Livro de Aldo Rebelo transforma releitura da história política em instantâneo da atualidade.
No
capítulo 12 do seu livro O Quinto Movimento – propostas para uma construção
inacabada, a ser lançado nos próximos dias, o ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo
transforma o que seria uma releitura da história política brasileira em um
instantâneo da atualidade. Sua visão sobre os desafios impostos à democracia
revela que não tem sido fácil mantê-la sob Jair Bolsonaro.
Sem citá-lo nominalmente, traça um retrato da ameaça à República exercida pelo comandante supremo das Forças Armadas, o presidente. As instituições democráticas, na sua avaliação, perdem prestí- gio, identidade e substância.
Bem
escorado na disciplina de sua formação marxista, a que agrega experiência e
trânsito entre políticos de todas as tendências, Rebelo defende, entre suas
principais teses, a construção de um governo forte. Tão forte quanto democrático,
com equilíbrio entre os poderes.
O
problema não está só no Executivo. A situação crítica em que se transformou a
atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), alvejado por todos os lados tanto
pelo Executivo quanto pelo Legislativo, está arrolada como um dos maiores
desafios. “Após a constituinte de 88, quando os militares se afastaram,
procedeu-se à judicialização da política e, por consequência, a politização do
Judiciário.”
Este
desequilíbrio permanece e se amplia a cada dia, em meio à turbulência de um
país de política convulsionada, em que recrudesce e se aprofunda o confronto
entre parlamentares, magistrados e presidente da República. Problemas
claramente expostos nos episódios mais recentes, que culminaram, ontem, com a
instalação da CPI da Covid, no Senado, e a abertura, na Câmara, do debate sobre
o episódio da apreensão de madeira ilegal na Amazônia. Uma reação do Congresso
ao massacre de ignorância que o governo Bolsonaro impõe à sociedade.
Enquanto
se desenvolve esta luta de campo aberto, surge, da quarentena da pandemia que
nos esmaga, o inesperado livro de testemunhos e reflexões de Aldo Rebelo, um
roteiro completo para debater o Brasil.
Político
que viveu, em extensão e profundidade, como protagonista, diferentes facetas da
política brasileira, Rebelo reúne uma experiência singular. Líder estudantil da
época da ditadura, exerceu a presidência da UNE, seis mandatos de deputado
federal e a presidência da Câmara. Foi ministro da Defesa, do Esporte, da
Ciência e Tecnologia, da Coordenação Política, funções em que entrou e de que
saiu sem acusações ou processos.
Aldo
Rebelo sistematiza os episódios, em seu livro, com a criatividade de quem
escreve uma sinfonia. Mais do que um nacionalista, como definido por todos,
desde sempre, é um patriota apaixonado. E amplia, a cada dia, a confiança no
seu estilo de fazer política: rigor na atenção aos diagnósticos e tolerância
nas soluções.
Os
sentimentos que criou com relação ao Brasil e aos brasileiros se forjaram na
cena de abertura do livro. “A primeira vez que me dei conta do mundo, estava
sobre um cavalo. Meu pai trabalhava em uma fazenda. Lembro que ele chegou a
cavalo e me pôs montado. Eu devia ter uns três anos e vi outra dimensão do
mundo. O mundo visto de cima: o rio, o horizonte, os campos. Data dessa época
minha admiração, respeito e paixão pelos cavalos.”
Escrito
durante a quarentena da pandemia, que Aldo Rebelo passou no Sítio Amazonas, em
Viçosa, Alagoas, em companhia de sua mãe e sua mulher, o livro, de 249 páginas,
tem bela ilustração de Elifas Andreato e Agélio Novaes e edição da JÁ, de Porto
Alegre. Os 21 capítulos de O Quinto Movimento permitem uma visão otimista da
história do Brasil, com intervenções de fatos do presente que lhe dão
dinamismo.
No repertório que apresenta, com argumentos de plataforma, figuram economia e futebol, mulheres e índios, militares e diplomacia, educação e desigualdade, agricultura e Amazônia, campos nos quais se especializou nos últimos mandatos.
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