Esta foi uma semana dos conselhos externos. E os aconselhados reagiram muito mal. Nada do que foi dito por economistas do FMI ou analistas da OCDE é novo para quem acompanha a conjuntura econômica. A situação fiscal está se deteriorando, os indicadores, ficando mais opacos, o governo tem tomado decisões temerárias para um país que teve o passado do Brasil.
O país não é mais monitorado pelo FMI, nada deve ao Fundo. O que houve foi apenas um relatório de rotina, feito de acordo com o artigo quarto do FMI, que todo país-membro recebe. Tem cara de análise e conselho. E é. O Brasil reagiu de forma infantil, como se fosse ingerência indevida em assuntos internos. Deu respostas patéticas, como a afirmação de que essa é a opinião de técnicos e não da direção do Fundo, como se houvesse tal dicotomia entre as partes e tal autonomia técnica.
Está se formando uma convicção geral de que o Brasil tem piorado, por displicência e por avaliação inadequada do momento presente, e há alvos precisos de preocupação. Falemos do que preocupa e não preocupa.
• Bolsa Família: é elogiado como uma política eficiente que tirou milhões de uma situação de miséria. Todos sabem que há erros pontuais e que há a necessidade de que a educação de qualidade complete o serviço de transformação do quadro social brasileiro.
• Transferência aos bancos públicos: É avaliada como uma política que inicialmente contornou o colapso de crédito que houve no momento agudo da crise. O problema é que se eternizou e virou uma bola de neve.
• Alquimias contábeis: Tudo o que tira transparência dos indicadores fiscais é inaceitável. Aumenta a incerteza e dilui a confiança no país. E o governo usou e abusou desse artifício de maquiagem dos números.
• Dívida pública: dizer que ela é menor do que dos países em crise é ridículo. Equivale a uma cidade que recebeu apenas o impacto dos tremores secundários de um terremoto se vangloriar de estar menos destruída do que o epicentro. Só que uma dívida bruta de 60% do PIB é alta em qualquer país.
• Dizer que os gastos com a Previdência éstão em queda é incompreensível. Os gastos com o INSS têm tido alta contínua. De janeiro a agosto deste ano, o crescimento real das despesas foi de 6,5%. Segundo o economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, que fez a conta a pedido da coluna, houve aumento ininterrupto dessa despesa todos os anos desde 1997. No ano passado, de janeiro a agosto, foi de 7,3%, Em relação ao PIB, já é 7,2%, um número recorde. Se for incluída a Previdência do setor público, salta para 9,1%. E o Brasil é um país de jovens.
O governo pode tapar o sol com a peneira ou escolher a moda avestruz de avaliação da conjuntura. Mas na economia a conta sempre chega.
Fonte: O Globo
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