Agenda
positiva visa proteger imagem de um governo acossado
Acossado
por uma comissão parlamentar de inquérito, em tensão permanente com os outros
Poderes e em meio a dificuldades para combater tanto a pandemia quanto seus
efeitos econômicos, o governo fará de tudo para lançar, dia após dia, notícias
que busquem desviar a atenção dos problemas que acometem o país.
O programa de governo deu lugar a um plano de sobrevivência política. Este, por sua vez, permanece a reboque das turbulências que a própria administração Jair Bolsonaro cria.
Começaram
a usar a receita do bolo mais servido na capital federal em tempos de crise:
quando há algo errado, coloca-se a culpa na comunicação. Em seguida, é retirada
do bolso do paletó uma lista com medidas concretas ou propostas genéricas,
muitas das quais com poucas chances de prosperar sem o uso de fermento. Pouco
importa. A finalidade é agradar o paladar do investidor ou melhorar a imagem do
Brasil na vitrine.
Arremata-se
culpando inimigos imaginários ou terceirizando responsabilidades. E isso é
feito sem pudor, mesmo que riscos tenham sido identificados previamente e
soluções, sugeridas.
Já
foi recuperada da geladeira a reforma tributária. É tarefa inglória encontrar
algum governador que vislumbre um debate sereno da proposta ou até mesmo a sua
aprovação no curto prazo.
Outras
ideias começam a ser colocadas em prática. Bolsonaro assinou, enfim, a medida
provisória que reinstitui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da
Renda (BEm). Não eram poucas as críticas, entre empresários, à demora na
reedição do pacote. Ao promover uma reunião extraordinária do Conselho do
Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), colegiado responsável pela
implementação de medidas de desestatização, o Executivo tenta também iluminar
novamente a agenda liberal, que vem perdendo sua luz própria.
O
mesmo esforço se vê na área ambiental, onde o governo Jair Bolsonaro esboça uma
inflexão. Mas precisa correr contra o tempo, se de fato estiver decidido a
calibrar as políticas públicas voltadas ao setor.
A
cúpula organizada pelos Estados Unidos acabou por mostrar ao governo o que já
era evidente para a iniciativa privada. Sem ter acesso direto ao colega
americano, o presidente Jair Bolsonaro precisou registrar por escrito a nova
abordagem que pretende dar ao tema. Acabou tendo uma passagem apenas protocolar
pelo encontro, onde fez uma série de promessas que passarão a ser objeto de
monitoramento.
No
entanto, além de lidar com suas próprias idiossincrasias, o governo brasileiro
vai precisar se apressar para implementar novas ações e torná-las perceptíveis
ao público. Isso porque não demorará a chegar o período do ano em que ocorrem
as queimadas na Amazônia e em biomas como o Cerrado ou o Pantanal. Existe ainda
a preocupação com a possibilidade de haver alguma descontinuidade das ações das
Forças Armadas na Amazônia.
A
Operação Verde Brasil 2, voltada a combater ilícitos ambientais e focos de
incêndio, expira na sexta-feira. Setores do governo defendem a edição de um
decreto instituindo uma nova operação de garantia da lei e da ordem, com o
intuito de assegurar que o Estado permaneça presente na região. Até ontem, esse
ato insistia em ficar de fora das páginas do “Diário Oficial da União”.
O
que já se sabe é que pelo menos será feita uma transição baseada no “Plano
Amazônia 2021/2022”, documento aprovado depois de discussão no Conselho
Nacional da Amazônia Legal.
Quem
comanda o colegiado é o vice-presidente Hamilton Mourão, que deu maior peso
institucional às discussões e reforçou, por exemplo, a percepção sobre a
necessidade de se proporcionar maior protagonismo à Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA). Essa é uma ideia defendida há tempos tanto por
diplomatas como por militares, a despeito das diferenças políticas existentes
entre os governantes dos oito países que integram a instituição - Bolívia,
Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Na
visão deles, depois da implosão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e do
Conselho de Defesa Sul-Americano, a OTCA poderia servir de plataforma
institucional para coordenar as políticas regionais, inclusive quanto a
iniciativas de segurança, controle fronteiriço e combate a ilícitos
transnacionais.
Curiosamente,
a organização é sediada em Brasília, mas o país vinha desdenhando de sua
potencialidade. Se aproveitada na plenitude, a OTCA pode recolocar o Brasil no
debate ambiental, fortalecendo sua posição na região e dando eco ao discurso
nacional nos organismos multilaterais.
A
instituição vem mantendo contato direto com a União Europeia, instituições
financeiras e agências das Nações Unidas. Pretende ainda atuar como entidade
observadora na Assembleia-Geral da ONU. Ou seja, a ideia é promover o
posicionamento conjunto dos países amazônicos nos ambientes multilaterais,
inclusive defendendo bandeiras caras ao Brasil, como o aumento das
contribuições financeiras de países desenvolvidos.
Enquanto
isso, ela já tem agido, no limite de suas capacidades, na promoção do
desenvolvimento sustentável. Desenvolve projetos voltados à água, ao saneamento
básico, à proteção das florestas e ao combate a incêndios, mas precisa de um
impulso político ainda maior para ampliar seus horizonte de atuação.
Isso consta do mapa estratégico produzido sob a coordenação de Mourão, que acabou sem os instrumentos executivos necessários para assegurar a implementação dessas e de outras diretrizes definidas no âmbito do Conselho Nacional da Amazônia Legal. Seu papel nunca agradou alguns ministros, mas agora isso pode até ser útil para Bolsonaro. Não será surpresa se o vice for injustamente responsabilizado pelos problemas que possam surgir, até porque o destino eleitoral de Mourão já está excluído dos planos do presidente.
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