Folha de S. Paulo
Presidente assume personagem que se
embrenha no tal sistema para conseguir benefícios políticos
Jair Bolsonaro tentou costurar um primeiro
acordo com o centrão ainda em 2018. Candidato pelo nanico PSL, o
capitão buscou uma aliança com Valdemar Costa Neto para ter acesso ao
tempo de TV e ao fundo de financiamento eleitoral do PR (mais tarde rebatizado
de PL).
A negociação não deu certo. Bolsonaro fingiu que nunca havia estendido a mão à sigla e se lançou na campanha como um candidato que combatia "o sistema". Depois de um mandato marcado pelo casamento de conveniência com os velhos partidos e, agora, filiado a uma dessas legendas, o presidente terá dificuldade para repetir a ladainha em 2022.
No governo, Bolsonaro tentou preservar a
imagem de perseguido pelas elites políticas e pela cúpula das instituições.
Trata-se de um conhecido método de líderes populistas. O objetivo dessa
encenação é atropelar as regras do jogo, ultrapassar os limites impostos ao
poder do presidente e arregimentar apoio público a essas investidas.
A estratégia é usada para mascarar a
incompetência, o medo de perder o cargo ou os impulsos autoritários de um
governante. No caso de Bolsonaro, os três casos se aplicam.
O presidente já posou de vítima quando não
conseguiu aprovar no Congresso os itens de seu desconjuntado programa de
governo, inventou a teoria de uma
conspiração política para roubar a próxima eleição e tentou jogar seus
eleitores contra governantes que adotaram medidas de restrição na pandemia.
A doutrina antissistema é uma marca do
bolsonarismo e costuma se basear em premissas falsas. Na semana passada, o
ex-ministro Abraham Weintraub disse que a cúpula das Forças Armadas tem
ideias próximas ao socialismo. Paulo Guedes, aquele mesmo, reclamou dos
bancos e disse que eles "ainda
não aceitaram a eleição de Bolsonaro".
Embora tente se manter nesse papel, o
presidente assume seu verdadeiro personagem ao se filiar ao PL para as
eleições. Bolsonaro nunca hesitou em se embrenhar no tal sistema para extrair
benefícios políticos.
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