Maria Lima
BRASÍLIA - Às
vésperas da posse do ministro Joaquim Barbosa na presidência do Supremo
Tribunal Federal (STF), que ocorrerá hoje, o ex-ministro José Dirceu, principal
réu do mensalão, chegou anteontem à capital federal para arregimentar apoios.
Segundo interlocutores, Dirceu resolveu partir para o ataque. Em almoço que
reuniu 15 deputados petistas na casa do líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto
(SP), Dirceu pediu a mobilização dentro e fora do PT, nos segmentos
organizados, principalmente movimentos jovens, estudantis e formadores de
opinião, para esclarecer "pontos nebulosos" do processo de julgamento
da ação penal número 470.
Entre os presentes no
almoço organizado com lista de adesão pelo deputado Ricardo Berzoini (PT-SP),
estava o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na noite
anterior, Dirceu se reuniu com o presidente da União Nacional dos Estudantes
(UNE) Daniel Iliescu, com o presidente da União da Juventude Socialista (UJS)
André Tokarski, e com Jefferson Lins, presidente da Juventude do PT, que teriam
prometido organizar atos em defesa de Dirceu a partir de dezembro.
- É preciso relembrar
fatos que não apareceram no julgamento, como funcionava o Congresso naquela
época, as dificuldades nas votações, reuniões até tarde da noite em busca de
acordo, para deixar claro que não houve compra de votos - pediu Dirceu, ontem.
Os organizadores do
almoço contrataram o bufê de um badalado restaurante da capital. Mas o cardápio
da pesada cozinha mineira não apeteceu muito o ex-chefe da Casa Civil. Seu
filho, deputado Zeca Dirceu (PT-PR), disse que ele comeu pouco e rejeitou os
doces, porque está preocupado em cuidar da saúde para enfrentar o que vem pela
frente.
- Os inimigos do meu
pai querem tirá-lo da política. Mas a saúde dele vai ajudar que ele atravesse
isso. Minha avó tem 92 anos e está lúcida. Ele só tem 66, tem muito tempo pela
frente. O tempo é o senhor da verdade. A História já foi recontada várias vezes
e mais uma vez será recontada por meu pai - disse Zeca Dirceu.
Sobre o silêncio do
ex-presidente Lula sobre a condenação, Zeca minimizou:
- Toda solidariedade
e apoio nesse momento é importante. Lula está fazendo a parte dele, não precisa
aparecer agora.
Chinaglia, como
outros presentes, mostraram-se constrangidos com a presença de jornalistas na
saída do almoço. Correndo em direção ao carro, ele disse que não tinha ido ao
almoço de Dirceu, mas à casa de Jilmar Tatto:
- Tenho que voltar
correndo para a Câmara. Converse com outros deputados. Eu não acompanhei todo o
evento.
Outros deputados
deram declarações parecidas:
- Eu não vim para
almoço de Zé Dirceu. Vim matar a fome. Mas o PT apoia todos os seus militantes
- disse o deputado Luiz Alberto (PT-BA).
A mais incomodada era
a deputada Benedita da Silva (PT-SP), que saiu correndo para o carro quando
abordada pelo GLOBO:
- Vocês acham que Zé
Dirceu está abandonado, meu Deus do céu! Não está, não!
Questionada se estava
envergonhada de participar do ato de apoio, afirmou:
- Vergonha do Zé
Dirceu? Que isso? Jamais!
E completou:
- Preocupado com a
pena? De jeito nenhum, Dirceu é cabeça feita.
Muitos, inclusive
Dirceu, Tatto e Berzoini, saíram pela garagem. Dirceu continua os contatos
políticos em Brasília até amanhã. Ele também tem compromissos sociais e
familiares.
Fonte: O Globo
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