O Globo
O ministro Fernando Haddad e os çábios que o
circundam tiveram uma ideia. Nas suas palavras:
— Nós fizemos pela oportunidade de fazer um
combo, prevendo receita, bloqueio, contingenciamento, mas essas medidas estão
sendo analisadas há mais de um ano.
Traduzindo, o “combo”, refinada versão do
velho truque de dar uma martelada no cravo e outra na ferradura, queria
prometer redução de gastos (em tese) e aumento de um imposto (de fato). Deu no
que deu. O Congresso sinalizou que não digere o sanduíche, o Banco Central
reclamou porque não foi ouvido, e a encrenca pousou na falta de coordenação
política do governo.
Haddad conhece a velha lição, segundo a qual fazer de novo uma experiência esperando que venha um resultado diferente é sinal de que alguém está com um parafuso solto.
Em outubro do ano passado, a ekipekonômica
pôs na mesa outro combo. Batendo no cravo, conteria os supersalários. Indo à
ferradura, confiscaria parte do seguro-desemprego dos trabalhadores demitidos
sem justa causa. Assim como o Banco Central não foi ouvido adequadamente, no
combo do IOF, no do confisco do seguro-desemprego não ouviram o Ministério do
Trabalho. O sanduíche não foi servido.
Faz tempo. As ekipekônomicas operam num mundo
fantástico. Presumindo-se onipotentes, manipulam ilusões. O combo do ano
passado atolou antes de sair da cozinha, o do IOF levou a um atrito com o
Congresso.
Desde seu primeiro dia no Ministério da
Fazenda, o ministro Haddad sabe que as contas públicas não fecham e que seus
colegas de ministério não querem cortar gastos. Promete aumentos de arrecadação
ilusórios e festeja minudências. O único gasto cortado pelo governo foi a
compra de um novo avião com chuveiro para Lula.
Os problemas fiscais do governo não serão
resolvidos com combos ou fantasias semelhantes. Encurralado pelo Congresso,
Haddad pareceu ter aceitado a ideia de uma reforma administrativa. Beleza, mas
logo sacou o velho combo do ano passado:
— Nós já mandamos algumas dimensões da
reforma administrativa que, na minha opinião, deveriam preceder toda e qualquer
votação, que é a questão dos supersalários.
Os supersalários embolsados pelo Judiciário
são uma praga difícil de corrigir. Vale a pena tentar, mas um Executivo que
bomba os vencimentos de seus ministros e hierarcas aninhando-os em conselhos
entra na discussão capengando.
Falta ao governo a sinalização de compromisso
com a austeridade. Aqui e ali revelam-se lances nos quais, em vez de poupar,
esbanja. As farofas que levam ministros a feriadões no circuito Elizabeth Arden
passam ideia de turismo perdulário. É verdade que essas boquinhas fazem mais o
gosto do Judiciário, mas o Executivo acaba enfeitando-as.
O lado trágico dessa feira de ilusões está na
exposição de um governo que gasta demais, porém cuida do andar de baixo. É
contra as políticas sociais de Lula que o andar de cima brande o estandarte da
austeridade. No combo do ano passado, os çábios queriam tungar desempregados.
A nova expressão da moda é a “reforma
estruturante”. Não quer dizer nada, porque o que está estruturado é o
privilégio, a boquinha.
Lula foi à França, e anuncia-se
que levou uma agenda para discutir a COP30. Tudo bem, a Cidade Luz tem um belo
cenário, mas a Conferência da ONU será
em Belém, com seus conhecidos problemas logísticos.
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