O PT tem grande responsabilidade na produção do ambiente que reduziu o debate político à cruzada da moralidade. Durante anos, fez disso sua principal bandeira, como se o combate à corrupção fosse, em si, uma ferramenta de mudança social.
A palavra corrupção talvez seja a que tenha obtido o maior número de registros no debate e no noticiário políticos dos últimos anos. Neste momento, sem dúvida, é campeã. Desde 2 de agosto, ela reverbera no plenário do STF, onde são julgados os réus da ação penal do chamado mensalão. Na campanha eleitoral, está na boca de candidatos de todos os partidos, tenham mãos limpas ou enluvadas pela hipocrisia. No Sete de Setembro, um conjunto de entidades da sociedade civil realizou na Esplanada uma marcha contra a corrupção. Ela é, de fato, um mal entranhado na vida pública brasileira e precisa ser combatida e controlada. O exercício da cidadania pressupõe a exigência dos direitos, a observância dos deveres, a vigilância dos governantes e a punição dos que se valem da coisa pública em proveito próprio. Mas eleger a corrupção como causa de todos os males produz alienação e despolitização, que enfraquecem a cidadania.
O que transforma uma sociedade são as políticas públicas corretas e o comprometimento dos agentes privados, observados os valores éticos. Se tudo é reduzido à corrupção, problemas como educação, saúde, segurança, violência, drogas, economia e política externa deixam de ser discutidos.
Há anos os escândalos se sucedem e, encerradas as investigações, parlamentares ou policiais, consumadas as cassações ou as condenações judiciais, não acontece nada, no plano legislativo ou normativo, para fechar os vãos ou as brechas que permitem irregularidades. Nada de reforma política, de mudança no financiamento das eleições, nenhuma atualização na Lei das Licitações e muito menos na gestão e na execução dos orçamentos públicos. O Ministério Público, a Polícia Federal e a imprensa passam a procurar um novo escândalo, restando à sociedade novo momento de indignação. Quem está na oposição política, seja quem for, com seus escândalos já arquivados, passa a surfar a onda.
A ditadura teve como um de seus pretextos o combate à corrupção, que acabou vicejando em seu interior, ao lado de aberrações como a censura, a tortura e a morte dos divergentes. Mas, como a informação era controlada, a percepção da corrupção era quase nula. Na democracia, sob a vigência plena da liberdade de imprensa e de expressão, como hoje, todos os ilícitos acabam revelados, produzindo escândalos em série. O partido que por anos liderou a cruzada anticorrupção, chegando ao governo reeditou um mecanismo de financiamento da política, gestado pelo mesmo Marcos Valério, num governo do PSDB. Dizer que é o maior da história, é apelação política, mas, sem dúvida, nenhum outro mereceu tanta atenção da mídia, de uma certa sociedade civil e do Judiciário.
O PT tem grande responsabilidade na produção do ambiente que reduziu o debate político à cruzada da moralidade. Durante anos, fez disso sua principal bandeira, como se o combate à corrupção fosse, em si, uma ferramenta de mudança social. Aliado a procuradores, policiais federais e jornalistas, produziu muitas denúncias. Caiu na própria armadilha, reconhecem hoje alguns dirigentes.
O Supremo emite sinais de que fará uma ampla e pesada distribuição de castigos. Os ministros serão aplaudidos. Joaquim Barbosa, endeusado. A condenação de pessoas que, num passado não muito distante, desfrutariam da impunidade, terá seu valor pedagógico. Mas se não forem atacadas as raízes do escândalo, ficaremos com a magia da palavra corrupção, não com a eficácia do julgamento.
Desgostos com Dilma. O empresário Jorge Gerdau fala mais facilmente com a presidente, esteja ela onde estiver, que um dirigente petista. Os movimentos sociais, e não apenas os funcionários que fizeram greve, são hostilizados pelo governo. O influente advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, editou uma portaria que violenta a legislação sobre terras indígenas. Proíbe a ampliação das reservas e autoriza a implantação de hidrelétricas e estradas nessas áreas sem consultas às populações afetadas. O STF editou acórdão nestes termos, mas restrito à Raposa Serra do Sol. A excessiva centralização esvazia a autoridade dos ministros, trava decisões e impede acordos parlamentares, como ocorreu em relação ao Código Florestal. Estas são algumas das queixas do PT e dos partidos aliados em relação ao governo Dilma. Agora, querem só fotos e gravações com ela, mas quando a eleição passar, o PT quer discutir os rumos do governo. Mas há quem preveja o oposto: uma guinada mais conservadora.
Ainda o maior. O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, garante: mesmo elegendo poucos prefeitos de capitais, seu partido continuará sendo o maior em número de prefeituras, devendo conquistar mais de mil. Essa capilaridade é perspectiva de poder. Prefeitos é que elegem deputados e senadores.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário