sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Em tempo de guerra comercial é melhor preservar parceiros: Editorial | Valor Econômico

O Banco Mundial (Bird) acaba de reduzir ainda mais a previsão de crescimento da economia global, o que é um mau sinal para o comércio exterior internacional, inclusive do Brasil. Ironicamente, a revisão para o desempenho da economia decorre do aumento da tensão causada pelas disputas comerciais recentemente desencadeadas por Washington. A produção industrial perdeu a tração, alguns países emergentes ainda se ressentem da instabilidade financeira e a preocupação com o aperto das condições monetárias nos Estados Unidos e na Europa continua no horizonte.

No relatório "Perspectivas Econômicas Globais", o banco prevê crescimento mundial de 2,9% neste ano, abaixo dos 3% de 2018. A perda de fôlego é generalizada, atingindo os principais parceiros comerciais do Brasil. A previsão é que a China cresça 6,2%, abaixo dos 6,5% esperados para 2018; e os Estados Unidos, 2,5%, menos do que os 2,9% do ano passado. A Argentina deve continuar em retração, recuando 1,7%, um pouco menos do que os 2,8% de 2018. A estimativa para o Brasil, porém, é de crescimento em relação ao ano passado, de 2,2%, mas inferior aos 2,5% anteriormente esperados.

Antes mesmo da divulgação desses números, a Organização Mundial do Comércio (OMC) já estava prevendo um novo recuo nas transações internacionais. Depois de ter saltado 4,7% em 2017 e 3,9% em 2018, a previsão da OMC era de expansão de 3,7% neste ano, percentual que pode ser revisto para baixo agora.

As previsões para a balança comercial já haviam sido reduzidas e podem se deteriorar mais. No ano passado, o superávit comercial diminuiu 13,3% para US$ 58,3 bilhões. Em parte, isso ocorreu por um bom motivo: depois de dois anos de recessão, a recuperação da economia engrossou as importações, que cresceram mais do que as exportações. As importações aumentaram 19,7% para US$ 181,1 bilhões, enquanto as exportações tiveram expansão de 9,6% para US$ 239,5 bilhões.

Mas houve também impacto da guerra comercial entre Washington e Pequim, que fortaleceu a posição da China como principal parceiro comercial do Brasil, em detrimento de outros, e reforçou as vendas externas de produtos básicos. A continuidade desse cenário vai depender do resultado da trégua de 90 dias acertada entre as duas potências. A participação da China nas exportações brasileiras aumentou de 23% em 2017 para 27,8% em 2018, somando US$ 66,6 bilhões. As vendas aos chineses cresceram 32,2% em 2018, bem acima do ritmo das exportações totais.

Também em consequência dessa nova correlação de forças comerciais, os produtos básicos ampliaram sua fatia no total exportado, atingindo quase metade, passando de 46,4% em 2017 para 49,6% em 2018. As exportações dos básicos somaram US$ 118,9 bilhões, puxadas pela soja em grão, que cresceu 28,9%. Os embarques para os Estados Unidos aumentaram 6,6% para US$ 28,8 bilhões, sendo que a participação do mercado americano em relação ao total exportado ficou estável oscilando, de 12,3% em 2017 para 12% em 2018.

Outro fator relevante no comércio foi a crise na Argentina, importante comprador de manufaturados brasileiros, especialmente veículos, que reduziu em 15,5% suas compras do Brasil para US$ 15 bilhões no ano passado. Em 2018, as vendas externas de automóveis de passageiros caíram 23,2%, e as de veículos de carga, 20%. A participação dos argentinos nos embarques brasileiros encolheu de 8,1% para 6,2% no período. Com isso, a fatia do Mercosul caiu de 10,4% em 2017 para 8,7% no ano passado, a menor do bloco em 15 anos. Como resultado, as exportações brasileiras de produtos manufaturados cresceram menos, 7,4% em 2018 em comparação com os 9,4% de 2017. De acordo com cálculos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), se forem excluídas as exportações de plataformas de petróleo, feitas ficticiamente para obterem os benefícios fiscais do Repetro, as exportações de manufaturados teriam aumentado apenas 1,5%.

A previsão do Banco Central é que a balança comercial feche este ano com superávit menor, de US$ 38 bilhões, mantidas as atuais condições e confirmadas as expectativas do Banco Mundial. Mas ainda não está claro o efeito que a mudança de governo poderá ter nas relações comerciais. Não é o momento de se perder parceiros comerciais como os do Mercosul e nem de desperdiçar os esforços já feitos em favor de acertos com outras regiões. Pode-se agregar ao espaço conquistado os resultados bem-vindos das iniciativas de acordos bilaterais.

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