O Estado de S. Paulo
Decisões de Trump, de adotar ou retirar sanções, se restringem a cálculos políticos do presidente
A decisão de retirar Alexandre de Moraes e
sua mulher Viviane Barci da lista de sancionados pela Lei Magnitsky é parte da
mudança radical na estratégia de Donald Trump para o Brasil. A aprovação do
projeto de lei que reduz as penas para os acusados de tentativa de golpe,
incluindo Jair Bolsonaro, explica o timing do anúncio, mas não a decisão em si,
que já estava tomada.
Até porque o projeto ainda pode ser vetado por Lula. Se o governo americano quisesse ir em outra direção, poderia usar o escândalo envolvendo a contratação milionária de Viviane pelo banco Master, como pretexto até para adotar sanções secundárias contra bancos e empresas que prestam serviços ao casal.
Mas as decisões de Trump, tanto de adotar
quanto de abandonar as sanções, estão dissociadas do que se passa no Brasil e
se restringem a cálculos políticos do presidente.
A campanha contra o governo Lula e o STF e em
favor de Bolsonaro foi desenhada e impulsionada pelo Departamento de Estado. De
acordo com a minha apuração, o Departamento do Tesouro, a quem cabe aplicar as
sanções, tem resistido ao emprego da Lei Magnitsky contra o Brasil desde julho,
pela dificuldade de provar que o país viola os direitos humanos, motivo de sua
criação.
Em setembro, Trump constatou que a condenação de Bolsonaro era irreversível e as sanções aumentaram a popularidade de Lula. A insistência nessa estratégia levaria ao fracasso.
Como ele diz, Trump não gosta de ficar do
lado de “perdedores”, e reconstruiu a narrativa, identificando em Lula o líder
que foi vítima de “caça às bruxas” da Justiça e, como ele, “deu a volta por
cima”, voltando à presidência.
Trump então literalmente abraçou Lula na ONU,
dia 23 de setembro, e estabeleceu um canal de diálogo com o presidente
brasileiro. No início de novembro, o alto custo de vida agravado pelas tarifas
sobre carne, café, suco de laranja e frutas, entre outros produtos brasileiros,
contribuiu para derrotas eleitorais dos republicanos. E a Suprema Corte
questionou o uso da lei de emergência econômica contra o Brasil.
Esses fatos estimularam a aproximação com o
Brasil. Trump retirou as tarifas sobre esses produtos e segue um plano de
distensão com o Brasil. Como escrevi na semana passada, a estratégia de Trump
para a Venezuela está sob severo escrutínio. Distensionar com o Brasil é uma
forma de provar que as tensões não são culpa de Trump, mas do regime
venezuelano.
As negociações entre EUA e Brasil ainda não começaram. E envolverão temas difíceis, como a taxação e regulamentação das plataformas digitais e o protecionismo comercial brasileiro.

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