O Estado de S. Paulo
Projeto orçamentário de Trump, com corte de impostos e alta de gastos, vai chacoalhar o mercado
Em meio às reviravoltas dos anúncios sobre as
tarifas de importação dos Estados Unidos, levando os mercados globais a uma
vertiginosa montanha-russa, mais uma turbulência deve chacoalhar os
investidores ao longo das próximas semanas, quando tramita pelo Senado
americano o projeto orçamentário do presidente Donald Trump com a proposta de
cortes de impostos e aumento de gastos.
O projeto, apelidado por Trump de “big beautiful bill”, passou pela Câmara dos Deputados por um único voto de diferença. Do jeito que o texto saiu de lá, as projeções são de que o projeto vai elevar o déficit fiscal dos EUA em quase US$ 3 trilhões ao longo da próxima década e aumentar em quase US$ 4 trilhões a dívida do governo federal, atualmente ao redor de US$ 36 trilhões.
Não à toa, o calafrio dos investidores. A
questão para o mercado, agora, é se os senadores americanos vão se rebelar e
mexer no texto, limitando a trajetória do aumento do déficit orçamentário. O
partido de Trump também controla o Senado, mas há um grupo de senadores
republicanos extremamente conservadores em termos fiscais. Eles podem não
endossar o plano do presidente. A expectativa é de que o voto no Senado
aconteça até o fim de julho, antes do tradicional recesso parlamentar em
agosto.
Se a vontade de Trump prevalecer, com a
trajetória do déficit e da dívida federal dos EUA considerada explosiva demais
pelos investidores, o risco é de uma tempestade nos mercados globais, afetando
drasticamente o valor do dólar e o nível dos juros dos títulos públicos mundo
afora.
Hoje, a dívida federal em posse do público
corresponde a 100% do PIB americano. Mas esse número poderá atingir 130% em
2034 caso os cortes atuais de impostos se tornem permanentes, nos cálculos da
Kínitro Capital, que fez estudo sobre o impacto fiscal do projeto orçamentário
e da política tarifária de Trump. Conforme o estudo, já em 2026 o déficit deve
subir 1,2 ponto porcentual, com o corte de impostos (0,6 ponto) e o aumento de
despesas (0,6 ponto).
“A política fiscal pode se tornar
significativamente expansionista em 2026, contribuindo com cerca de 1 ponto
porcentual para o PIB”, diz o economista-chefe da Kínitro, Sávio Barbosa, para
quem o crescimento da economia americana pode superar 2% em 2026.
Esse cenário dificulta o trabalho do Federal
Reserve (Fed), que vinha cortando os juros nos EUA, e põe em xeque a aposta de
mais dois cortes da taxa básica neste ano. Esse alívio poderia melhorar a
liquidez mundial e ajudar países emergentes, como o Brasil.
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