Elas
se tornaram uma sombra daquilo que foram no passado
Parece-me
corretíssima a liminar exarada por Luís
Roberto Barroso, do STF, que determina a abertura da CPI da Covid-19 no
Senado.
Os
três requisitos legais para a instalação estão dados: assinatura de 1/3 dos
senadores, existência de fato determinado a investigar e prazo de vigência. No
mais, a decisão de Barroso está de acordo com a jurisprudência do Supremo, que
já mandou abrir outras comissões no passado.
Comissões
parlamentares de inquérito, vale lembrar, são um dos instrumentos à disposição
das minorias para exercer a função de fiscalização de governos —uma das
principais missões das oposições—, daí que nem a Constituição nem os regimentos
admitem que seu funcionamento seja obstado pela vontade da maioria e muito
menos pela do presidente da Casa.
A CPI da Covid-19 é, portanto, muito bem-vinda. Não vejo, porém, como deixar de observar que as CPIs de hoje se tornaram uma sombra daquilo que foram no passado.
Com efeito, nos anos 90, elas nos permitiram acompanhar com lupa grandes escândalos, como no caso da CPI do Orçamento. Mesmo quando tratavam de temas menos explosivos, não raro saíam com recomendações úteis para aperfeiçoamentos legais.
Ocorre,
porém, que a política, como tudo na vida, está sujeita às agruras da evolução.
Percebendo o potencial de danos das CPIs, as maiorias passaram a trabalhar para
contê-los. Um dos muitos caminhos para fazê-lo era ampliar o escopo da
investigação e, para cada convocado com potencial de incomodar o governo,
convocavam um que poderia criar embaraços à oposição. Com isso, entramos numa
dinâmica semelhante à da corrida armamentista entre predadores e presas, o que
acabou tirando muito da efetividade das CPIs.
Não diria que elas se tornaram inúteis. Os chiliques de Bolsonaro contra Barroso dão mostra de que ainda assustam. Mas eu não esperaria nada parecido com a CPI do PC Farias que derrubou Collor.
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