Ferrar,
diz o Aurélio, significa aplicar ferraduras. É o que Bolsonaro faz com seus
aliados
Os
generais, quando longe dos olhos e ouvidos dos paisanos, dispensam-se os beija-mãos
da farda. Daí que, há pouco, em Brasília, um irritado Edson Pujol,
ex-comandante do Exército, ao encontrar-se com um abestado Eduardo Pazuello,
ex-ministro da Saúde, fulminou-o: "Pô, Pazuello, quando o Bolsonaro lhe
proibiu de comprar as vacinas você devia ter pedido demissão. Obedecendo, você
se ferrou e nos ferrou junto!". Por "junto" referia-se ao
Exército.
Modéstia do general Pujol. O Exército já está ferrado desde que Jair Bolsonaro fez dele avalista, sócio e cúmplice de seu governo, ao presentear milhares de fardados com funções no Estado para as quais não tinham nenhum preparo. Com isso, Bolsonaro deu um colorido verde-oliva ao seu conceito particular de mamata e, em troca, pode proclamar que vai chamar o Exército para ajudá-lo a acabar de ferrar o Brasil. Claro, o Exército é "dele".
Ferrar,
segundo os dicionários, significa também "marcar a ferro, como se faz com
o gado", e Bolsonaro imprime suas iniciais nos que se ajoelham à sua cruzada
em prol da pandemia. Enquanto, internamente, o Exército aplica aos seus os
protocolos de higiene, distanciamento e máscara, Bolsonaro desfila alegremente
sua política de contágio, doença e morte sob o silêncio aprovador dos generais.
Ou faz deles fabricantes e distribuidores de cloroquina, produto tão eficaz
contra a Covid quanto xampu de ovo.
E
a que o cinismo de Pazuello, ao circular sem máscara por um shopping
de Manaus, nos leva a pensar? Que, um dia, esse homem aceitou que Bolsonaro
o montasse e fizesse dele formalmente o responsável pela Saúde no Brasil.
É bom ler dicionários. No Aurélio, o verbo ferrar, significando "causar dano ou prejuízo", como o general Pujol o usou, é apenas a sétima acepção; no Houaiss, é a 14ª. Em ambos, a principal acepção é "pôr ferraduras (em cavalgadura)". Com todo respeito.
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