Valor Econômico
Aliados acham que Bolsonaro cresce 1,5
ponto perecentual com Auxílio
O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira,
afirmou ao Valor,
em entrevista publicada no dia 24 de junho, que o “maior problema [da campanha
de Bolsonaro] é a inflação” e o maior culpado pela alta dos preços era o
combustível.
Pois um mês e meio depois, o governo
prepara-se para bater bumbo nesta terça-feira com a possível divulgação pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) da maior queda
inflacionária para um mês desde o início do Plano Real, em 1994. Após 25 meses
de preços elevados, o Brasil deve registrar deflação de 0,65% no IPCA de julho,
conforme a projeção mediana de 36 instituições financeiras, gestoras de
recursos e consultorias, de acordo com o Valor Data.
Em paralelo, a Caixa Econômica Federal deve
começar a liberar hoje os pagamentos do Auxílio Brasil de R$ 600 para cerca de
20 milhões de famílias, ou 56 milhões de brasileiros contemplados (26% da
população).
Números internos da campanha indicam que os primeiros desembolsos do Auxílio de R$ 600 alavancarão o presidente Jair Bolsonaro nas pesquisas. Os cálculos são de que, após a primeira rodada de pagamentos, o candidato cresça 1,5 ponto percentual nas sondagens e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recue 1 ponto.
A se confirmar esse movimento, como as
pesquisas internas da campanha à reeleição mostram uma diferença menor entre
Bolsonaro e Lula, de seis ou sete pontos percentuais (com vantagem para o petista),
caciques do Centrão apostam que, até o fim do mês, eles empatam dentro da
margem de erro.
A expectativa de aliados do presidente é de
que os números positivos da economia a serem divulgados hoje, combinados com o
desembolso do Auxílio de R$ 600, deem munição para Bolsonaro virar o disco,
tentar transmitir otimismo e convencer os brasileiros de que a vida vai
melhorar. Lideranças do Centrão, que defendem que o presidente adote uma
postura moderada, ainda tentam persuadir Bolsonaro de que os ataques às urnas e
aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) não rendem votos.
Essa retórica agressiva também não serve
para rebater palavras de ordem da campanha lulista sobre a crise econômica,
como o #Bolsocaro, que caiu nas redes, ou “o Bolsonaro chegou, a vida piorou”.
Outro dado positivo que o Centrão quer
agregar ao discurso de Bolsonaro é a redução do desemprego, que caiu para 9,8%
em maio, atingindo 10,6 milhões de brasileiros, segundo o IBGE. Foi a primeira
vez em mais de seis anos que o desemprego deixou de rodar na casa dos dois
dígitos.
A dúvida no time bolsonarista é se haverá
tempo hábil para que esses dados se convertam em realidade no dia a dia da
população até as eleições de outubro. Porque num primeiro momento, a deflação
ressoa artificial para muitos economistas, porque a queda dos preços se deve
exclusivamente ao efeito da gasolina e da energia. Os preços dos combustíveis
caíram após a redução imposta pelo governo federal ao ICMS dos Estados. Julho
pode registrar deflação, mas o acumulado do IPCA em 12 meses está em 11,89%.
O ex-ministro da Defesa e da Justiça nos
governos Lula e Fernando Henrique Cardoso, respectivamente, Nelson Jobim,
alertou em uma palestra em Brasília durante o “4º Encontro Nacional de
Lideranças”, na semana passada, que a vida real não está correspondendo aos
números das planilhas.
“Quando colegas economistas falam sobre a
situação econômica, questões fiscais, que o país está conseguindo resolver os
problemas, [eu falo] que precisam visitar o centro de São Paulo, caminhar pelas
calçadas”, afirmou o ex-ministro, que hoje integra o Conselho de Administração
do BTG/Pactual.
“Lá vocês vão encontrar uma enormidade de
pessoas na rua, que não são bandidos, não são vagabundos, são famílias que não
têm condições de se manter na alimentação, na habitação”, acrescentou. Dados
divulgados ontem pelo Boletim Desigualdade nas Metrópoles, da PUC-RS, mostram
que o número de pessoas em situação de pobreza saltou para 19,8 milhões nas
regiões metropolitanas em 2021 - um crescimento de 3,9 milhões no número de
pobres no país em comparação com 2020. Uma das razões dessa expansão foi a
interrupção do pagamento do auxílio emergencial na pandemia.
Nelson Jobim, que também foi presidente do
Supremo Tribunal Federal, argumentou que os cálculos indicam que a inflação
pode chegar no acumulado de 2022 em torno de 5,7%, mas que não corresponderá à
alta dos preços dos alimentos. “Aqueles que vão ao supermercado ou à feira vão
verificar que a inflação nesta área [de alimentos] é muito superior, varia de
13% a 15%”, alertou, citando a alta dos preços de itens como arroz, feijão,
carne e leite. “O Brasil tem 30 milhões de famintos, não somos responsáveis por
isso?”, questionou.
Nas últimas semanas, alguns dos itens que
mais encareceram foram o leite e seus derivados, itens de consumo básico das
famílias de baixa renda. O leite teve alta real de 17,7%, o queijo muçarela de
17,2% (muçarela), e o leite em pó de 6,7%, segundo pesquisa do Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP. Até junho, a alta
acumulada do leite chegou a 19,8%.
Desde o começo da pandemia, até abril deste
ano, a inflação geral ultrapassou 19,4%. Enquanto isso, o preço médio das
carnes aumentou 42,6% no mesmo período, segundo um levantamento do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Outro problema é que a população está mais
endividada: um em cada quatro brasileiros não consegue pagar todas as contas do
mês, segundo pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI).
Em resumo, Bolsonaro vai precisar mais do
que números de planilha e retórica otimista para convencer os brasileiros de
que a vida não piorou quando ele chegou, como afirmam os lulistas. Isso se o
Centrão conseguir domesticá-lo e abrir uma trégua nos ataques ao sistema
eleitoral e à ordem institucional.
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