Em reunião com a presidente, governador de Pernambuco, pré-candidato em 2014, entrega carta com queixas
Decisão de abrir mão de dois ministérios e postos de segundo escalão surpreendeu o Planalto e a cúpula petista
Natuza Nery, Ranier Bragon
BRASÍLIA - Aliado do PT desde 1989, o PSB anunciou seu desembarque do governo federal, dando o primeiro passo concreto da candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Ontem, na saída do encontro com a presidente Dilma Rousseff, Campos ouviu a seguinte frase de despedida, segundo interlocutores: "As portas estão abertas".
A decisão de abrir mão dos dois ministérios (Integração Nacional e Portos) e demais cargos do segundo escalão surpreendeu tanto o Palácio do Planalto quanto a cúpula do PT, ambos incomodados com a movimentação recente de Campos e seus flertes com o adversário PSDB.
Internamente, acreditava-se que o PSB ficaria instalado no Executivo federal até sua expulsão pela presidente da República.
Nos últimos meses, o partido elevou suas críticas ao governo sem cogitar deixar a Esplanada. Quem possuía cargos na capital ou dependia do apoio do PT nos Estados resistia à separação. Mas o temor à pecha de "fisiológico" precipitou a saída.
Nos bastidores, ministros e dirigentes petistas se queixavam da dubiedade do PSB: "De dia é governo; de noite, oposição".
Na carta entregue por Campos para a presidente, a sigla reclamou: "Temos sido atingidos, sistemática e repetidamente, por comentários e opiniões, jamais negados por quem quer que seja, de que o PSB deveria entregar os cargos". Na conversa com Dilma, Campos repetiu a queixa.
"Eu nunca fiz isso", respondeu Dilma, de acordo com interlocutores.
Não houve momento tenso na reunião. Nem mesmo quando Campos escancarou a resistência interna. Ele disse que, mesmo não sendo candidato, teria dificuldades de levar o apoio do PSB a ela.
Mais cedo, após a reunião da Executiva Nacional que sacramentou a despedida, o governador de Pernambuco deu sinais de seu projeto: "A decisão sobre candidatura própria é só em 2014, [mas] o desejo hoje do partido é pela candidatura própria".
Pró-governo
Apesar de o PSB entregar os cargos, Campos reafirmou que continuará defendendo o governo no Congresso.
Na sigla, a proposta de desembarque só teve oposição do governador do Ceará, Cid Gomes. Ele disse considerar "intempestiva" a ruptura e preferiu se abster na votação.
Prometeu reunir o PSB do Ceará para decidir o que fazer. O ministro de Portos, Leônidas Cristino, é seu afilhado político. Para seguir na pasta, terá de se afastar do PSB.
O Palácio do Planalto demorou para confirmar a reunião da presidente com Campos. Quando o fez, após o fim, limitou-se a dizer: "A presidente se reuniu com o governador Eduardo Campos, recebeu sua carta e voltou à sua agenda oficial".
Colaborou Tai Nalon, de Brasília
Fonte: Folha de S. Paulo
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