O Estado de S. Paulo
Decretar a prisão da deputada é obrigação da Corte, que não pode tolerar o escárnio da ré
A deputada Carla Zambelli foi condenada pelo
STF a dez anos de prisão por invadir dispositivo informático e falsidade
ideológica. Mas recebeu o benefício de aguardar o trânsito em julgado da pena
em liberdade, apesar da gravidade do caso – falsificar documentos do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ).
Ela alega sofrer perseguição da Justiça. Trata-se de tema que a deputada conhece bem. De pistola em punho, caçou um eleitor petista pelas ruas de São Paulo, na véspera da eleição de 2022. Fazia-se acompanhar de brutamontes, um dos quais fez um disparo durante o cerco ao alvo.
Jair Bolsonaro nunca perdoou Zambelli.
Imputou àquela cena a sua derrota. Na época, a Corte decidiu bastar apreender
as armas que ela tinha em seu nome para garantir a ordem pública e a instrução
processual. Em liberdade, ela respondeu ao processo – no qual já há maioria de
votos no STF para condenála – por porte ilegal de arma de fogo e
constrangimento ilegal.
Ela também pôde responder em liberdade ao
processo em que era acusada de contratar o hacker Walter Delgatti para violar
os sistemas eletrônicos da Justiça. Como não conseguiram invadir as urnas do
TSE, incluíram documentos falsos no sistema do CNJ. Ela teria “adulterado dados
de documentos como certidões, mandados de prisão, alvarás de soltura e quebras
de sigilo bancários, com o objetivo de prejudicar a administração do Judiciário
e a credibilidade das instituições e gerar vantagens políticas à parlamentar”.
Um dos documentos falsos inseridos foi um
mandado de prisão contra Alexandre de Moraes. Ao condená-la, Moraes, o relator
do processo no STF, escreveu que os fatos representavam “a tentativa de
desmoralização do Poder Judiciário por meio da exposição de supostas
fragilidades em seus sistemas, seguida de atos concretos de violência contra as
instituições”.
Na manhã de ontem, o País foi surpreendido
pela notícia de que a deputada se evadiu para a Europa, a pretexto de tratar da
saúde. Avisou que lá vai ficar. E se comparou a Eduardo Bolsonaro, deputado que
nem foi denunciado. Antes, fez uma vaquinha online e arrecadou R$ 166 mil. A
deputada não rasga nota de cem nem toma ônibus errado. É responsável por seus
atos.
Eduardo também se diz perseguido por Moraes.
Ele pode ser quem é, mas nunca ameaçou ninguém de arma em punho. A deputada
quer escapar da aplicação da lei penal. Nem foi preciso esperar o parecer da
Procuradoria da República para saber que ali havia razão suficiente para a
decretação da prisão preventiva da ré. A Justiça brasileira não pode permitir
esse último escárnio. Se tiver juízo, nem Bolsonaro deve querer que seu caso se
confunda com o da deputada.
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