Folha de S. Paulo
Desde a Antiguidade, não parecer culpado é
preocupação de quem ocupa cargos políticos
Código de ética para magistrados é primeiro
passo necessário para melhorar imagem do Judiciário
É batata! Sempre que um juiz é apanhado em situação de promiscuidade com políticos e empresários, algum colunista ou editorialista lembrará o caso de Pompeia, não a avenida paulistana, mas a segunda ou, dependendo da fonte, terceira esposa de Júlio César, cujo envolvimento num rocambolesco escândalo deu origem à expressão "à mulher de César não basta ser honesta; é preciso que pareça honesta".
A ludopédica viagem de Dias Toffoli a
Lima no jatinho de
um empresário em companhia do advogado de um dos diretores
do banco Master,
caso que ele na sequência assumiria, já rendeu ao menos duas menções à mulher
de César na imprensa. Três com esta coluna.
Voltando a Roma, coube a Pompeia, na condição
de esposa do "pontifex maximus", organizar em 62 a.C., em sua
residência, um festival em honra à "Bona Dea" (boa deusa). A
cerimônia era terminantemente proibida para homens. Mas um jovem patrício de
nome Publius Clodius Pulcher se fantasiou de mulher para ter acesso à casa e
seduzir Pompeia.
Ele foi descoberto e acusado de sacrilégio.
César pegou leve com o rapaz, que comprou os jurados e acabou absolvido, mas
foi inclemente com a esposa, de quem exigiu divórcio: "Minha mulher nem
deveria ter ficado sob suspeita".
O que colunistas e editorialistas nem sempre
dizem é que, embora não haja prova definitiva, a crer em Plutarco, Pompeia teve
mesmo um caso com Clodius. Por essa versão, ela não parecia honesta e nem o
era. A proposta do presidente do STF, Edson Fachin,
de criar um
código de ética para magistrados me parece um ótimo primeiro
passo.
É preciso assegurar que entre as regras
esteja uma que proíba qualquer voo em jatinho que não seja uma UTI aérea. Mas
eu iria além e mudaria a sede do STF para Palmas (TO), com o intuito de isolar
tanto quanto possível os ministros de políticos e empresários.
O STF é um poder não eleito, mas que precisa
legitimar-se. Se as decisões que ele exara forem percebidas como o resultado de
uma ação entre amigos, podemos dar adeus à ideia de justiça.
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