- O Globo
Foram seis anos perdidos, os do governo Dilma e o começo do período Temer. O PIB, ao voltar ao positivo, no dado divulgado ontem, está com o tamanho que tinha ao fim de 2010, quando Lula deixou o governo. Tecnicamente, é o fim da recessão, o número é bom, como se esperava, mas a alta de 1% no primeiro trimestre não elimina o ambiente recessivo.
Há várias contas que iluminam essa aparente contradição. Sem a agricultura, o país teria crescido apenas 0,3% no primeiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, segundo cálculos da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. Na comparação interanual, do primeiro trimestre de 2017 com o de 2016, que é a melhor conta a fazer, o país permanece com queda do crescimento em 0,4%. Mas se os outros setores não tivessem puxado para baixo e fosse apenas a agricultura, teria acontecido uma alta de 0,8%, calcula a pesquisadora Rebeca Palis, do IBGE.
O governo comemorou, com razão, porque está no seu papel. O Ministério da Fazenda falou em “momento histórico”. Mas é preciso relativizar a comemoração para ficar mais próximo da realidade. Oficialmente, se há um trimestre positivo, é de fato o fim da recessão. Mas nem tudo é assim binário. Mesmo com o positivo no 1% de ontem, há muitos sinais negativos na economia brasileira. O crescimento sustentado ainda não começou e ficou mais distante a partir daquela noite em que o empresário investigado Joesley Batista entrou, sem apresentar documentos, na garagem do Jaburu e usando o codinome de Rodrigo. Aquele encontro jogou o país em mais uma rodada de incerteza política e ela afeta diretamente a economia.
No número positivo, tem uma parte que é resultado dos acertos do governo Temer na economia, principalmente na escolha da equipe da Fazenda, Banco Central, Petrobras e, até a semana passada, o BNDES. Um fato concreto que tanto Rebeca Palis quanto Alessandra Ribeiro ressaltam é que a queda da inflação já teve efeito positivo. É assim, conforme explicou a técnica do IBGE: o desemprego aumentou, mas a massa salarial ficou estável, porque, com a inflação caindo, os trabalhadores tiveram reajustes de acordo com a inflação passada, que era maior. Isso eleva a renda. O consumo das famílias não subiu. A economista da Tendências acha que já é possível ver alguns sinais de alta da renda média real, o que pode levar a um dado positivo no consumo. O efeito dos juros como estímulo econômico leva de seis a nove meses, portanto a maior parte da queda de quatro pontos percentuais na Selic ainda será sentida. Haverá também o impacto dos bilhões do FGTS que ainda serão liberados.
A agricultura deu um salto ornamental no primeiro trimestre, principalmente quando comparado à base baixa do primeiro trimestre de 2016. O volume de exportação de grãos compensou até o fato de os preços não estarem muito bons. A indústria extrativa mineral contou com alta de exportação de petróleo e minério de ferro, em ambiente de preços melhores.
O clima político, contudo, é um ingrediente tóxico na economia. Investimentos que seriam feitos voltaram para as gavetas. Consumo que pode ser deixado para depois foi postergado. O resultado é o que se vê agora: a economia saiu da recessão, oficialmente, mas permanece em clima recessivo. Hoje vai ser divulgado o dado da indústria de abril, e não há expectativa de crescimento. No mês de março, a indústria caiu e agora, no melhor cenário, fica parada. A economia ainda não entrou em um novo momento de recuperação da economia. O crescimento não voltou.
Os dados não deixam dúvidas. Erros de política econômica cobram um preço elevado. Toda a alta do PIB que houve no governo Dilma foi anulada pelos erros da própria ex-presidente. O IBGE disse ontem que a economia voltou aos níveis do fim de 2010. Ao manipular índices de preços, que levou a um tarifaço, maquiar contas públicas, fazer escolhas de investimento erradas, aumentar a dívida pública, seu governo jogou o Brasil na mais longa e penosa recessão da nossa história. Este momento de saída da recessão poderia ser hora de comemoração se o país não tivesse sido jogado em mais uma espiral da crise pelo erro do presidente Temer.
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