A primeira greve
geral do período kirchnerista acaba de dizer à presidente da Argentina que a
sua versão dos fatos já não é comprada por boa parte da população. É a mesma
mensagem do "caçarolaço" de semanas atrás, e que levou um milhão de
pessoas às ruas das principais cidades argentinas. A greve geral, comandada
pelos sindicatos em oposição ao governo, tinha como um de seus temas principais
a taxa de inflação, que a Casa Rosada manipula, o que significa um confisco
monetário aplicado aos aposentados e às classes mais pobres da população.
Face a essa
insatisfação que vai deixando de ser silenciosa, o governo até agora opta pelo
confronto. "Vamos por tudo" - é a declaração de guerra da presidente.
E todas as armas são usadas nessa direção. Tenta-se a todo custo desmontar o
equilíbrio dos Poderes (a esta altura já bastante afetado). Ataca-se o Conselho
de Magistratura. Casos polêmicos que interessam ao Estado vão sempre parar,
misteriosamente, nas mãos dos mesmos juízes.
A economia
desacelera, sem que se possa falar em descalabro iminente. Há três câmbios, e o
paralelo já está perto de 7 pesos por dólar.
O clima geral é de
opressão indisfarçável. Toda crítica, venha de onde vier, é tomada como
demonstração de hostilidade. Criou-se o maniqueísmo total: ou você é aliado, ou
é inimigo da democracia, e merece todas as punições. Como instrumento de
pressão atuam os agentes do Fisco, prontos para desembarcar em qualquer empresa
que se dê ao luxo de reclamar.
O jornalismo tradicional
passa a ser o inimigo número um. O que se quer é o jornalismo militante, que
trabalhe como força auxiliar do governo. Trata-se não de lidar com a realidade,
de tentar compreendê-la, e sim de impor uma ideia. Se a realidade não combina
com isso, pior para a realidade.
Nesse clima, que é
quase de terror, não sofre apenas o jogo político. Espalha-se uma atmosfera de
fanatismo que entra até nos meios familiares - amigos e parentes que deixam de
se falar porque têm opiniões contrárias. O que se tenta, sem muito disfarce, é
desarticular a própria máquina do Estado, de modo que todas as manipulações
sejam possíveis.
Tudo será feito para
tentar destruir realidades como o jornalismo independente. É o caso da
"Lei de Medios", que trata das comunicações, e que, contra o grupo
"Clarín", acena com o já famoso 7 de dezembro - data em que o grupo
teria de abrir mão de parte de suas operações. É um assunto que está sendo
tratado na Corte Suprema, e, em tese, uma vez confirmado o prazo, o
"Clarín" teria pelo menos um ano para adaptar-se às novas regras. Mas
há o temor de que isto seja atropelado pelos fatos, tão grande é a sanha do
oficialismo em relação ao grupo.
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