domingo, 19 de fevereiro de 2023

Murillo de Aragão - Crise, ideologia e pragmatismo

Revista Veja

Boas soluções devem ser implementadas sem preconceitos

Pergunta-se, com frequência, se Joe Biden é de direita ou de esquerda. A indagação está contida em uma matéria publicada pelo UOL na semana passada. A resposta, como esperado, é a de que o presidente dos Estados Unidos é centrista, o que, de forma imprecisa, significa que ele pode adotar no país soluções propostas por ambos os polos ideológicos.

Aliás, as maiores potências adotam uma mescla de atitudes baseadas em seus interesses estratégicos. Por exemplo, a China financia pesadamente a expansão de suas indústrias e pratica uma espécie de capitalismo de Estado. Os Estados Unidos distribuíram dinheiro e estímulos em todas as graves crises deste século.

As melhores soluções para a economia e para o governo não devem ser discutidas ideologicamente, o que, considerando as circunstâncias do mundo, trata-se de um retrocesso. O dogma ideológico é uma forma arcaica de medir a efetividade de políticas públicas. É como querer usar bússola magnética navegando no espaço.

O Brasil de hoje resulta de uma mistura de conceitos de direita e de esquerda postos em sucessivas mesas de negociação. Os avanços dependem de consensos ou de crises. A mistura de conceitos e a necessidade de consenso amenizam radicalismos, mas, ao mesmo tempo, mitigam avanços.

No entanto, as crises levaram o senso de urgência para a mesa. Foi assim, por exemplo, com as reformas implementadas por Fernando Henrique Cardoso em seu primeiro mandato, com a sanção da Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000, e com o advento do teto de gastos, em 2016, entre outras. As crises nos impulsionaram a fazer reformas e buscar aperfeiçoamentos.

Hoje, no Brasil, estamos em uma encruzilhada determinada pela possibilidade de sérios problemas internos e externos. Dependendo das escolhas, podemos tomar o caminho virtuoso do crescimento sustentável ou cair na armadilha dos atalhos perigosos.

O que o Brasil deve fazer agora? Em primeiro lugar, promover uma leitura adequada do momento no mundo e no país, considerando os desafios políticos, as sequelas da pandemia e as suas repercussões sociais e fiscais. O segundo passo é entender que o Brasil pode estar contratando uma crise grave se não tomar as devidas providências nos campos fiscal, tributário e econômico.

O terceiro passo é admitir que existem boas e más soluções em praticamente todos os campos ideológicos. Muitas das soluções são as mesmas, ainda que venham embaladas em rótulos diferentes. As boas soluções devem ser implementadas sem preconceitos, por isso a preferência ideológica deve ser relativizada. O quarto passo é o de reduzir a temperatura política. É hora de governar e deixar o palanque para trás.

As devidas providências, acima mencionadas, apontam para: prudência fiscal; simplificação tributária com o reequilíbrio de sua carga; privatizações e concessões tendo em vista mais investimentos; reforma administrativa, para melhorar o perfil do gasto público e promover maior eficiência da máquina pública; desburocratização radical dos investimentos; implantação de programas assistenciais eficientes; e maior segurança jurídica para investimentos. Pragmaticamente, não há muito o que fazer fora desse cardápio.

Publicado em VEJA de 22 de fevereiro de 2023, edição nº 2829

 

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito limitado e pobre este cardápio!

Anônimo disse...

"O que o Brasil deve fazer agora? Em primeiro lugar, promover uma leitura adequada do momento no mundo e no país,..."

Na opinião do autor, o q consta acima é o q o Brasil deve fazer. Só q...leitura adequada pra quem?
O autor parece ter feito tal leitura. Vejam:

"As devidas providências, acima mencionadas, apontam para: prudência fiscal; simplificação tributária com o reequilíbrio de sua carga; privatizações e ..."

Impressiona a cara de pau. O autor tenta vender sua ideologia como óbvia e necessária. Ainda q ninguém negue q tal ideologia defendida pelo autor possa dar certo. Não deu com Collor nem com o bozo.
Mas pode dar.
Porém, existem outras ideologias. Privatizar ou não é ideológico.
Nada há neste país q não tenha o dedo do Estado.
Embraer: Estado.
Petróleo: Estado.
Agro: Estado. Enlouqueceu? Agro é Estado?
Sim, é o bom e velho BB q financia o Agro. Tentem comprar uma colheitadeira com juros do Bradesco ou Itaú. Perderão a fazenda.
A EMBRAPA q desenvolve tecnologia. Sem isso, por ex., a soja não seria plantada no país inteiro. Nem o gado teria se espalhado.
Digam apenas um, unzinho exemplo de algo do Brasil q tenha conquistado o mundo q seja exclusivamente privado.
Nem a Natura, nem o Boticário e muito menos o Agro.
Insisto. Citem um.

Anônimo disse...

Um, unzinho exemplo de algo do Brasil q tenha conquistado o mundo q seja exclusivamente privado:
PELÉ = Edson Arantes do Nascimento!

Anônimo disse...

Pelé estudou em escola pública. Certeza.

Anônimo disse...

Pelé veio de Três Corações para Santos em rodovia pública. Certeza.