• O governo explorou eleitoralmente a falsa ilusão de que seria possível manter o pleno emprego em uma economia que estava estagnada há meses
Dezembro trouxe um considerável alívio para a indústria automobilística, com crescimento de produção em relação a novembro (mais 25%) e a igual mês de 2013 (mais 4,6%). No entanto, esses números não podem ser traduzidos como uma recuperação. O setor amargou uma queda de produção da ordem de 15,3% ao longo de 2014. O número de novos licenciamentos de veículos caiu 7,1%.
O ano que passou não foi difícil somente para as montadoras de veículos. A indústria como um todo deve apresentar uma retração da ordem de 2% — foi de 3,2% em doze meses até novembro. Com ociosidade nas linhas de produção, as empresas são obrigadas a redimensionar custos, incluindo a folha de pagamentos. No caso brasileiro, muitas companhias retardaram esse processo ao máximo, na tentativa de preservar em seus quadros profissionais já sintonizados com os processos produtivos e serviços prestados por elas. Mas chega um momento em que não é mais possível esticar a corda, e os cortes acabam sendo inevitáveis, como aconteceu esta semana na mais antiga fábrica da Volkswagen no Brasil, em São Bernardo do Campo, onde 800 funcionários foram dispensados. Demissões também ocorreram em outras empresas situadas no ABC paulista, como, por exemplo, a fabricante de caminhões e ônibus Mercedes-Benz.
O governo explorou eleitoralmente a falsa ilusão de que é possível manter uma economia estagnada a pleno emprego. O Brasil, felizmente, não vive uma conjuntura drástica semelhante à da Europa, mas já não consegue gerar novos empregos, especialmente em segmentos que vinham pagando bons salários, como na própria indústria.
Diante da crise financeira internacional, o Brasil cometeu sérios equívocos de política econômica. Privilegiou o consumo em detrimento de investimentos. Por vários trimestres consecutivos a taxa de investimentos do país recuou, depois de quase ter alcançado, a duras penas, o patamar equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). O estímulo ao consumo foi apresentado como uma solução mágica para "se cruzar o deserto", embora, na teoria e na prática, se soubesse que isso poderia significar uma bomba-relógio passível de detonar mais à frente.
O segundo governo Dilma tem condições de superar a herança negativa do primeiro mandato. Nesse sentido, é promissor o ajuste fiscal que já está em curso, caminho que poderá abreviar a estagnação em que a economia brasileira mergulhou. O desequilíbrio das finanças públicas pôs mais lenha na fogueira da inflação, obrigando o Banco Central a elevar as taxas básicas de juros e a contrair o crédito oferecido pelos bancos privados. Quando os resultados do ajuste fiscal forem mais visíveis, esse processo poderá ser revertido, e a economia se recuperará naturalmente, voltando, inclusive, a gerar novos empregos.
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