O 18 de setembro ficará marcado como o dia em que os condenados no processo do mensalão tiveram o primeiro refresco no Supremo Tribunal Federal (STF). Mas nem tudo o que é bom para os "mensaleiros" é bom para o PT. O Partido dos Trabalhadores obteve ontem duas péssimas notícias do ponto de vista eleitoral — o que mais interessa à agremiação como um todo. Primeiro, a tendência é o cadáver do mensalão permanecer insepulto no ano eleitoral. A outra foi o desembarque do PSB do governo federal, cujo script seguiu exatamente o que foi descrito ontem. A boa nova é que Dilma terá na reforma ministerial em curso a chance de reforçar os laços com aqueles que permanecem ao seu lado, caso do PMDB, e do PSD, de Gilberto Kassab.
Mas vamos por partes. Primeiro, o processo. A novela do mensalão não terminará em 2013. Até porque os réus ganharam 30 dias para apresentar os embargos infringentes, ou seja, lá para o fim do ano teremos o recomeço do julgamento dos crimes sujeitos a mais uma rodada — lavagem de dinheiro, no caso de João Paulo Cunha, e formação de quadrilha, que envolve José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e outros. Será um período de citação diária dos réus, associada sempre à sigla do partido, com julgamento na tevê, acompanhado por meses a fio. Isso tudo não permite virar essa página. Para completar, o fato de Celso de Mello ter desempatado o jogo em favor dos réus não significa que o fará no julgamento do mérito dos embargos, ou seja, o pior (para os mensaleiros e para o PT) talvez ainda esteja por vir.
Paralelamente, a saída do PSB do governo leva um pedaço importante de força política que, em 2010 ajudou a contabilizar milhões de votos em favor de Dilma. Não dá para esquecer que o PSB elegeu seis governadores, foi um dos recordistas em reeleição de prefeitos, tem governadores bem avaliados, o que representa um bom portfólio para qualquer pré-campanha. E agora, veremos se o PSB cresceu porque estava acoplado ao PT ou apesar do PT.
Enquanto isso, no QG petista...
Em princípio, a turma de Lula desdenha o ex-parceiro. Diz que o desembarque do PSB foi a melhor coisa que poderia ter ocorrido. O PMDB era só sorrisos. Agora, tem dois ministérios bons na roda. Dilma também não reclama. Apesar da forma respeitosa e elogiosa com que recebeu o governador Eduardo Campos na qualidade de presidente do PSB, ela, em nenhum momento, pediu que o partido ficasse ao seu lado. Nem havia mais clima para isso. Até porque, recentemente, o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, quis saber do polivalente ministro Aloizio Mercadante que notícias eram aquelas sobre desconforto do PT com o PSB e atuação do partido no governo. Mercadante teria dito que ia ver e não deu retorno. Ou seja, quem cala, consente.
Os petistas vão trabalhar agora para colocar bombas de efeito retardado no caminho de Eduardo. Querem minar a pré-campanha dele por dentro. Há quem defenda o uso da reforma ministerial em curso para deflagrar esse jogo. O alvo é o Ceará, um dos seis estados em que PT e PSB têm parceria rumo a 2014 (os demais são Espírito Santo, Sergipe, Bahia, Acre e Amapá). Em solo cearense, há quem aposte na transferência do ex-deputado Bismark Maia do PSB para o PSD, de forma a credenciá-lo para substituir Leônidas Cristino na Secretaria de Portos. Se esse movimento se confirmar, pode apostar, leitor, que os dias do governador Cid Gomes no PSB estão contados. E, assim, Eduardo pode encerrar esse primeiro grande movimento com uma baixa no seu exército eleitoral.
Se é ruim para Eduardo, pode ser pior para Dilma em três frentes. A primeira é o PT, que pretende ocupar o Ministério da Integração e tomar espaço no Nordeste, onde o partido perdeu terreno. O outro é o PMDB, que vive reclamando da hegemonia petista no governo e sonha em conquistar Portos ou retomar a Integração, pasta que já controlou, com Geddel Vieira Lima. "Eles (os petistas) não estão em posição de nos esnobar" é a frase que mais se ouve entre os peemedebistas quando o tema cargos entra numa roda.
A terceira frente é o mercado futuro. A candidatura de Eduardo Campos ajuda a reforçar a realização de um segundo turno na eleição presidencial. E, se os petistas forem muito agressivos com o PSB, terminarão jogando o "ex" no colo de Aécio Neves, do PSDB, que espera pelos socialistas de abraços abertos. Por enquanto, a briga que se verá é a disputa pelo Nordeste, envolvendo PT, PSB e PSDB, tudo em meio a uma reforma ministerial e mensalão. Uma coisa é certa: não faltará emoção.
Fonte: Correio Braziliense
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