Juliana Bublitz
A menos de um ano das eleições presidenciais, o debate sobre a polarização PT-PSDB volta à tona. Desde 1998, o Brasil acompanha o surgimento de candidaturas alternativas que não decolaram. Confira os erros cometidos no passado e as perspectivas para Eduardo Campos e Marina Silva, as novas expressões da terceira via.
Nas últimas quatro eleições presidenciais disputadas no Brasil, todas as candidaturas montadas com o objetivo de romper com a polarização entre PT e PSDB naufragaram.
Em 2014, uma nova opção – com o PSB de Eduardo Campos e Marina Silva à frente – apresenta-se ao eleitorado brasileiro e dá os primeiros passos no difícil, mas nem por isso impossível, caminho da "terceira via". A tentativa de minar a hegemonia de petistas e tucanos impõe a seus adversários alguns desafios. Entre eles, identificar os erros do passado e não repeti-los.
Como conceito, o termo "terceira via" não é novo. Ganhou fama na Inglaterra, a partir da década de 1990, em um momento de perplexidade da esquerda e de ascensão do conservadorismo neoliberal de Margaret Thatcher (1925-2013). Foi o meio-termo encontrado para renovar a social-democracia em crise – nem tão à esquerda, nem tão à direita – e teve entre seus principais defensores o ex-premiê britânico Tony Blair, inspirado nas ideias do sociólogo Anthony Giddens. Conquistou espaço e admiradores, mas, desde que Blair saiu de cena, o conceito perdeu muito de seu apelo político e intelectual.
No Brasil, a ideia assumiu uma acepção diferente – como alternativa à polarização – e segue mais viva do que nunca com a dobradinha Campos-Marina. Isso não significa que esteja livre de polêmica.
– A questão é a seguinte: o que essa terceira via está querendo dizer? Quais são as propostas? Qual é a sua agenda? É importante o eleitor não levar gato por lebre. Às vezes, é apenas uma expressão que, politicamente, não significa nada – diz o cientista político Fabiano Santos, da Universidade Estadual do Rio (Uerj).
A crítica encontra eco nas eleições presidenciais de 1998 e 2002. As derrotas de Ciro Gomes (então no PPS e hoje no PROS) e Anthony Garotinho (então no PSB e hoje no PR) são atribuídas, em parte, à falta de estrutura partidária e de consistência das propostas.
– O problema é que, em geral, os partidos vivem muito da lógica eleitoral. Não apostam na construção de um projeto de longo prazo e não conseguem criar estruturas nacionais. Além disso, há muito pouca diferença entre as 32 legendas existentes – avalia o cientista político Francisco Fonseca, da FGV-SP.
Candidato à Presidência em 2006, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) reconhece, hoje, que não tinha a menor chance ao competir com Lula e Geraldo Alckmin. De um lado, havia a força do lulismo – baseada na distribuição de renda e redução das desigualdades – e, de outro, o PSDB – cacifado pela conquista da estabilidade econômica e pela trajetória de vitórias em São Paulo.
– Hoje, o cenário é outro. Esse modelo está se esgotando, e a democracia passa por uma crise profunda. Agora, há um pedido por mudança. Há mais espaço para alternativas – avalia Cristovam.
Rigotto criou fórmula contra favoritismo de adversários
A eleição de 2002, no Rio Grande do Sul, demonstrou que há formas de romper polarizações. Germano Rigotto (PMDB) venceu a corrida ao Palácio Piratini e pode ser considerado um exemplo de terceira via que deu certo.
Com um discurso moderado, um partido bem estruturado e um programa cujo mote foi a abertura ao diálogo, o caxiense conquistou o público cansado do embate ideológico entre Antônio Britto (então no PPS) e o PT, cujo cabeça de chapa era Tarso Genro. Com menos de 3% das intenções de voto no início da campanha, Rigotto correu por fora e surpreendeu.
O sonho de Campos e Marina para 2014 é repetir o feito de Rigotto, mas os dois terão de convencer o eleitorado de que não são "mais do mesmo".
– O que falta é saber se essa aliança realmente vai trazer o novo. Esse é o grande desafio – projeta Buarque.
As razões dos tropeços
Por que as tentativas de terceira via não vingaram nas últimas eleições
1) Os candidatos não conseguiram formar coligações consistentes, com estrutura partidária forte o bastante para competir com PT e PSDB.
2) Ficaram atrás na briga por tempo de rádio e TV e tiveram menos visibilidade do que as duas siglas
.
3) Falharam na tentativa de apresentar propostas realmente novas e, ao mesmo tempo, consistentes e factíveis.
4) Não tinham líderes de porte nacional e tiveram dificuldade para se apresentar como alternativas viáveis.
5) As últimas campanhas tiveram caráter personalista forte, com nomes como Lula, FH e José Serra. Os adversários não conseguiram fazer frente a essas figuras.
6) As tentativas de terceira via não se sustentaram a longo prazo, parecendo apenas projetos pessoais.
Fonte: Zero Hora (RS)
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