Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense
A disposição do ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli de dividir com a presidente Dilma Rousseff os estragos decorrentes da compra da refinaria de Pasadena tem três motivações básicas. A primeira é a pressão feita por setores petistas que defendem o movimento "Volta, Lula" para substituir Dilma como candidata nas eleições de outubro. A segunda remonta a divergências antigas entre os dois — em uma reunião de 2005, quando Dilma era ministra da Casa Civil, ela desautorizou Gabrielli rispidamente na frente do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A terceira razão é afastar do próprio colo a imagem de um gestor incapaz de perceber quando uma operação traz lucro ou prejuízo.
Por isso, a possibilidade iminente de Gabrielli ser convidado a comparecer na Câmara reacende os temores de que o bate-boca possa ser amplificado. O Planalto sabe desse risco e não gostou do tom de Gabrielli, mas preferiu responder de maneira "calculadamente tímida", segundo avaliação de um interlocutor presidencial. "Não poderíamos deixar Gabrielli falando sozinho nem tampouco aumentar essa combustão", declarou um aliado da presidente.
O esforço de Gabrielli é para evitar que ele fique sozinho com o ônus do prejuízo. Há duas semanas, enquanto a atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, estava, nas palavras de petistas, "encastelada na estatal sem saber como agir", Gabrielli foi à Câmara expor aos deputados do PT os números da operação. No mesmo dia, ele municiou os senadores, durante um jantar, para que eles travassem o "embate político" com a oposição.
O Senado, então, aprovou o convite para que Graça Foster fosse à Comissão de Assuntos Econômicos no último dia 15, quando ela disse que "Pasadena não foi um bom negócio e que nem seu antecessor poderia ter dito que foi um bom negócio". No dia seguinte, o ex-diretor Nestor Cerveró sustentou o argumento de Gabrielli. "Ficou um jogo de empurra, parecendo que Gabrielli e Cerveró trouxeram prejuízo ao erário e que Dilma foi enganada no processo", afirmou um petista que acompanha de perto o assunto.
A queda de braço também se reflete na Bahia. Quando deixou a estatal, exonerado por Dilma, Gabrielli acalentava o plano de se tornar o sucessor de Jaques Wagner (PT), mas o governador baiano optou por lançar o chefe da Casa Civil no estado, o também petista Rui Costa. Segundo apurou o Correio, bem antes de a polêmica sobre a refinaria se acentuar, Wagner já analisara que o episódio dificultaria a vida de Gabrielli em uma disputa que se antecipa como acirrada contra a oposição baiana. "Ele construiu um currículo gerencial para ser governador da Bahia. Foi preterido por Wagner, e agora Dilma tenta desconstruir o currículo dele. É muita coisa de uma só vez", afirmou um companheiro de partido.
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