quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Sob suspeita. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Desde a Antiguidade, não parecer culpado é preocupação de quem ocupa cargos políticos

Código de ética para magistrados é primeiro passo necessário para melhorar imagem do Judiciário

É batata! Sempre que um juiz é apanhado em situação de promiscuidade com políticos e empresários, algum colunista ou editorialista lembrará o caso de Pompeia, não a avenida paulistana, mas a segunda ou, dependendo da fonte, terceira esposa de Júlio César, cujo envolvimento num rocambolesco escândalo deu origem à expressão "à mulher de César não basta ser honesta; é preciso que pareça honesta".

A ludopédica viagem de Dias Toffoli a Lima no jatinho de um empresário em companhia do advogado de um dos diretores do banco Master, caso que ele na sequência assumiria, já rendeu ao menos duas menções à mulher de César na imprensa. Três com esta coluna.

Voltando a Roma, coube a Pompeia, na condição de esposa do "pontifex maximus", organizar em 62 a.C., em sua residência, um festival em honra à "Bona Dea" (boa deusa). A cerimônia era terminantemente proibida para homens. Mas um jovem patrício de nome Publius Clodius Pulcher se fantasiou de mulher para ter acesso à casa e seduzir Pompeia.

Ele foi descoberto e acusado de sacrilégio. César pegou leve com o rapaz, que comprou os jurados e acabou absolvido, mas foi inclemente com a esposa, de quem exigiu divórcio: "Minha mulher nem deveria ter ficado sob suspeita".

O que colunistas e editorialistas nem sempre dizem é que, embora não haja prova definitiva, a crer em Plutarco, Pompeia teve mesmo um caso com Clodius. Por essa versão, ela não parecia honesta e nem o era. A proposta do presidente do STFEdson Fachin, de criar um código de ética para magistrados me parece um ótimo primeiro passo.

É preciso assegurar que entre as regras esteja uma que proíba qualquer voo em jatinho que não seja uma UTI aérea. Mas eu iria além e mudaria a sede do STF para Palmas (TO), com o intuito de isolar tanto quanto possível os ministros de políticos e empresários.

O STF é um poder não eleito, mas que precisa legitimar-se. Se as decisões que ele exara forem percebidas como o resultado de uma ação entre amigos, podemos dar adeus à ideia de justiça.

 

 

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