O
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirma que a CPI da Covid-19 vai
atrapalhar o combate à pandemia porque dispersa os esforços do governo federal
e do Congresso. Na verdade, o senador não queria a CPI — não quer, porque ainda
tem meios de enrolar — porque sabe que o processo pode dar um tiro fatal no
governo a que está aliado.
Mas
outras pessoas da cena nacional, de políticos a empresários e jornalistas,
encampam a tese de que a CPI convulsiona o ambiente político e econômico,
sendo, pois, prejudicial tanto ao combate à pandemia quanto à retomada da
economia. Pensam assim — ou pensavam — aqueles empresários que estiveram no
jantar de quarta passada com o presidente Jair Bolsonaro. Disseram que o
propósito era deixar o passado para trás — ou seja, esquecer os erros do
governo — e se concentrar no que fazer dali em diante.
Isso
seria verdade se atendidas duas condições: primeira, se o presidente Bolsonaro
admitisse erros ou ao menos deixasse de falar e fazer os absurdos
negacionistas; segunda, se houvesse alguma chance de que o governo e o
Congresso melhorassem seu desempenho.
Nenhuma
dessas condições está presente.
Aquele
mesmo jantar foi uma demonstração disso. Contando empresários, ministros,
assessores, seguranças, garçons e cozinheiros, formaram uma aglomeração de 80
pessoas — e ainda no horário do toque de recolher.
Bolsonaro foi o de sempre. Por exemplo: empresários falaram na necessidade de ampliar a vacinação; o presidente respondeu xingando o governador Doria, sem cujos esforços não haveria vacinação no Brasil.
Falaram,
entre um salgadinho e outro, em medidas de isolamento. Bolsonaro reclamou com o
ministro da Saúde porque ele não tirou a máscara.
O
presidente falou que não furaria o teto fiscal. Aplausos animados. Mas o
Orçamento negociado por ele com o Centrão fura o teto e dá várias pedaladas,
formando um conjunto de ilegalidades.
E,
na live de quinta, Bolsonaro voltou a falar de remédios “milagrosos”, o tal
spray de Israel e um outro em fase inicial de testes, malsucedidos.
Portanto,
é exatamente o contrário do que disse Rodrigo Pacheco. A CPI é o caminho —
difícil, é verdade — para forçar uma mudança radical no combate à pandemia. Uma
mudança com ou sem o atual presidente, pois é óbvio que a CPI pode ser a porta
de entrada do impeachment ou de alguma saída arranjada.
CPIs
não dependem apenas de questões jurídicas. O que mais importa é o ambiente
econômico e político. O conjunto é extremamente desfavorável ao presidente.
Sem
contar os mortos da pandemia, o fator principal, temos: baixa atividade
econômica, desemprego, inflação elevada, juros subindo, falta de vacinas e
outros insumos, popularidade do presidente em baixa, Centrão e militares
avançando no Orçamento, pouco dinheiro para o auxílio emergencial e outros
programas.
Dirão:
mas, ainda assim, nesta semana o governo federal conseguiu conceder nada menos
que 22 aeroportos, em leilões disputados por companhias importantes, nacionais
e estrangeiras.
Mas
isso não prova confiança no governo. São contratos de 30 anos, de modo que
embutem uma esperança de que as coisas não podem ficar tão ruins por tanto
tempo. E não se deve esquecer que os concessionários simplesmente podem parar
os investimentos se não houver o mercado esperado.
De
todo modo, fica claro também que o país tem oportunidades a oferecer. O que nos
atrapalha é um sistema político que tende a gerar governos ruins.
E
não apenas o Executivo. O Legislativo fracassa em todos os níveis, mais
preocupado em preservar instrumentos de ganhar eleições. E, como passam pelo
setor público nada menos que 40% do PIB, empresários entendem que o sucesso
depende de boas relações com o governo de plantão. Ou de relações compradas,
como vimos no mensalão e no petrolão — e até nos processos de compra de
equipamentos de saúde.
A CPI não resolve isso tudo. Mas quem sabe não dá uma boa chacoalhada?
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