Depois de condenar o aborto, pré-candidato evita falar de temas sociais preferindo abordar questões econômicas e de crise de governança
Juraci Perboni – O Globo
FLORIANÓPOLIS - O pré-candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, defendeu nesta terça-feira que o Brasil rompa com seu atual modelo de governança e tenha “menos as figuras de sempre”. Em Santa Catarina, onde se encontrou com empresários em Florianópolis e depois falou com jornalistas, Campos propôs um novo pacto social “a partir da sociedade”.
— Devemos ter menos as figuras de sempre. Aquele modelo de Brasília já deu o que tinha que dar.
Vamos romper com o pacto existente e vamos colocar aquelas figuras atrasadas na oposição. Vamos colocar aquelas velhas práticas da política na oposição. O Brasil não vai sobreviver a esse presidencialismo de coalizão se não houver coragem de ruptura e um novo pacto renovador brasileiro — afirmou.
Para o pré-candidato, o Brasil vive uma crise política em muito porque o governo e o Congresso Nacional não fizeram o debate necessário após a crise financeira internacional de 2008 — o que, segundo Campos, blocos econômicos e países como China e Estados Unidos fizeram ao debater questões como energia, padrões de crescimento ou conceitos de desenvolvimento, governança e planejamento.
— O debate ficou empobrecido no Brasil. Esse debate, que deveria ter sido feito nas eleições de 2010, não foi feito. O debate (da última eleição) foi um pobre debate marcado por temas religiosos e poucas vezes sobre temas centrais da vida do país, da importância do Brasil com a complexidade e os desequilíbrios sociais que esta nação tem. Perdeu a oportunidade de fazer o debate sobre seu futuro — declarou ele.
No domingo, Campos havia declarado ser contrário a uma revisão da lei que define quando uma mulher pode interromper a gravidez, afirmando que sua posição contrária ao aborto estaria em sua campanha.
Nesta terça-feira, ao ser indagado por jornalistas sobre outras questões que afetam o chamado “voto religioso”, como o casamento gay ou a descriminalização das drogas, o ex-governador de Pernambuco não quis manifestar a sua posição.
— Nós vamos colocar no nosso programa. Nossa opinião vai estar no nosso programa. Não vim fazer essa resposta, vim fazer exatamente a agenda. Eu tenho opinião conhecida — declarou o pré-candidato, que priorizou declarações sobre política e economia durante sua visita.
Eduardo Campos frisou que o “Brasil real está muito distante do Brasil de Brasília”, cujos líderes não lidam com questões que fazem parte da agenda da população, como a má qualidade dos serviços públicos ou a falta de um projeto para o país.
— Muitos investidores daqui e de fora estão com um pé atrás (...) Tudo que acontece hoje com a Petrobras, que era a 12ª empresa do mundo e que hoje está abaixo da 100ª empresa (...) Tudo isso tem afetado a economia e seus fundamentos, mas sobretudo tem afetado a confiança, a visão, a expectativa sobre o futuro. Vivemos uma crise política — declarou.
O pré-candidato prometeu levar adiante uma agenda com um novo pacto federativo e nova divisão dos recursos de impostos, fazer a reforma política e a reforma tributária. Prometeu reduzir o número de ministérios, adotar uma gestão de resultados e disse que todos os nomes para cargos, inclusive da Petrobras e das agência reguladoras, deverão ser selecionados a partir da sua capacidade técnica e serem aprovados pelo Congresso Nacional.
Sobre o Legislativo, Campos disse pretender por fim a esse “toma lá dá cá”, que se instituiu nos últimos anos.
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