Se
fixarmos o objetivo no impeachment, receio que a resposta seja não
Com
o passar dos anos, tornei-me cético em relação a CPIs. Há tempos que eu não
vejo uma delas produzindo bons resultados.
Uma
das razões para isso é que investigar é uma tarefa técnica, que requer uma
expertise só raramente encontrada entre parlamentares. O ambiente
escancaradamente público e politicamente carregado do Parlamento tampouco ajuda
em apurações, que costumam avançar mais quando conduzidas com discrição e
objetividade.
A CPI da Covid, porém, é diferente. E é diferente porque a investigação já está pronta. Aliás, dizer "está pronta" é um eufemismo. Tanto o TCU como o MPF já analisaram a atuação do governo na pandemia e produziram documentos pouco abonadores à conduta das autoridades do Executivo. A imprensa também fornece boas peças.
Nos
últimos dias, o próprio governo, em mais uma demonstração de inabilidade, deu
de mão beijada para a CPI um roteiro com 23
vulnerabilidades a explorar. No que talvez seja inédito, existem até
estudos acadêmicos a subsidiar o trabalho dos parlamentares, apontando falhas
graves na gestão da epidemia e correlacionando falas negacionistas do
presidente a aumentos nos óbitos. O relator da CPI precisará só juntar tudo
isso e selecionar as melhores partes.
Isso
significa que a CPI da Covid será
um sucesso? Depende do que se define como sucesso. Se considerarmos que a
meta é apenas gerar um relatório poderoso, a resposta é provavelmente sim. Mas,
se formos um pouco mais ambiciosos e fixarmos o objetivo no impeachment, aí eu
receio que a resposta seja não.
O
que manda é a política. E o mais provável é que as correntes majoritárias no
Parlamento prefiram usar a CPI para manter uma espada de Dâmocles sobre a
cabeça de Bolsonaro e arrancar vantagens do governo.
É pena, porque qualquer coisa menos que o impeachment significará que a sociedade acha normal e aceitável ter um presidente que fez tudo o que Bolsonaro fez.
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