Um
bando de amadores
Sem
querer ofender os pets, 27 de abril de 2021 ficará marcado como mais um dia de
cão para o presidente Jair Bolsonaro e seus filhotes. Tudo aconteceu no período
da manhã, a saber:
1)
O Senado instala a CPI da Covid-19 com Renan Calheiros (MDB-AL) como relator e
o governo em minoria;
2)
O general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa Civil, confessa que se vacinou às
escondidas para que não pegasse mal para ele;
3)
O ministro Paulo Guedes, da Economia, diz que o vírus é chinês e que a vacina
americana é melhor do que a vacina chinesa.
Enquanto
isso, distraído, Bolsonaro confraternizava bem humorado com devotos nos jardins
do Palácio da Alvorada e plantava mais uma notícia falsa, desta vez contra o
PT.
Segundo ele, há um vídeo que mostra Lula, Dilma, Haddad, e atrás deles, dois homens se beijando. “Beijo de língua”, garantiu, “coisa que nem homem e mulher fazem em público”.
Pensando
melhor, talvez não tenha sido mais um dia de cão para Bolsonaro e seus
descendentes, mas um dia normal na vida de um governo radicalmente diferente
dos que o antecederam.
O
senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ) chamou de “ingrato” Rodrigo Pacheco
(DEM-MG) porque ele pouco fez de fato para barrar a criação da CPI.
Lembrou
que Pacheco teve a ajuda do seu pai para se eleger presidente do Senado, e que
por isso “deveria ter nos procurado” para avaliar a conveniência ou não da CPI.
Ingrato
foi Flávio. Pacheco só concordou com a instalação da CPI por ordem do Supremo
Tribunal Federal. O Tribunal Regional Federal derrubou a liminar de um juiz que
tentou abortar a CPI.
Bolsonaro,
pai, e seus filhos zero estão convencidos de que Pacheco cobiça a presidência
da República nas eleições do ano que vem, e que por isso se distancia deles.
“Vão
usar os caixões dos quase 400 mil mortos para fazer política contra o governo
federal”, acusou Flávio. Como se seu pai não usasse a pandemia para fazer
política também.
O
senador da rachadinha teve que engolir uma invertida que levou de Calheiros: “É
a primeira vez que [Flávio] se preocupa com aglomeração… Deve estar saindo do
negacionismo”.
Nada
superou, porém, as intervenções do general Ramos e de Guedes durante a reunião
do Conselho de Saúde Suplementar, transmitida ao vivo no site do Ministério da
Saúde.
Os
dois não sabiam da transmissão. Quando souberam, já era tarde. O vídeo foi
retirado do site, mas se espalhou nas redes sociais, o que dá a medida do
amadorismo dessa gente.
Primeiro,
Ramos afirmou:
“Tomei
escondido, porque a orientação era para não criar caso, mas vazou. Eu não tenho
vergonha, não. Tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero
viver, pô. E se a ciência está dizendo que é a vacina, como eu posso me contrapor?”.
Não
satisfeito, acrescentou:
“Eu
estou envolvido pessoalmente tentando convencer o nosso presidente [a tomar a
vacina], independente de todos os posicionamentos. Nós não podemos perder o
presidente por um vírus desse. A vida dele, no momento, corre risco”.
Entre
os 3.500 servidores da presidência da República, 460 já se infectaram com o
vírus, o que representa uma taxa de contaminação de 13% – maior do que a média
brasileira, de 6%.
A
China é o maior parceiro comercial do Brasil no mundo. Mexeu com ela, mexeu com
o agronegócio. A Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil até
agora. Guedes tomou.
Mas
isso não o impediu de acicatar os chineses:
“O
chinês que inventou o vírus. E a vacina dele é menos efetiva do que a
americana. O americano tem 100 anos de investimento em pesquisa. Então, os
caras falam: ‘Qual é o vírus? É esse? Está bem, decodifica’. Está aqui a vacina
da Pfizer. É melhor”.
A
vacina da Pfizer não foi desenvolvida por americanos, mas por alemães de origem
turca – o casal de cientistas que é dono da empresa BioNTech. Guedes não sabe o
que diz.
Quanto
à suposição de que o vírus foi inventado por chineses, a Organização Mundial da
Saúde considera a hipótese improvável. Como Bolsonaro, Guedes admira tudo que
seja “Made in USA”.
O
Brasil registrou 3.120 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando
395.324 óbitos desde o início da pandemia. Faltam vacinas e o Ministério da
Saúde está perdidinho da Silva.
Anunciou que em breve estaria vacinando 1 milhão de pessoas por mês. Depois recomendou que se aplicasse a 2ª dose em quem não tomou a 1ª. Recuou mais tarde, e agora voltou a recomendar.
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