domingo, 14 de dezembro de 2025

‘Boa sorte’, Flávio! Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Flávio livra Tarcísio da armadilha de Lula, que o trata como ‘candidato de Bolsonaro’

Ao retirar a Lei Magnitsky de Alexandre de Moraes e sua mulher, Viviane, Donald Trump decretou o isolamento de Jair Bolsonaro, encerrou a carreira de traidor da Pátria do 03, Eduardo, e deixou a candidatura (ou “candidatura”) do 01, Flávio, à Presidência ainda mais desamparada. Lula agradeceu a Trump, mas quem faz a festa é o Centrão. Por ora.

Gilberto Kassab, do PSD, sigla do Centrão que tem mais municípios no País, deu a deixa. Na véspera do recuo do presidente americano, Kassab desejou um protocolar “boa sorte” a Flávio e declarou apoio a Tarcísio de Freitas (SP), com o cuidado de citar os também governadores Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS) como planos B e C.

O “boa sorte” de Kassab para Flávio soa como cada um na sua, Centrão cá, Bolsonaros lá, assim como Flávio dizer que não vão conseguir fazer “intriga” entre ele e Tarcísio confirma um fato real: neste momento, os dois são adversários. Com um detalhe: é tão difícil acreditar que Flávio seja candidato para valer quanto que Tarcísio não seja.

Em uma semana de “campanha”, Flávio pôde constatar, com os próprios olhos e ouvidos, que líderes do mundo financeiro e presidentes de siglas do Centrão não estão nem um pouco animados com sua candidatura e, sim, com a de Tarcísio. Kassab apenas deu publicidade ao que Bolsa, câmbio e Congresso já gritavam.

O lançamento de Flávio e as “intrigas” entre os dois favorecem Tarcísio e sua posição na corrida presidencial, porque o protegem contra a grande armadilha de Lula para ele: transformá-lo no candidato e herdeiro da alta rejeição de Bolsonaro.

Lula empurra Tarcísio para Bolsonaro, mas, se o candidato de Bolsonaro é Flávio, Tarcísio é apenas candidato aos votos ditos bolsonaristas, assim como aos votos órfãos do centro e aos do Centrão, ou direitão, que já manda e desmanda no Congresso e concluiu que chegou a hora de assumir o Planalto – ou o País, com todo o perigo que isso traz.

Tudo somado, tem-se que a direita está dividida e Tarcísio, o nome mais forte tanto contra os Bolsonaros quanto contra Lula, está naquela: “Se ficar, o bicho come; se correr, o bicho pega”. Grudar em Bolsonaro é herdar sua rejeição, hoje pior do que em 2022, mas assumirse candidato do Centrão, das emendas, do “toma-lá-dá-cá” e desse Congresso?

O antilulismo elegeu Bolsonaro em 2018, mas pode não ser suficiente para empurrar para o Planalto um adversário que não tem o carimbo de antissistema e balança entre Bolsonaro e Centrão. O nó da direita não é só quem será o candidato e como superar o racha interno, mas que estratégia formatar para vencer o favorito Lula.

 

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