sábado, 4 de março de 2023

Alvaro Costa e Silva - Os arapongas do general

Folha de S. Paulo

Mais que um ambiente contaminado pela política, há politicagem nas Forças Armadas

Quer dizer que gravaram um general do Exército, em reunião com subordinados do Comando Militar do Sudeste, de forma escondida? E depois o áudio foi vazado com a intenção de alimentar a insatisfação na caserna? O fato, além de evidente quebra de hierarquia, mostra que dentro das Forças Armadas há muito mais que um ambiente contaminado pela política; há politicagem.

A conversa se desenrolou quase que inteiramente sobre temas políticos. Em determinado momento da gravação feita em 18 de janeiro, o atual comandante do Exército, Tomás Paiva –que ainda não havia assumido o cargo em substituição ao general Júlio César de Arruda, demitido pelo presidente Lula– comenta a eleição que deu a vitória ao petista: "Infelizmente foi o resultado que, para a maioria de nós, foi indesejado. Mas aconteceu".

Tentando juntar os cacos da derrota, Tomás afirma que o governo Bolsonaro interferiu diversas vezes na Força, criando "desgastes" para os militares. Falou a verdade, mas todos ali estavam cansados de saber disso. Muitos concordaram com a situação e se aproveitaram dela financeiramente.

A aproximação com o bolsonarismo, assim como o desacordo com o controle civil sobre as Forças Armadas, havia sido escancarado em 2018, com o tuíte-ameaça do então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula pelo STF.

A cooperação atingiu o auge numa motociata de 2021, realizada no Rio. Se comparada à arapongagem contra Tomás Paiva, o espanto é ainda maior. Segundo consta do processo disciplinar que era mantido em sigilo, um general da ativa avisou ao comandante do Exército, Paulo Sergio Nogueira, que iria descumprir a regra militar e participar de um ato de campanha presidencial. Nogueira só faltou dizer: "Não esquece de subir no palanque". Na época Pazuello já era candidato, tanto quanto Bolsonaro. Foi eleito deputado federal.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Conclusão: das FA NÃO precisamos. Precisamos, sim, dos recursos nelas inutilizados.