General Mourão é desautorizado pelo cabeça de chapa, que tem alta hospitalar adiada devido a infecção
O general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), deflagrou uma crise na campanha ao atacar publicamente o décimo-terceiro salário e o abono de férias, qualificando os benefícios como “jabuticabas brasileiras” e “uma mochila nas costas de todo empresário”. Os candidatos rivais condenaram a fala de Mourão. Nas redes sociais, o general foi desautorizado pelo cabeça de chapa. No fim da tarde, Mourão divulgou nota amenizando o tom das críticas. A alta hospitalar de Bolsonaro, prevista para hoje, foi adiada devido a uma infecção bacteriana.
MAIS UMA CRISE
Mourão critica 13º salário, e Bolsonaro vai à internet para desautorizá-lo
Jussara Soares | O Globo
SÃO PAULO - Uma nova crise se instalou na campanha do candidato à Presidência do PSL, Jair Bolsonaro, após mais uma declaração polêmica de seu vice, general Hamilton Mourão (PRTB). Dessa vez, o militar da reserva criticou o pagamento de 13º salário e do abono de férias aos trabalhadores. Ele já havia dito que casas com apenas mães e avós seriam uma “fábrica de desajustados”, assim como defendeu uma nova Constituição, elaborada apenas por notáveis.
O mais recente episódio envolvendo Mourão na campanha presidencial deixou Bolsonaro contrariado. Interlocutores do PSL afirmam que o general já havia sido advertido outras três vezes pelo cabeça de chapa para que fosse mais comedido em suas palestras e evitasse temas controversos para poupar a candidatura.
Acrítica de Mourão ao pagamento do 13º salário e do abono das férias ocorreu na última quarta-feira, durante uma palestra na Câmara de Dirigentes Lojistas de Uruguaiana (RS). Na ocasião, o militar comparou os benefícios trabalhistas a “jabuticabas brasileiras.” Ou seja, algo que só existe no Brasil.
Mourão também afirmou que é preciso enxugar o tamanho do Estado e fazer um ajuste nas contas públicas, hoje deficitárias. Para isso, defendeu, é preciso “procurarmos formas de renegociarmos os juros da dívida pública”.
—Temos algumas jabuticabas que agentes abeque são uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12 (meses), como é que nós pagamos 14? É complicado. E (o Brasil) é o único lugar em que a pessoa entra de férias e ganha mais —disse Mourão, no evento.
Logo que a notícia foi divulgada, o presidenciável ligou para seu companheiro para repreendê-lo. Em seguida, foi ao Twitter para desautorizá-lo e expor publicamente sua contrariedade. “O 13° salário do trabalhadores tá previsto no art .7° da Constituição em capítulo das cláusulas pétreas (não passível de ser suprimido sequer por proposta de emenda à Constituição). Criticá-lo, além de uma ofensa a quem trabalha, confessa desconhecera Constituição”, escreveu o presidenciável, que pela primeira vez manifestou contrariedade publicamente com o vice.
Segundo Bolsonaro, Mourão tem quedar explicações e defende rate sede que suas declarações eram de cunho pessoal, e não um posicionamento da campanha. Agora, o candidato quer que o vice compareça a debates para que explique suas declarações públicas. Durante o dia de ontem, a campanha chegou a cogitar afastá-lo dos eventos com os adversários. Mourão é esperado, segunda-feira, no programa “Roda Viva”, da TV Cultura. No dia seguinte, o SBT promove um debate com os candidatos a vice.
O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, reforçou que a crítica aos benefícios é uma posição pessoal do militar, e não um plano de governo:
— Essa não é uma proposta da campanha do Jair Bolsonaro ou do Paulo Guedes. Não há nada sobre acabar com o 13º salário ou férias. Isso é uma posição pessoal do (General) Mourão.
No final da tarde, o vice de Bolsonaro divulgou nota amenizando suas declarações. Afirmou que acrítica feita ao 13º salário e ao adicional de férias não significa uma proposta de mudar os benefícios. Mourão reclamou que afala terias ido “descontextualizada ”.“O contexto foi em torno do planejamento gerencial necessário para que o 13º salário seja pago, ou seja, governos e empresários devem reservar, ao longo do ano, recursos de modo afazer frente à despesa. Trata-se de um custo social, que faz parte do chamado custo Brasil”, diz trecho da nota.
Entre assessores próximos de Bolsonaro, o entendimento é que Mourão não age por “deslealdade” ou por “conspiração”, mas por “ingenuidade política”. Apesar de causar mal-estar, nenhum integrante da campanha disse que a escolha de Mourão possa ter sido um erro em razão de seu protagonismo enquanto Bolsonaro está internado. Uma possível substituição também não foi cogitada na campanha. Segundo a legislação, são válidas substituições de candidatos somente se o pedido for apresentado até 20 dias antes da eleição, exceto em caso de falecimento de candidato.
ALTA ADIADA
Entre generais do Exército, entusiastas da candidatura de Bolsonaro, anova polêmica envolvendo Mourão foi considerada “horrível”, “desnecessária” e “desastrosa”. Eles passaram o dia discutindo a necessidade de Mourão afastar-se da campanha, já que, no entendimento deles, o vice está “atrapalhando”.
Ontem, a equipe médica do hospital Albert Einstein decidiu que Jair Bolsonaro permanecerá mais um ou dois dias internado para continuar um tratamento prolongado de antibióticos. A alta estava prevista para hoje.
Os médicos informaram que foi constatada uma infecção bacteriana, diagnosticada após a retira dado cateter. (colaborou Vinicius Sassine)
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