O Estado de S. Paulo
E agora, José? Qual será a reação do Brasil a um banho de sangue na Venezuela?
O sequestro violento da líder oposicionista
María Corina Machado, de véspera, aumenta o temor de um banho de sangue na
Venezuela hoje, quando o ditador Nicolás Maduro toma posse para um novo mandato
presidencial sem jamais mostrar as atas eleitorais ou qualquer prova de que
tenha vencido a eleição. Pelo contrário, quem mostrou atas e comprovou a
vitória foi a oposição.
Assim como Maduro bate pé e insiste em assumir, a oposição não desiste, nem deve, de questionar e resistir. O confronto entre os dois lados sai hoje da esfera política e do âmbito das lideranças e vai parar nas ruas de Caracas e das grandes cidades venezuelanas, sob os holofotes e debaixo da desaprovação da comunidade internacional, principalmente na América do Sul. Maduro está isolado.
Numa entrevista exclusiva para mim, em 1999,
logo após sua primeira posse, o padrinho e mentor de Maduro, Hugo Chávez,
previu grandes ondas de protestos em toda a América Latina para resistir à
desigualdade social e à política econômica que ele chamava de neoliberal e se
espalhava pela região. As piores crises e as manifestações mais fortes, porém,
foram se repetindo na própria Venezuela.
Para o bem ou para o mal, e apesar dos
pesares, Hugo Chávez tinha projeto, estratégia, real liderança e cometeu o erro
de todos os ditadores, de direita ou esquerda: imaginar-se eterno, não suportar
competição e divergência, ser incapaz de preparar seu sucessor. Mesmo com um
câncer incurável e rápido, Chávez deixou para a última hora a bênção para
Maduro, seu chanceler, totalmente inapto para o desafio. Deu no que deu.
Ex-caminhoneiro, Maduro conduzia a política
externa nos governos Chávez, passou a dirigir os próprios rumos da Venezuela e
levou o país para o desastre, o precipício, com combinação maligna: os defeitos
de Chávez, sem as qualidades dele. Tosco, grosseiro, sem limites, Maduro
subjugou as instituições, comprou as Forças Armadas a peso de corrupção e
manipulou boa parte da população ao dominar a mídia e vender ilusões. A outra
parte fugiu da Venezuela, das ditaduras e da desgraça.
Até fazia sentido a aproximação de Fernando
Henrique e depois de Lula com Chávez, que virou de costas para os EUA e de
frente para a América do Sul. Olhar para o Sul é olhar para o Brasil, suas
indústrias, sua agricultura seu imenso mercado. Mas foi um absurdo Lula ignorar
a tragédia venezuelana e abrir o terceiro mandato com salamaleques para o
ditador. Como foi um escândalo o PT “reconhecer” a vitória de Maduro numa
eleição flagrantemente fraudada. E agora, José? Como agirá o Brasil se
confirmado o banho de sangue na posse?
Nenhum comentário:
Postar um comentário