CPI é território em disputa: a oposição quer enfraquecer e, se puder, derrubar o governo; governistas agem na contenção de desgastes do Executivo. As condições iniciais tampouco independem de circunstâncias mais gerais, localizadas no governo e no país. Ao final, serão as condições de contorno – a insatisfação popular e a fragilidade política – que definirão o jogo.
Sempre houve abuso na utilização de CPIS. Oposições sem projeto e oportunismo fisiológico as usaram descoladas do contexto mais amplo. Normalmente, “deu em nada”. Mas, o oposto também se deu: a “CPI do PC Farias” derrubou Collor; a “CPI dos Correios” resultou no mensalão e destroçou promissoras lideranças do PT. Nos dois casos, a insatisfação geral se dava para além do objeto da CPI.
Hoje,
a população está recolhida ao isolamento social da pandemia. E, por enquanto,
não há mobilização de rua, elemento que potencializa as CPIS. Mas, à parte
disso, as condições de contorno são notoriamente insatisfatórias.
Em
60 dias, o País chegará a 500 mil mortes, infelizmente. A situação econômica é
deplorável: desemprego e fome tomam o cotidiano das famílias. A base governista
é arenosa, como se viu no conflito do Orçamento. O governo está internamente
fracionado, ministros sob fogo cerrado. Velhos aliados estão ressentidos e a
imagem internacional é péssima.
O
presidente e seu séquito são máquinas de disparates. Campeões de tiros nos pés,
se desviam a atenção, também agravam a situação. A inabilidade política e a
incapacidade de articulação atingem patamares inéditos. Não faltam condições de
contorno desfavoráveis para que a CPI prospere.
Faltam
as ruas. Mas, quanto mais rápido avançar a vacinação, maior a possibilidade de
grandes mobilizações. Arrastar a CPI e estender seus ritos será mais um erro.
Com quatro senadores e tudo o que ocorre no País, será difícil dominar o
território em disputa.
*Cientista Político, professor do Insper
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