Ameaças de Trump indicam mandato mais turbulento
O Globo
Antes mesmo de assumir, republicano não
descartou uso da força para pressionar aliados históricos
Logo após o republicano Donald Trump vencer
com folga as eleições presidenciais e ver seu partido conquistar maioria no
Congresso, líderes de países em diferentes partes do mundo passaram a traçar
novos cenários sobre o que aconteceria com sua volta à Casa Branca. Trump não
os fez esperar tanto. A menos de duas semanas da posse, deu o tom do segundo
mandato. Em entrevista nesta semana, declarou ser possível o uso da força para
desafiar a soberania de países aliados. Trump quer o controle do Canal do
Panamá e que a Dinamarca venda
a Groenlândia.
Na mesma ocasião, fez provocações e ameaças de pressão econômica para que
o Canadá se
torne um estado americano. Pode ser tudo parte de estratégia para obter
concessões. Com exceção de Trump e seus assessores, ninguém sabe. Daí a
impressão de que o segundo mandato será ainda mais imprevisível que o primeiro.
Nos últimos dias como secretário de Estado, Antony Blinken tem aconselhado seus pares “a não perder tempo” com a ameaça à Groenlândia. Jean-Noël Barrot, ministro de Relações Internacionais da França, também acha improvável um ataque à Dinamarca, membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Expressando o sentimento de muitos, Barrot disse que estamos entrando num período “da lei do mais forte”.
Embora o estilo ameaçador seja totalmente
reprovável, é preciso reconhecer que em alguns pontos a grosseria de Trump
encobre motivações sensatas. No primeiro mandato, a pressão para países
europeus investirem mais em Defesa tinha razão de ser e obteve algum efeito. A
causa da investida contra a Groenlândia é a preocupação com os interesses da
China e da Rússia no Ártico. Com o degelo provocado pelo aquecimento global,
novas rotas marítimas serão abertas.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os
americanos têm uma base na Groenlândia. Localizada a 1.500 quilômetros do Polo
Norte, possui sistema de detecção de mísseis e comando de satélites. Após Trump
manifestar novo desejo de adquirir o território, o governo dinamarquês declarou
que não estava à venda, mas afirmou disposição de cooperar de forma mais
próxima com os Estados
Unidos. Se o plano de comprar a Groenlândia for mesmo apenas uma
estratégia para obter concessões, ainda não está claro o que Trump quer. O
estranho é alguém tão preocupado com a China e a Rússia tratar tão mal os
aliados.
Para a América Latina, uma das promessas de
campanha com maior potencial de impacto é a deportação em massa de imigrantes
ilegais. As remessas de dinheiro de todo o mundo para a região em 2023
totalizaram US$ 155 bilhões, quantia superior ao total de investimentos
estrangeiros, de acordo com o Banco Mundial. Na América Central, o dinheiro
transferido, principalmente dos Estados Unidos, tem um peso desproporcional na
economia. Na Nicarágua equivale a 26% do Produto Interno Bruto (PIB), e em
Honduras a 25% (no Brasil é inferior a 1%). Nem tudo corre o risco de
desaparecer. Parte das remessas vem de trabalhadores já legalizados. Além
disso, Trump terá dificuldades logísticas para cumprir a promessa de deportar
15 milhões de pessoas. Mas, mesmo que o número acabe sendo menor, algum impacto
negativo será sentido. O segundo mandato de Trump ainda desperta muitas dúvidas
e pelo menos uma certeza: não faltará truculência.
AGU faz bem ao exigir que golpistas paguem
por restauração do patrimônio
O Globo
Criminosos do 8 de Janeiro condenados pela
Justiça devem ressarcir custos do vandalismo
O julgamento dos suspeitos do ataque do 8 de
Janeiro contra as instituições democráticas é a parte central da resposta
prevista nas leis para casos desse tipo e a esperada pela sociedade brasileira.
Mas não é a única. Uma das consequências da tentativa de golpe foi a destruição
de patrimônio valioso. Além de os culpados cumprirem pena, nada mais justo que
também paguem pelas restaurações. Por isso faz bem a Advocacia-Geral da União
(AGU) em exigir ressarcimento dos vândalos que invadiram as sedes dos Poderes.
Há dois anos, o país assistiu atônito à depredação de obras de valor histórico,
como telas, esculturas e um relógio do século XVII.
Na última quarta-feira, quando eventos
celebravam a vitória da democracia sobre os atos antidemocráticos, a AGU
ajuizava mais dez ações para pedir reparação. No total, já são 27 movidas
contra condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), cobrando ressarcimento
dos prejuízos estimados em mais de R$ 26 milhões. Ações pedem o bloqueio de
valores em conta- corrente e a transferência de bens dos acusados à União. Ao
todo, já foram bloqueados cerca de R$ 3 milhões.
Foi reconfortante ver a volta de obras de
arte aos seus devidos lugares depois de recuperadas. Uma das mais simbólicas é
o relógio de pêndulo trazido ao Brasil em 1808 por Dom João VI, presente da
Corte da França à Coroa portuguesa. A peça, desenhada por André-Charles Boulle
e fabricada pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot, chegou a ser dada como
irrecuperável. Mas foi minuciosamente restaurada pelo governo suíço, sem custos
para o Brasil, num trabalho que se estendeu por mais de mil horas. Com humor, o
embaixador da Suíça no Brasil, Pietro Lazzeri, disse que a restauração
demandou, além da excelência, a “criatividade” e o “jeitinho suíço-brasileiro”.
Voltaram a ser exibidas também a tela “As
mulatas”, de Di Cavalcanti —que numa das imagens do 8 de Janeiro aparece sendo
golpeada a facadas —, a escultura em bronze “O flautista”, de Bruno Giorgi, e a
escultura “Galhos e sombras”, de Frans Krajcberg, entre outras. A destruição de
muitas delas foi documentada pelos próprios vândalos e postada em redes sociais
como troféu, produzindo provas sobre o crime e dando contribuição valiosa às
investigações da Polícia Federal (PF). Vinte e uma obras restauradas ficarão em
exposição no Palácio do Planalto.
Os acusados pelos episódios do 8 de Janeiro
estão sendo condenados pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa
de abolição do Estado Democrático de Direito, associação criminosa, dano
qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As obras e as instalações nas
sedes dos Três Poderes são bens públicos, que não pertencem a este ou aquele
governo, mas ao povo brasileiro. Não seria justo que o contribuinte, que já
equilibra sobre os seus ombros uma carga pesada de impostos, ainda tivesse de ficar
com toda a conta. É pedagógico que os condenados paguem pelos danos à
democracia e ao patrimônio público.
Tendências demográficas desafiam políticas
públicas
Valor Econômico
População brasileira está ficando mais velha,
mais feminina e mais urbana
Análises elaboradas pelo IBGE a partir do
Censo de 2022 e dados anteriores mostram que a população brasileira ficou mais
velha, mais feminina e mais urbana - tendências que devem se aprofundar nas
próximas décadas. As conclusões surpreenderam não tanto pela trajetória, que
segue o padrão mundial, mas pela velocidade. As novidades trazem sinalizações
importantes que vão exigir alterações nas políticas públicas da previdência, da
saúde, da educação e do planejamento urbano.
O estudo “Projeções da População Brasileira”
indica que a participação das pessoas com 60 anos ou mais deve passar dos 15,6%
do total da população em 2023 para 37,8% em 2070, último ano contemplado.
Levando em conta a marca de 65 anos para definir o grupo dos idosos, a parcela
se mantém relevante: aumenta de 10,8% em 2023 para 31% em 2070. Já a fatia com
80 anos ou mais, que representa apenas 2,2% atualmente, chegará a 11,4%. Nesse
espaço de tempo, a fatia dos jovens até 14 anos recuará de 31,2% para 23,8%.
A consequência mais óbvia desse cenário é o
impacto na Previdência Social. A legislação previdenciária foi feita quando
havia mais gente contribuindo do que recebendo benefícios. A realidade vai se
inverter com a redução do contingente da população em idade ativa e o aumento
do grupo dos idosos, tornando indispensável a revisão das regras. Não apenas a
idade da aposentadoria deverá ser ampliada, mas deverá haver, principalmente,
uma mudança nos benefícios de categorias mais privilegiadas, como militares e membros
do Judiciário. Há ainda a questão já crítica dos informais e das pessoas que
recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) sem ter contribuído para a
Previdência. Especialistas consideram certa não só a necessidade de uma nova
reforma, mas também a de várias outras para calibrar as condições ao perfil da
população ao longo do tempo.
As limitações físicas para a ampliação da
idade da aposentadoria como solução do problema levam à discussão da estrutura
do mercado de trabalho, que atualmente inibe a atuação dos mais idosos. As
barreiras aos trabalhadores mais velhos terão que ser revistas.
Pelos mesmos motivos, a educação também
precisará passar por transformações. As políticas públicas atuais, muito
voltadas para as crianças e os mais jovens, deverão abrir espaço para os cursos
de aperfeiçoamento e transição de carreira dos trabalhadores mais velhos, dada
a redução para menos da metade da população total do número de pessoas em idade
ativa - conceito que terá que ser reformulado.
A saúde é outro setor dos mais afetados,
tanto do lado dos serviços públicos quanto dos privados. Os gastos são mais
elevados nas faixas etárias mais altas. A população atual com mais de 60 anos
vai saltar de 25 milhões para 75 milhões em 2070. Iniciativas voltadas à
prevenção de doenças típicas dos idosos deverão ser fortalecidas, assim como
será necessário abrir espaço ao investimento em instituições de longa
permanência, ou programas de apoio às famílias e comunidades de modo a liberar
os mais jovens para o trabalho, da mesma forma como se fortaleceu a abertura
das creches e unidades de educação infantil.
Em outra frente, o Censo mostrou nível
recorde de urbanização no Brasil, com 87,4% da população em cidades, inclusive
no interior do país. Esse percentual era de 84,4% em 2010, e deve superar os
90% até 2050. O aumento da população urbana amplia a demanda por serviços de
saúde e educação, e intensifica a importância de planejamento e de
investimentos em infraestrutura e logística, inclusive para preparar as cidades
para enfrentar as mudanças climáticas.
Apesar da expansão do saneamento básico nos
últimos anos, inclusive com o novo marco legal do setor, e o incentivo aos
investimentos privados na área, 24,3% da população ainda contava com
infraestrutura precária de esgotamento, segundo o Censo de 2022, o equivalente
a 49 milhões de pessoas.
O crescimento urbano sem planejamento
adequado ou investimentos em infraestrutura, e em cenário de déficit
habitacional, leva à expansão da habitação precária em locais de risco e nas
favelas. Entre 2010 e 2022, as favelas dobraram em número, superando 12 mil, e
abrigando nada menos que 16,4 milhões de pessoas, ou quase 5 milhões a mais em
12 anos.
Os desafios demográficos devem ser
enfrentados com planejamento estratégico. O Censo de 2022 e os estudos
elaborados a partir dele trouxeram valiosas informações para a pauta do país,
chegando à esfera legislativa. Com os dados atualizados, é possível reformular
políticas públicas, especialmente nas áreas de saúde e educação, cujos atuais
pisos são exemplos de temas que deverão ser discutidos levando em conta o
cenário futuro.
O Brasil tem duas vantagens nesse caminho.
Uma delas é que o IBGE projeta uma desaceleração gradual no crescimento
populacional, com o primeiro recuo em 2042 (-0,01%), o que oferece tempo para
autoridades ajustarem políticas e estratégias. Outra vantagem é poder aprender
com a experiência que vem de fora, de países que já enfrentam esses problemas,
como Japão, Portugal e Espanha. São referências ao incentivarem a participação
da mão de obra idosa no mercado de trabalho e em políticas de imigração. As informações
e os exemplos estão disponíveis. Cabe aos responsáveis pelas políticas públicas
prestarem atenção.
Vexame da Meta reitera que rede social não é
jornalismo
Folha de S. Paulo
Empresa muda moderação de conteúdo para
agradar Trump; independência, valor da mídia profissional, não faz parte de seu
negócio
O anúncio feito pela Meta sobre
sua nova política
de moderação de conteúdo tem significado que vai além da capitulação
política da empresa e do debate sobre liberdade de expressão.
Trata-se de mais um sinal gritante do abismo que separa a lógica que conduz as
redes sociais dos valores que norteiam o jornalismo profissional.
As grandes plataformas de tecnologia fazem
parte do ecossistema da mídia,
ainda que não o assumam. Difundem diariamente, para bilhões de pessoas,
variados conteúdos, como os jornalísticos, os publicitários e aqueles
produzidos pelos próprios usuários.
Não se assumem como tal porque não querem
carregar obrigações típicas do setor, como responsabilizar-se pelo que veiculam
e combater o anonimato.
Graças a inovações tecnológicas e a um
mercado de anúncios altamente concentrado, essas empresas alcançam faturamento
que as coloca entre as mais valiosas e influentes do mundo.
Ganham muitas horas de atenção dos usuários
propagando uma mistura confusa de jornalismo com informações
falsas, dúbias ou mesmo caluniosas, como se tudo fosse a mesma
coisa.
Também no aspecto corporativo essas
plataformas não comungam dos valores básicos do jornalismo. Ao promover uma
reviravolta em sua política de moderação de conteúdo e marchar para a órbita
de Donald Trump,
o CEO Mark
Zuckerberg mostrou que independência não faz parte do negócio
da Meta.
A empresa, dona do Facebook,
do Instagram e
do WhatsApp,
busca mitigar problemas com o governo que assume no dia 20.
Seria até possível argumentar em favor da
política anunciada pela Meta de baixa intervenção nas publicações —esta Folha acredita
que a livre
circulação de ideias tende a ser o melhor caminho para o debate
público. Só que, no caso específico, a motivação eclipsa esse aspecto.
Essas redes trarão maior quantidade de
"coisas ruins", como afirmou Zuckerberg. Seria muito difícil imaginar
um editor de jornal anunciando que irá deliberadamente publicar mais
"coisas ruins". Mas, na sedutora lógica de engajamento das redes
sociais, esse novo feed não necessariamente será ruim para a Meta.
Líderes de inclinação golpista e populista,
como é o caso de Trump, tornaram-se personagens mais e mais frequentes mundo
afora, impulsionados também pelas redes sociais.
Quem dedica a vida às práticas do jornalismo
profissional decerto tem seus afazeres diários dificultados
nesse cenário. Para a instituição da imprensa, porém, o desafio é revigorante.
O trabalho de apurar informações verdadeiras
e de interesse público, somado à coragem de publicá-las, ganha importância
ainda mais patente para a democracia. Quem prestará esse serviço à sociedade
serão jornais, TVs, sites, revistas, rádios e canais de streaming que preservam
os cânones do jornalismo profissional. Isso a Meta não mostrará.
Balança comercial é alento em meio à desordem
fiscal
Folha de S. Paulo
Embora com queda, saldo em 2024 manteve-se
elevado e sinalizou tendência de maior exposição da indústria de transformação
Diante de indicadores e projeções menos
favoráveis para a economia brasileira,
sobretudo na área fiscal, o resultado da balança
comercial de 2024 trouxe algum alento. O saldo
positivo de US$ 74,6 bilhões, ainda que 24,6% inferior ao registrado
em 2023, reiterou em seus detalhes o vigor do comércio do Brasil com o
exterior.
Quedas do superávit comercial são comuns
quando há aquecimento da demanda interna impulsionada por gastos públicos, como
ocorre no Brasil.
Divulgados na segunda-feira (6) pela
Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os dados expuseram um quadro incomum.
A tradicional pedra angular da exportação do país, a agropecuária, tombou 11%
com o declínio dos preços internacionais.
Não há dúvidas sobre tal impacto na queda de
0,8% nas exportações nacionais em relação a 2023. Entretanto o total de US$ 337
bilhões em embarques jamais teria sido alcançado não fossem os surpreendentes
desempenhos da indústria de
transformação e do setor petroleiro.
Em declínio há duas décadas, as vendas de
veículos, motores e outros itens industriais somaram US$ 181,9 bilhões, maior
valor da série histórica iniciada em 1997.
O petróleo,
que segue em evolução desde 2016, superou a soja e o minério de ferro como o
principal produto exportado pelo Brasil. Foram vendidos US$ 44,8 bilhões em
barris.
Mesmo que os embarques de grãos e minérios
venham a se recuperar em valor neste e nos próximos anos, nada indica recuo nas
vendas petroleiras. Também esperam-se bons resultados da indústria de
transformação.
Houve expansão de 9% das importações, que
somaram US$ 262,5 bilhões em 2024. Os desembarques tiveram significativo peso
no aumento de 3,3% na corrente de comércio e contribuíram para a produção e a
exportação da indústria.
Ainda que as aquisições desse setor tenham
resultado em um déficit setorial de US$ 56,8 bilhões, é inquestionável sua
guinada para uma maior integração às cadeias internacionais de valor. O
movimento era há muito esperado e trará ganhos para a economia como um todo.
Mesmo que não tenha aliviado as contas
externas como em 2023, quando exibiu um vigoroso superávit de US$ 99 bilhões, a
balança comercial do ano passado sinaliza tendências positivas a serem
observadas neste 2025.
Não há dúvidas, entretanto, de que o ano
trará maiores desafios, a começar pelo ímpeto protecionista da Casa Branca sob
o comando de Donald Trump.
Lula quer se apropriar do 8 de Janeiro
O Estado de S. Paulo
Assim como Bolsonaro pretendia capturar o 7
de Setembro, o petista faz de tudo para transformar a data do ataque à sede dos
Três Poderes em louvação a si e ao PT como esteios da democracia
Aconteceu exatamente como todos esperavam: o
presidente Lula da Silva politizou de vez o 8 de Janeiro. A exemplo do que fez
seu antecessor e antípoda, Jair Bolsonaro, que tentou transformar o 7 de
Setembro em feriado comemorativo do bolsonarismo, o petista quer fazer da data
de lembrança do ataque à sede dos Três Poderes um dia de louvação a si mesmo e
ao PT, como esteios da democracia.
O constrangedor ato de anteontem no Palácio
do Planalto em memória daquela data fatídica, seguido de um encontro com meia
dúzia de gatos-pingados reunidos na Praça dos Três Poderes pelo PT e centrais
sindicais ligadas ao partido, esteve muito mais próximo de um evento de
campanha do que de uma solenidade institucional, impessoal e republicana
conduzida pelo chefe de Estado e de governo para lembrar do mais sórdido ataque
à ordem constitucional vigente no País há quase 40 anos.
A patacoada já tem lugar na história não pela
cerimônia em si, mas por mais uma gafe de Lula – que, ao se declarar “amante da
democracia”, enfatizou que “os amantes são mais apaixonados pela amante do que
pelas mulheres”.
A ninguém é dado o direito de se surpreender,
em se tratando de Lula, que transforma qualquer ocasião de Estado em palanque
eleitoral. Afinal, para o chefe de um governo sem cara, vale dizer, sem um
projeto de país coerente, responsável e exequível para apresentar ao País,
malgrado já ter iniciado a metade final de seu mandato, parece não restar
alternativa a não ser posar como o único líder político capaz de “salvar a
democracia” de seus inimigos, notadamente os bolsonaristas, o que é uma
rematada falácia.
Lula sabe muito bem que politizar o 8 de
Janeiro significa manter viva a chama golpista que anima Jair Bolsonaro e seus
apoiadores. Os bolsonaristas, que também dependem desse antagonismo, não
perderam a oportunidade de usar a efeméride para, mais uma vez, pugnar pela
anistia aos golpistas. Trata-se, portanto, de um jogo eleitoral do qual os
únicos beneficiários são Lula e Bolsonaro, malgrado este estar inelegível até
2030.
A memória do 8 de Janeiro, é sempre bom
lembrar, não pertence a Lula nem muito menos ao PT ou a qualquer outro partido.
A insurgência de bolsonaristas contra o resultado da eleição presidencial de
2022 pertence à história do Brasil. E assim, de forma institucional e
republicana, haverá de ser lembrada no futuro, insubmissa aos desígnios
políticos dos mandatários de turno.
É inegável que Lula teria sido uma das
principais vítimas caso a tentativa de golpe prosperasse. Segundo a Polícia
Federal, alguns militares da ativa e da reserva são suspeitos até de preparar
um plano para assassiná-lo a fim de impedir sua posse. Mas não se pode esquecer
que, ao longo de toda a sua vida pública, Bolsonaro sempre esteve imbuído de um
espírito golpista, o que significa dizer que, ainda que fosse outro o candidato
oposicionista a lhe impor a derrota naquele pleito, o desfecho da irresignação violenta,
muito provavelmente, teria sido o mesmo. Por maior que seja, o ódio de
Bolsonaro a Lula é menor do que seu desprezo pela Constituição de 1988, o marco
jurídico que tirou o País dos grilhões da ditadura militar que ele tanto louva.
A ausência dos chefes dos Poderes Legislativo
e Judiciário, além de outras altas autoridades da República, é eloquente por si
só a respeito da politização do ato convocado por Lula. Em contraste,
recorde-se do evento que marcou o primeiro aniversário do 8 de Janeiro,
realizado no Congresso, símbolo maior de nossa democracia representativa, que
há um ano dera o tom correto à condenação daquele ataque desabrido e,
principalmente, à defesa da democracia.
Mas Lula é irremediável. Nunca esteve em seu
horizonte separar os assuntos de Estado e de governo, que dirá o melhor
interesse público, de seus interesses particulares ou os de seu partido.
Pode-se dar como favas contadas uma nova pajelança em torno do petista em 8 de
janeiro de 2026, ano em que, ao que tudo indica, Lula disputará a reeleição,
atraindo para si as atenções que deveriam estar voltadas a algo mais nobre do
que seu futuro político: a reafirmação do compromisso institucional com a
preservação do Estado Democrático de Direito no Brasil.
Em busca da credibilidade perdida
O Estado de S. Paulo
Haddad começa o ano tentando recuperar um
pouco da confiança do mercado e faz bem ao sugerir que isso depende de um
esforço de todo o governo. Ou seja, depende principalmente de Lula
Após a enorme frustração gerada pelo
esvaziado pacote fiscal aprovado no fim do ano passado, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad começou o ano tentando recuperar a confiança dos investidores.
Em entrevista à GloboNews, Haddad reconheceu que errou ao anunciar o plano de
corte de gastos juntamente com a proposta de isenção de Imposto de Renda para
quem ganha até R$ 5 mil e admitiu que o governo precisa ser coerente e unificar
seu discurso sobre a agenda econômica para obter resultados melhores.
O diagnóstico do ministro é certeiro. Mais do
que apresentar indicadores positivos, o Executivo federal precisa mostrar que
não será leniente com o gasto público e que não será tolerante com a inflação.
O desafio, no entanto, permanece o mesmo desde o início do governo: convencer o
presidente Lula da Silva a abandonar um discurso que sinaliza o exato oposto.
De fato, como disse o ministro, a economia
não vai mal. As projeções do governo, do Banco Central e do mercado variam, mas
todos estimam que o crescimento do PIB de 2024 deva superar os 3%. O problema é
que o PIB potencial brasileiro está na faixa de 2,3% a 2,4% ao ano, segundo o
pesquisador do FGV Ibre Bráulio Borges. E, segundo seus cálculos, a economia
brasileira tem crescido acima de sua capacidade desde o segundo trimestre do
ano passado.
O déficit primário do ano passado será
divulgado apenas no início de fevereiro, mas, segundo Haddad, ele deve atingir
0,1% do PIB, dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo arcabouço
fiscal. Incluindo os gastos com as enchentes no Rio Grande do Sul, o déficit
sobe a 0,37% do PIB. Para estabilizar a dívida pública, no entanto, o País
precisaria alcançar superávits bem mais ambiciosos, entre 1% e 1,5% do PIB, de
acordo com o pesquisador do FGV Ibre.
Com a economia superaquecida, a inflação, que
já está elevada e distante do centro da meta, deve aumentar nos próximos meses.
Assim, para cumprir a meta, restará ao Banco Central elevar a taxa básica de
juros e mantê-la em níveis altos por mais tempo, o que tende a frear a economia
como um todo.
Para completar, o cenário externo, já
bastante afetado pelos conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, tende
a ser ainda mais turbulento para economias emergentes, sobretudo após as
sinalizações dadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que
promete mudanças nas políticas comercial, externa e migratória que tendem a
elevar a inflação e os juros norte-americanos.
É com esse cenário que o mercado financeiro
trabalha neste momento e é para ele que se prepara desde já. Diante de tantas
incertezas, um governo prudente deveria se apresentar como um destino seguro
para os investidores, o que requer uma política fiscal anticíclica e
contracionista, capaz de amenizar os efeitos negativos de um ciclo econômico
superaquecido por meio de corte de despesas e/ou aumento das receitas.
O ajuste fiscal que os ministros Haddad e
Simone Tebet (Planejamento) prometiam entre o primeiro e o segundo turno das
eleições municipais deveria ser a resposta a essa conjuntura. Mas o pacote
quebrou expectativas e evidenciou a prioridade que Lula da Silva dá à sua
reeleição.
A atitude de Haddad pode contribuir para
melhorar o humor do mercado, mas suas declarações não serão suficientes para
fazer o dólar recuar aos R$ 5,44 em que estava no fim de setembro, muito menos
aos R$ 4,95 de janeiro do ano passado.
Boa parte do governo prefere aguardar uma
acomodação nas cotações da moeda norte-americana, ignorando que a saída líquida
de dólares atingiu US$ 18 bilhões no ano passado, o pior resultado desde 2020.
Esses investidores não voltarão ao País sem a
adoção de medidas duras e eventualmente impopulares, não porque torçam contra o
governo Lula da Silva, mas porque sabem que os resultados econômicos
apresentados no ano passado não têm sustentabilidade.
Para que o País possa chegar bem a 2026, como
disse Haddad à GloboNews, será preciso mais que “um time completamente
obstinado” no Ministério da Fazenda. O governo como um todo teria de fazer
muito mais do que tem feito.
Os pesos da balança comercial
O Estado de S. Paulo
País importa mais para atender à demanda
superaquecida e saldo cai; exportação mantém força
A queda de 24,6% no superávit da balança
comercial em 2024 está longe de representar um abalo para o Brasil no comércio
exterior. Afinal, o saldo positivo de US$ 74,6 bilhões entre exportações e
importações é um resultado robusto que mantém o País como um dos grandes
mercados no jogo mundial. É a típica situação em que cabe a máxima de que basta
o governo não atrapalhar para prestar uma grande ajuda.
O saldo de 2024 só perde para o recorde
histórico de 2023, de US$ 98,9 bilhões, e mesmo assim em razão, basicamente, do
aumento das compras para atender à demanda interna, aquecida de forma exagerada
por políticas públicas de indução ao consumo. Em desempenho, as exportações não
recuaram tanto em relação a 2023; em valor, foram US$ 2,7 bilhões a menos. Já
as importações dispararam, com US$ 21,69 bilhões a mais em relação ao ano
anterior.
Estivessem a competitividade e a capacidade
de produção da economia brasileira girando no mesmo ritmo da demanda interna,
provavelmente a diferença não seria tão expressiva. Talvez o aumento das
importações pudesse, inclusive, ser integralmente creditado à aceleração
produtiva nacional. Não parece ser o caso, embora o resultado comercial do País
continue a integrar o rol de contribuições positivas na aferição do desempenho
econômico.
O foco em commodities agrícolas e minerais é,
ao mesmo tempo, o motor que mantém a importância brasileira no comércio
internacional e o maior ponto fraco de nossa pauta. Primeiro, porque os preços
são ditados pelo mercado internacional e, segundo, por deixar em segundo plano
produtos de maior valor agregado.
A grande diferença na pauta em 2024 foi a
liderança inédita da exportação de petróleo, que ultrapassou em valor a soja e
outras commodities agrícolas. Fator pontual que, segundo especialistas, tende a
ser revertido com o aumento da produção agrícola neste ano, livre de fenômenos
climáticos como El Niño e La Niña, embora ainda à mercê dos extremos climáticos
que surpreendem o planeta.
Para 2025, economistas ouvidos pelo
Broadcast/Estadão preveem que o saldo da balança volte ao patamar de US$ 90
bilhões, embora as previsões do governo sejam mais modestas – e imprecisas –,
entre US$ 60 bilhões e US$ 80 bilhões. Voltando ao cerne da questão, de que
basta o governo não atrapalhar, a indução ao crédito e ao consumo começa a soar
como o tique-taque do relógio de uma bomba, à medida que a oferta doméstica
caminha em descompasso com a demanda.
O dólar acima de R$ 6 é o sinal mais evidente
de que algo está muito errado. Esse mesmo câmbio, que tende a puxar para cima o
valor das exportações, vai pesar no déficit financeiro, com a saída expressiva
de dólares, como já vem sendo verificado. A previsão de que a taxa básica de
juros se firme em 15% neste ano, para conter a inflação e o câmbio, afasta
investimentos em novos projetos.
Para deixar de atrapalhar, bastaria ao governo rever seus padrões de despesas – e de incentivo a gastos pelos consumidores. Equilibrar o fiscal seria de grande ajuda não só para o comércio exterior, como para a economia como um todo.
O verão do brasileiro
Correio Braziliense
Se alguém pensou que a cerveja seria a líder
na preferência dos brasileiros durante a estação mais quente do ano, enganou-se
Para boa parte dos brasileiros, janeiro é,
sem dúvida, a cara do descanso. É talvez o melhor mês do ano para quem transita
pelas ruas e avenidas das grandes cidades. Muitas vezes, passa-se até a
observar detalhes, como o barulho dos pássaros ou uma loja que não foi
percebida nos dias de longos congestionamentos. Um estudo intitulado Verão 360,
recém-lançado pela martech MindMiners, mostra a relação entre os brasileiros e
essa estação do ano, evidenciando como as altas temperaturas acabam traçando
comportamentos ligados ao estilo de vida da população, especialmente no que se
refere às faixas etárias.
Os resultados, inclusive, revelam o impacto
do mundo digital em que vivemos. Enquanto pessoas entre 44 e 59 anos — a
Geração X — e acima de 60 anos — os Boomers — adoram aproveitar as férias de
janeiro nas praias ou viajando, os mais jovens — gerações Z (nascidos entre
1995 e 2010) e Y ou millennials (entre 1982 e 1994) — preferem o sossego de
casa, seja assistindo a filmes ou séries, seja ouvindo música ou jogando (com
seus joysticks).
Os números reforçam esse cenário. De acordo
com a pesquisa, que ouviu 1.500 pessoas, entre homens e mulheres acima de 18
anos, e das classes sociais A, B e C, 44% dos respondentes preferem ficar em
casa no verão sem fazer nada (ócio), 44% gostam mais de ir à praia, 40% também
gostam de ouvir música, 39%, assistir a filmes/séries e 33%, nadar em piscinas.
De acordo com os coordenadores da pesquisa,
isso demonstra que a estação do ano é multifacetada. Prova disso é que 41% das
pessoas afirmam que o verão costuma prejudicar a saúde, mas 61% se declaram fãs
da temporada. No caso dos prejuízos ao bem-estar, esse aspecto envolve mais
mulheres, que se queixam de fadiga e exaustão (53%), queda de qualidade do sono
(48%), dores de cabeça (44%), queda de pressão (32%) e desidratação (30%).
Ainda assim, 57% dos respondentes praticam atividades físicas. Desse total, 55%
realizam a atividade no período da manhã, enquanto 39% fazem a noite e 35% de
tarde.
Se alguém pensou que a cerveja seria a líder
na preferência dos brasileiros durante a estação mais quente do ano,
enganou-se. De acordo com os dados, 44% das pessoas bebem aproximadamente 2
litros de água no verão, 29% consomem mais, 20% menos de 2 litros e 7% não
souberam responder. No cooler, os itens mais consumidos são: água (79%), sucos
(62%), refrigerantes (47%), água de coco (42%) e cervejas (31%).
Embora o brasileiro esteja mais consciente sobre os males decorrentes da superexposição ao sol, com o uso do protetor corporal por 46% dos respondentes e facial por 45%, o exagero fez com que 48% das pessoas relatassem algum problema de pele devido à exposição solar, com destaque para as mulheres, e 18% disseram que têm alguma deficiência de vitamina D. Apenas 9% dos entrevistados relataram não tomar sol, enquanto 70% relataram tomar diariamente no verão por até 30 minutos. Fato é que o brasileiro, em geral, gosta de viajar e curtir as férias como se deve. Como tudo na vida, o equilíbrio entre saúde, lazer e conforto é a melhor receita de longevidade.
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