Por Carolina Freitas | Valor Econômico
SÃO PAULO - No esforço para se viabilizarem candidatos à Presidência da República em 2022, os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), demarcaram ontem distância em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro. Durante as eleições do ano passado, tanto Doria quanto Witzel tentaram colar em Bolsonaro e surfaram na popularidade do então candidato conservador.
As críticas da dupla ontem foram desde a forma como Bolsonaro se referiu à mulher do francês Emmanuel Macron até a falta de "liderança e articulação" do presidente perante o Congresso Nacional. Doria e Witzel participaram do Exame Fórum, na capital paulista, com público formado majoritariamente por empresários e potenciais investidores.
O paulista rebateu a proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, de recriar um Imposto sobre Transações Financeiras (ITF). "Se o ministro me perguntar sobre CMPF, vai ouvir um sonoro 'não'", disse Doria. "Por ser liberal, não crio imposto, mas reduzo imposto." Ao Valor, Guedes havia falado na edição de ontem sobre a criação de uma alíquota entre 0,2% e 1% de ITF.
Segundo Witzel, o Brasil precisa de "alguém que tenha liderança e capacidade de entendimento" no comando. Sob fogo cerrado de Bolsonaro nas últimas duas semanas, Doria pediu que o presidente da República "brigue menos". "Espero que o presidente evite antecipar o processo eleitoral. Não é hora de eleição. Temos que cuidar de gestão, não de eleição."
Doria ganhou uma salva de palmas do público ao sugerir que Bolsonaro se retrate por ter feito insinuações sobre a aparência de Brigitte Macron, primeira-dama francesa. "Você não faz isso com nenhuma mulher quanto mais com a esposa de um presidente. E é um mal exemplo", disse.
O paulista acusou o governo federal de ter criado um "problema grave" para os negócios brasileiros com a Europa, ao negligenciar a questão ambiental. "Houve uma reação muito ruim do mundo político, empresarial e dos consumidores europeus", disse Doria. "Vamos dar um passo atrás, dialogar. O diálogo é um bom caminho."
Witzel soou no mesmo diapasão: "É preciso ter uma liderança para fazer com que o Congresso avance. Isso não está acontecendo. Está precisando alguém para liderar esse processo." Questionado por jornalistas após a palestra sobre quem seria este "alguém", o governador fluminense deu o exemplo de si mesmo para indicar que cabe ao chefe do Executivo liderar o avanço de projetos no Legislativo.
"Eu tenho que liderar esse processo, senão a coisa não anda. Precisamos [na esfera federal] ter mais governabilidade e integração com o Congresso. É preciso alinhar todas as bancadas com a base do governo", disse. "O governo [Bolsonaro] precisa ter uma articulação melhor."
O tom de conciliação, incomum a Doria, marcou até mesmo a abertura do discurso do governador paulista. "Rui Costa, meu bom amigo, bem-vindo", saudou, em referência ao governador baiano e filiado ao PT, que estava sentado na primeira fila e que falaria em seguida no evento. A seu tempo, Costa pregou igualmente uma união de esforços dos diferentes campos políticos brasileiros. "A solução do Brasil está em que os brasileiros voltem a conversar entre si. As crises dos últimos cinco anos tem na matriz a incapacidade que tivemos de dialogar de forma franca e civilizada", afirmou o baiano. "Devemos juntar esforços."
Outro ponto de concordância entre os governadores foi o pedido para que o governo federal revise o pacto federativo. "O Brasil é uma federação de mentira", afirmou Witzel. Rui Costa pediu a redistribuição do que é recolhido em impostos pela União. "Há uma concentração de recursos na União em detrimento dos Estados e municípios. É o problema mais grave que temos de solucionar."
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