Em relação a 2010, presidente terá neste ano menos máquinas estaduais ao seu lado
Paulo Celso Pereira – O Globo
BRASÍLIA - A dois meses e meio do início das campanhas eleitorais, os principais candidatos à Presidência da República estão em fase final de montagem de seus palanques nos estados. Hoje, 24 dos 27 governadores já deixaram claro publicamente quem devem apoiar, e uma comparação do cenário atual com o de 2010 mostra que a presidente Dilma Rousseff perdeu espaço entre os chefes dos Executivos locais. Há quatro anos, Dilma contou com apoio de 19 dos 27 mandatários, em estados que reúnem 75,3 milhões de eleitores. Este ano, até agora, a presidente tem assegurado o apoio de 13 governadores que governam 55,7 milhões de votantes — numa queda de influência sobre quase 20 milhões de votos.
Os governadores são os donos de palanques mais desejados por candidatos à Presidência pois, além de emprestarem eventual popularidade ao candidato, comandam a máquina estadual, que exerce grande influência nas áreas mais desassistidas e permite que a campanha chegue aos grotões.
Fator Eduardo Campos
Com a piora na situação de Dilma, o tucano Aécio Neves figura como detentor dos apoios de governadores responsáveis pelos estados com maior contingente populacional. Em 2010, José Serra havia conseguido apoio dos governos de sete estados, com 65,1 milhões de eleitores. Este ano, os seis governadores que já deixaram claro o apoio a Aécio governam 67,2 milhões de eleitores. A particularidade dessa situação se deve à grande concentração populacional nos estados tucanos — 70% desses eleitores estão concentrados em São Paulo e em Minas Gerais.
A grande mudança para o PT foi a entrada em cena de Eduardo Campos, que tem apoio já declarado de cinco governos, que respondem por 12,9 milhões de eleitores — metade deles concentrados em Pernambuco. O principal baque do PT ocorreu nas regiões Norte e Nordeste, justamente as áreas onde o PSB de Eduardo Campos mais se expandiu. Em 2010, Dilma contou com o apoio público de governadores de oito dos nove estados nordestinos. Agora, são apenas quatro que já declararam que marcharão com a presidente — dois estão com Campos, um com Aécio, e outros dois ainda não se posicionaram. O próprio Campos havia ajudado a dar a Dilma 75% dos votos de Pernambuco em 2010, e este ano terá o governador João Lyra, que era seu vice, a seu lado.
Na região Norte, o PT tinha apoio de cinco dos sete governos, e agora deve contar com três — o PSDB e o PSB deverão dividir os outros quatro. O Pará é outro exemplo. Estado mais populoso da região, com 5,2 milhões de eleitores, e onde Dilma ganhou com 53% dos votos há quatro anos, passou a ser controlado pelo PSDB do governador Simão Jatene, e a capital, Belém, está desde 2012 nas mãos do também tucano Zenaldo Coutinho.
Diante da evidente diferença de estrutura entre seu partido e o de seus principais adversários, o ex-governador Eduardo Campos já deixou claro que focará sua campanha na construção de um discurso contra a política tradicional e com ênfase na campanha virtual, já que terá pouco tempo de televisão. Detentores das maiores estruturas partidárias e governamentais, os aliados próximos de Dilma e Aécio consideram os palanques estaduais fundamentais:
— De modo geral, um governador sempre tem peso e influência favorável, porque ele tem suas realizações para mostrar. Mas o fato de ter mais ou menos governadores pode não ser decisivo, tem que relativizar.
Apesar de o governador ajudar muito, é preciso analisar a conjuntura. Em São Paulo, que é o maior colégio eleitoral do país, a situação não é igual a 2010, quando foi muito favorável a eles. Este ano temos uma conjuntura muito favorável, onde os candidatos ao governo que são pró-Dilma com certeza vão ganhar a eleição — afirma o secretário nacional de Comunicação do PT, José Américo (PT-SP).
Para o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), o elemento fundamental para definir o peso que o apoio do governador terá é a popularidade do mandatário durante as eleições. Por isso, é tão difícil dar a real dimensão que cada um dos apoiadores terá no resultado final da eleição da presidente.
— Se o governador estiver bem avaliado, ele leva os votos dos eleitores tanto no estado muito populoso quanto no menos populoso — defende Agripino.
É baseado nesse princípio que José Américo minimiza a redução no número de apoiadores da presidente Dilma. Para ele, o cenário deste ano nos estados é tão favorável para a petista quanto foi em 2010.
— Nos principais estados da Federação, Dilma continua com uma situação muito favorável. Nos grandes estados, exceto em Minas Gerais, de onde vem o candidato da oposição, a situação é igual ou muito mais favorável a ela do que em 2010. Apesar do número, acho que a conjuntura nos estados equilibra deixando uma situação parecida com a de 2010. Eles melhoram em Minas, mas pioram muito em São Paulo e no Rio de Janeiro — analisa Américo.
Para Agripino Maia, por sua vez, Aécio Neves conseguiu grandes avanços na montagem dos palanques regionais. Mas ele ressalta que isso é apenas uma parte das conquistas necessárias para chegar ao Palácio do Planalto:
— A eleição presidencial é um misto de arrumações estaduais e da mensagem do candidato. O candidato tem que ser o grande coordenador de campanha e um grande arauto do interesse nacional.
Na organização dos estados, o Aécio vai muito bem. Mas tem que ser também o arauto do interesse nacional. No quesito coordenadora, a Dilma está de médio a inferior. E ela não é mais o arauto do futuro do Brasil. Hoje, ela ainda tem uma estrutura boa, mas menor do que tinha.
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