Oligopólios
jogam preços nas alturas e freiam setor
Responsável
por cinco a 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, a construção civil foi o
setor que mais gerou empregos formais no ano passado - 106 mil. Considerando
toda a cadeia produtiva da construção, o setor representa 10% de tudo o que
economia brasileira produz. Em 2014, quando se verificou o pico recente do
setor, chegou a 11,5%.
A
participação da cadeia da construção no PIB só é menor que a da agroindústria.
Outro dado relevante é a fatia do setor na Formação Bruta de Capital Fixo
(FBCF), isto é, na taxa de investimento da economia em bens de capital
(máquinas e equipamentos) e construção: 50%, segundo a média histórica.
O setor de construção, como se sabe, é o que mais gera empregos no país: 12,5 milhões no total. Seu efeito multiplicador na economia é formidável. Estima-se que cada R$ 1,00 investido na construção civil gere R$ 1,88 na atividade. Para cada 10 empregos diretos gerados no setor, são gerados outros cinco indiretos. Embora seja um setor pouco importador de materiais e serviços, é exportador de bens e serviços.
A
cadeia da construção compreende quatro áreas. Na primeira, estão as
construtoras, incorporadoras e prestadoras de serviços auxiliares de
construção, responsáveis por realizar obras de edificação e infraestrutura. Na
segunda, estão as indústrias que produzem materiais de construção, máquinas e
equipamentos.
Na
terceira parte da cadeia, está o comércio varejista e atacadista. Por fim, há
as atividades de prestação de serviços, tais como serviços
técnico-profissionais, financeiros e de seguros.
Abrindo-se
a participação de cada segmento, temos aproximadamente o seguinte: a construção
responde por 61% do setor, seguida pela indústria de materiais (11,4%), o
comércio de materiais (9%), os serviços (5%), o segmento de máquinas e
equipamentos (0,6%) e por outros fornecedores (13,1%). Em termos de fatia do
PIB, a construção lidera com 6,4%, seguida de materiais de construção (2,8% do
PIB), serviços (0,7%), máquinas e equipamentos (0,2%) e outros materiais
(0,1%).
Há
uma forte correlação positiva entre a variação do PIB brasileiro e o setor de
construção. A história mostra que, quando o PIB sobe, o PIB da construção
cresce acima de sua variação; quando o primeiro cai, o do setor cai abaixo da
queda da economia.
Depois
de atingir o pico em 2014, primeiro ano da grande recessão brasileira
(2014-2016), que nos subtraiu mais de 7% do PIB e desorganizou a economia de
tal maneira que, até hoje, não houve efetivamente recuperação digna desse nome,
o setor da construção amargou longo e penoso declínio. No fim do ano passado,
estava 36,18% abaixo do pico.
Mas,
foi em 2020, o primeiro ano da pandemia _ nenhum cidadão imaginou que, na Ilha
de Vera Cruz, não teríamos vacina após 14 meses de tragédia _, que o setor
começou a reagir graças a dois fatos inusitados: brasileiros de praticamente
todas as classes sociais aproveitaram a economia forçada de dinheiro, provocada
pelo isolamento social, para fazer reformas e também para construir e o fato de
a taxa de juros dos financiamentos imobiliários está nos menores níveis da
história.
Números
da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostram que, no quarto
trimestre de 2020, os lançamentos de novas unidades avançaram 33,2% em relação
ao trimestre anterior, enquanto as vendas aumentaram 3,9%. Quando comparado ao
quarto trimestre de 2019, lançamentos e oferta final caíram, mas isso não é
necessariamente ruim.
"O
mercado imobiliário vendeu mais 10 % em 2020, comparado com 2019; os
lancamentos reduziram 13 %, logo, precisaremos construir o que foi vendido e
repor o estoque, portanto, 2021 seria um ano para trabalhar à vontade",
explica Luiz Carlos Martins, presidente da CBIC. "No caso de obra pública,
os governos estaduais estão com dinheiro, estão contratando e pagando em dia."
O
bom desempenho gerou confiança no setor, como demonstra o gráfico. Índice acima
de 50 pontos mostra expectativa dos participantes do mercado de crescimento nos
próximos meses. Mas, já começou a cair e a razão é uma só: a explosão dos
preços dos insumos. Até as pedrinhas da rua sabem que o custo de insumos
cresceu uma barbaridade porque tanto a sua produção doméstica quanto a
internacional recuaram no início da pandemia.
Olhando a situação mais de perto, porém, o que se vê é muito feio: aprveitando-se de seu poder de mercado, isto é, do grau de concentração e das barreiras que Brasília impõe a concorrentes estrangeiros, várias indústrias, a siderúrgica e a de resinas à frente, estão tirando proveito do momento para elevar suas margens de lucro. O problema é que a prática asfixia o setor e o inviabiliza.
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