A discussão pública entre o ex-presidente da Petrobras e a presidente da República reforça as dúvidas sobre a compra da refinaria e a defesa da CPI
Governo e PT tentam de todas as formas evitar que a história muito mal explicada da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras seja investigada por uma CPI no Congresso. Mas os desdobramentos do caso se sucedem, contra os interesses do Planalto e do partido. Dessa vez, foi a entrevista concedida pelo ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, ao “Estado de S.Paulo”, na edição de domingo, em que ele afronta a presidente Dilma ao dizer que ela “não pode fugir da sua responsabilidade” naquele negócio.
Dilma, na condição de presidente do Conselho de Administração da empresa, em 2006, quando era chefe da Casa Civil e Gabrielli, presidente da Petrobras, aprovou aquela operação, que mais tarde se mostraria um “mau negócio", como disse a atual responsável pela companhia, Graça Foster, em depoimento ao Senado, e concorda Dilma.
Gabrielli reage porque é atingido pela acusação da presidente da República de que ela e demais conselheiros deliberaram sobre uma operação, que custaria US$ 1,2 bilhão, a partir de um sumário “técnica e juridicamente falho", redigido pelo diretor Internacional da empresa, Nestor Cerveró, subordinado a Gabrielli. Paira a suspeita de que havia interesse em que a Petrobras fechasse um “mau negócio”, suposição que se torna mais grave quando são lembrados outros projetos cujos orçamentos também chegaram às estrelas (o da refinaria Abreu e Lima foi multiplicado por quase dez). E piora com a prisão do ex-diretor Internacional Paulo Roberto Costa, metido num esquema de lavagem de dinheiro, e colocado atrás das grades pela Polícia Federal.
A entrevista foi respondida por Dilma, por meio do ministro Aloizio Mercadante. A presidente mantém a opinião, por considerar um erro a omissão, no sumário, da existência de cláusulas, no negócio, as quais, se soubesse, não aprovaria a compra: rentabilidade mínima para os sócios belgas e aquisição compulsória das ações da outra parte, em caso de litígio. Gabrielli e Cerveró minimizam o fato.
Disso tudo, sai fortalecida ainda mais a ideia da CPI exclusiva — como deve ser, segundo juristas. E fica mais evidente o choque entre o lulopetismo e Dilma, em torno do passado nebuloso da Petrobras. Não esquecer que a gestão Gabrielli tem como patrono o presidente Lula, de cuja campanha à reeleição, em 2006, o então presidente da estatal participou com estrelinha na lapela do paletó. O conflito dentro de hostes do PT realça, ainda, o aparelhamento da estatal pelo lulopetismo, um combo de que participam sindicalistas e frações fisiológicas de partidos aliados na função de padrinhos de técnicos da casa, um estilo gerencial que marca a administração de Gabrielli.
Espera-se que as investigações da PF sobre o ex-diretor Paulo Roberto Costa, um dos elos naquele aparelhamento, ajude a desenrolar, pelo menos em parte, este novelo. Mas a CPI daria uma contribuição essencial no esclarecimento de desmandos e na defesa do patrimônio da Petrobras.
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