Joaquim Barbosa vota
pela condenação do ex-ministro; revisor absolve José Genoino e condena Delúbio
Soares
O relator do processo
do mensalão no STF, Joaquim Barbosa, votou pela condenação de José Dirceu pelo
crime de corrupção ativa e o chamou de "mentor do mensalão". Barbosa
afirmou que Dirceu controlava o esquema, organizava o que era necessário para
viabilizar os pagamentos, negociava os empréstimos bancários que alimentaram o
mensalão com as diretorias do BMG e do Banco Rural e acertou com os líderes
partidários a distribuição do dinheiro. Para isso, se valeu daqueles que foram
apontados como operadores do esquema: o empresário Marcos Valério e o
ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Depoimentos de deputados beneficiados,
reuniões entre instituições financeiras e Dirceu na Casa Civil e a atuação de
Marcos Valério em sintonia com o então ministro do governo Lula comporiam o
"mosaico" citado pelo relator do processo para mostrar quem comandava
o esquema. O revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, iniciou ontem
seu voto. Ele absolveu o ex-presidente do PT José Genoino e condenou Delúbio
Soares.
Barbosa aponta
Dirceu como "mentor" do mensalão e condena "núcleo
político"
Felipe Recondo, Mariângela Gallucci, Eduardo Bresciani e Denise Madueño
Relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, o ministro
Joaquim Barbosa votou ontem pela condenação do ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu por crime de corrupção ativa e o chamou de "mentor" do esquema
de pagamentos de parlamentares para garantir a aprovação de projetos do governo
Lula.
Hoje, a sessão de julgamento será retomada com o voto do revisor do
processo, ministro Ricardo Lewandowski, sobre Dirceu. Ontem, Lewandowski
divergiu de Barbosa e absolveu o ex-presidente do PT José Genoino. A expectativa
é que também absolva Dirceu. Em seguida, Barbosa fará uma réplica e os demais
ministros votarão sobre as acusações de corrupção ativa contra dez réus.
Em seu voto de ontem, Barbosa afirmou que Dirceu controlava o esquema,
organizava o que era necessário para possibilitar os pagamentos, negociava os
empréstimos bancários fraudulentos que alimentaram o mensalão com as diretorias
do BMG e do Banco Rural e acertava com os líderes partidários a distribuição do
dinheiro.
Para isso, valeu-se daqueles que foram apontados como operadores do mensalão
- o empresário Marcos Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, também
condenados ontem pelo relator.
"José Dirceu detinha o domínio final dos fatos. Em razão do
elevadíssimo cargo, atuava em reuniões fechadas, jantares, encontros secretos,
exercendo comando e dando garantia ao esquema criminoso com divisão de
tarefas", afirmou Barbosa. "José Dirceu mantinha influência
superlativa sobre os corréus", acrescentou.
Os pagamentos efetuados por Delúbio Soares e Marcos Valério a parlamentares,
conforme o relator do mensalão, "colocam o então ministro da Casa Civil na
posição central da organização e da prática como mandante das promessas de
pagamento das vantagens indevidas a parlamentares para apoiar o governo".
Depoimentos prestados por deputados beneficiados, reuniões entre
instituições financeiras e Dirceu na Casa Civil e a atuação de Marcos Valério
em sintonia com o então ministro do governo Lula comporiam o "mosaico"
citado pelo relator para mostrar quem comandava o esquema.
Barbosa começou a esmiuçar a relação entre Dirceu, Marcos Valério e Delúbio
pelas reuniões dos três no Palácio do Planalto com dirigentes do BMG e Banco
Rural. Os encontros foram agendados por Valério e acompanhados por ele e por
Delúbio. "Não é absolutamente comum que estejam presentes em reuniões do
ministro com representantes do Rural e do BMG um publicitário que se aproximou
do PT no segundo turno das eleições presidenciais de 2002 coordenadas pelo
presidente do PT José Dirceu e ainda o tesoureiro desse partido", afirmou
o ministro.
Os advogados de defesa afirmaram, ao longo do processo, que os encontros
serviram para tratar da liquidação do Banco Mercantil e sobre a exploração de
uma mina de nióbio. Barbosa argumentou não ser crível a versão, pois os temas
não têm relação com as atribuições da Casa Civil.
A versão encampada pela defesa de Dirceu, de que ele não mantinha relações
com Valério, seria inverossímil, conforme o relator do processo. "Entender
que Marcos Valério e Delúbio Soares agiram e atuaram sozinhos e contra o
interesse e a vontade de Dirceu, nesse contexto de reuniões fundamentais, é
inadmissível."
Também comprovaria que Dirceu era o mentor do esquema a reunião em Portugal
entre dirigentes do Banco Espírito Santo, o grupo Portugal Telecom e
representantes do governo brasileiro. Conforme o delator do mensalão, Roberto
Jefferson, a reunião serviria para captar aproximadamente R$ 8 milhões, que
seriam usados para pagar despesas do PT e do PTB. Marcos Valério foi mandado a
Portugal, de acordo com Barbosa, como representante do PT e atuou como se fosse
um "broker" de Dirceu.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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