Para Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP, a decisão do STF "restaura a confiança em um julgamento justo".
Qual o impacto político da decisão sobre os embargos?
Sou a favor de um julgamento justo. Pouco importa o impacto político. Acho justíssima a decisão. É totalmente descabido não permitir que um julgamento inicial seja reconsiderado. É óbvio que a extrema direita vai fazer muito uso disso. Mas o clima de ódio que se instalou é limitado. Não há pizza. Os réus estão condenados e assim continuarão.
O sr. já disse que o julgamento não teve caráter pedagógico.
Pelo caráter espetacular do julgamento, não se passou a ideia de que estava fazendo justiça. O julgamento dos embargos, paradoxalmente, cria condições de aceitação de uma sentença condenatória. Para mim importa que haja convicção de que foi feita justiça. Quem vai decidir a legitimidade do julgamento é quem, embora não goste do resultado, acate que foi justo.
Como sai o STF dessa etapa?
A decisão dos 6 a 5 restaura um pouco da confiança que eu tinha perdido no Supremo. Tive a impressão de um julgamento político no mau sentido. Me pareceu exagerado, com sentenças excessivas.
Eleitoralmente, quais as consequências da continuidade do julgamento do mensalão?
Para o PT o melhor cenário eleitoral seria decidir ágora e desmoralizar a sentença. Uma sentença sem recurso é uma sentença capenga. Politicamente para José Dirceu o melhor cenário era não poder recorrer. Isso ofereceria uma auréola de mártir. Por outro lado a oposição já fez todo o uso que poderia fazer. Não acredito que ela ganhe novos votos. As paixões estão muito acirradas. Numa situação dessa, a mudança de voto é pequena porque a capacidade de persuasão é pequena. Não acho que esse vá ser um grande assunto na campanha.
Quem é
É mestre e doutor em Filosofia, pela Universidade Paris 1 e pela Universidade de São Paulo. Também é professor titular de Ética e Filosofia Política da USP.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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