Eduardo Campos diz a Dilma que seu partido apoiará o Planalto apenas no que considerar de interesse do país
BRASÍLIA - Um strike, com todos os pinos derrubados. Essa foi a imagem que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PE), tentou passar ao explicar que o rompimento da aliança de dez anos e nove meses entre seu partido, o PSB, e o PT não se resume à simples entrega de cargos feita ontem à presidente Dilma Rousseff.
Para Campos, que disse a Dilma querer ficar mais livre para trabalhar a candidatura do PSB à Presidência da República e também evitar uma confusão na cabeça do eleitor, é preciso ficar claro que seu partido deixa o governo e que, agora, só vai apoiá-lo naquilo que considerar como sendo de interesse do país.
Embora a cúpula do PT e a própria Dilma tenham admitido que foram pegos de surpresa pela decisão que o PSB anunciou ontem, a presidente tentou deixar aberto um canal de diálogo com Eduardo Campos. Enxerga nisso uma possível aliança de segundo turno para as eleições do ano que vem.
A conversa, que seguiu em tom cordial, aconteceu no Palácio do Planalto e durou cerca de lh30m, Campos fez uma espécie de desabafo sobre os pontos que levaram ao rompimento da aliança. Disse que estava entregando os cargos devido às acusações de fisiologismo e de que estaria mudando de lado, em referência à sua aproximação ao pré-candidato do PSDB, o senador Aécio Neves (MG).
Em reunião extraordinária, a Executiva Nacional do PSB chancelou a decisão de entregar os ministérios da Integração Nacional e dos Portos, além de cargos de segundo escalão, como a presidência da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). O único voto contrário foi do governador Cid Gomes (CE). A expectativa no partido é que ele deixe a sigla, o que abre a possibilidade de o ministro Leônidas Cristino (Portos), que é da cota dos Ferreira Gomes, permanecer no governo.
— Tentaram colocar no partido o carimbo de fisiológico e de que estávamos mudando de lado. Essa decisão busca não colocar o partido na vala comum — disse Campos a Dilma, de acordo com integrantes do PSB que conversaram com ele após a reunião no Planalto.
Campos entregou à presidente uma carta aprovada pela Executiva Nacional do PSB e disse que a decisão deixaria Dilma mais confortável, evitando cobranças de outros partidos da base, em referência ao PT e ao PMDB. Também afirmou que a saída do governo também deixaria os socialistas mais livres para discutir a candidatura própria à Presidência.
— Essa decisão deixa o partido mais à vontade para fazer o debate da candidatura própria. Teve o voto contrário do Cid (Gomes), mas a vontade do partido é essa. Se isso vai ser possível (a candidatura própria), só o tempo vai dizer — disse Campos à presidente.
Dilma, por sua vez, teria afirmado que lamentava esse desfecho, mas que entendia. Segundo relatos feitos por Campos a integrantes do PSB, a presidente teria dito que achava legítima a posição do partido e que os dois não podem perder a capacidade de diálogo. A presidente também teria afirmado que Campos sabe do carinho que ela tem pelos "companheiros" do PSB e teria dito que tinha grande admiração por seu avô Miguel Arraes:
— Eu lamento, mas compreendo a decisão do PSB. As portas do governo e do Planalto estarão sempre abertas para nosso aliado de longa data — disse Dilma a Eduardo Campos no encontro, que não foi aberto nem a fotógrafos.
Na carta entregue a Dilma, Campos deixou clara a irritação do partido com o aumento da pressão, nos últimos dias, para que o PSB desembarcasse do governo devido à sua movimentação para consolidar sua pré-candidatura, às críticas feitas por ele à gestão petista e à aproximação com o tucano Aécio Neves. "Neste momento, temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por comentários e opiniões, jamais negadas por quem quer seja, de que o PSB deveria entregar os cargos que ocupa na estrutura governamental, em face da possibilidade de, legitimamente, poder apresentar candidatura à Presidência em 2014" afirma a carta entregue por Campos a Dilma.
O presidente do PSB telefonou para o ex-presidente Lula, na noite anterior, avisando da decisão que seria chancelada pela Executiva Nacional do PSB. Lula vinha tentando conter o PT e aconselhou Dilma a não hostilizar Campos. O ex-presidente defendeu que Dilma só fizesse mudanças no Ministério em janeiro.
Após a reunião da Executiva, mas antes de ser recebido por Dilma, o presidente do PSB afirmou que o desejo do partido hoje é ter candidato a presidente da República, mas que essa decisão só será sacramentada no ano que vem. Ele afirmou que o partido continuará apoiando o governo no Congresso nas questões que considerar pertinentes:
— Não vamos entrar na oposição. Vamos dar apoio no que acharmos que for correto.
O ministro Fernando Bezerra Coelho (Late-gração Nacional), afilhado político de Campos, afirmou que pediria uma audiência à presidente logo após o encontro dela com o governador de Pernambuco. A expectativa era de que Bezerra Coelho entregasse sua carta de demissão ainda ontem, o que não tinha ocorrido até o fechamento desta edição. O ministro dos Portos não participou da reunião da Executiva porque estava no Panamá.
— Eu vou na seqüência pedir uma audiência para agradecer a possibilidade de ter servido ao país e dizer que estou atendendo a uma recomendação do partido — disse Bezerra Coelho.
Único dos presentes a votar contra a ruptura imediata, o governador do Ceará, Cid Gomes, não quis fazer comentários sobre a decisão do partido. Segundo alguns dos presentes no encontro, Cid reclamou do momento em que a decisão está sendo tomada, mas não ampliou sua defesa.
— Foi aprovado com meu voto contra. Não acho oportuna (a decisão), mas não vou comentar — afirmou Cid Gomes, dizendo que o ministro da Secretaria dos Portos também deixará o governo.
Fonte: O Globo
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