 0,4%, ao encerrar o longo período de dez trimestres de queda. A contribuição da indústria, na mesma comparação, foi positiva (0,3%), indicando reação modesta, mas reação de qualquer forma.
Não há uma tendência consistente de melhoria dos componentes do PIB, o que torna bem possível um novo resultado negativo no terceiro trimestre. O setor de serviços, que registrou quedas seguidamente menores nos quatro trimestres anteriores, teve recuo maior agora. O consumo do governo (com peso de 20%) tinha sido mais positivo que negativo nos últimos trimestres e voltou a cair. Com a valorização cambial, a contribuição do setor externo, que impediu recessão ainda mais vigorosa, tende a decair. Há indicação favorável no consumo das famílias, (peso de 63,4%) com ritmo de queda seguro ao longo de cinco trimestres encerrados em junho.
O crescimento tende assim a ser bastante modesto. O consumo das famílias não deve se recuperar tão logo, pois a massa salarial continua a cair, o desemprego ainda subirá, embora com menor velocidade e o crédito permanecerá muito apertado até o fim do ano.
Já a indústria teve resultado positivo no segundo trimestre, pode repetir essa performance nos próximos meses, dependendo do avanço dos investimentos e do comportamento do setor externo. Mas seu peso é de 11,4% na formação do PIB, ou pouco mais de um sexto da contribuição dos serviços, que determinam a força do crescimento. É preciso uma melhoria significativa desse setor para uma recuperação mais robusta.
O setor de serviços é um híbrido que depende do comportamento da indústria e do consumo. Seus dois maiores subitens (com pouco mais de 17% de peso) são "outros serviços", que abrigam alguns serviços industriais e administração, educação e saúde pública. Em terceiro vem o comércio e depois as atividades imobiliária e a intermediação financeira. No primeiro semestre do ano, em relação ao mesmo período de 2015, apenas as atividades imobiliárias não se retraíram (com avanço de 0,1%), enquanto o comércio lidera as quedas, com -8%. Há fortes recuos em transporte e armazenagem (-7%) e serviços de informação (-4,4%) e outros serviços (-3,8%), todos amarrados em grande parte ao desempenho da produção industrial.
Assim, uma reação da indústria deve puxar também o setor de serviços e quem espera um PIB um pouco maior em 2017 conta com o impulso dos investimentos. Ele já propiciou a tênue melhora da produção de bens de capital, mas a grande capacidade ociosa na indústria é um limitante para sua expansão e a taxa de juros, outro. Uma recuperação baseada nos investimentos tende a ser mais lenta e menos vigorosa se não for acompanhada pelo avanço do consumo. Não se espera que o consumo se recupere tão cedo, embora seja importante que ele pelo menos pare de cair.
A taxa de juros poderia ser um fator de estímulo relevante, mas com alguma piora na inflação em julho o Banco Central pode deixar para o fim do ano o início do ciclo de baixa dos juros, ou apenas para o ano que vem. No projeto orçamentário, o governo viu alguma redução em 2016 (juro Selic acumulado de 14%) e queda mais intensa em 2017 (12,1%), com uma inflação bem menor (4,8%) - isto é, juro real ainda muito alto.
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