O Estado de S. Paulo
A hora de melhorar o Auxílio é agora, mas governistas só pensam em embalar a eleição, com a PEC
O programa Bolsa Família sempre foi o único
benefício da seguridade social sem proteção contra a perda do poder de compra pela
alta da inflação. O mais bem focalizado entre as políticas públicas de
transferência de renda aos mais pobres, e o único sem nenhuma espécie de
garantia de recomposição da inflação.
Benefícios claramente pouco eficazes ou com
muitos erros de focalização, como o abono salarial e o seguro defeso, são
atrelados ao salário mínimo, sobre o qual a Constituição garante a correção
todos os anos pela inflação do ano anterior.
O deputado Marcelo Aro (Progressistas),
relator da MP que cria o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, tinha
topado atender a uma demanda histórica da área social e colocou no seu
relatório a correção automática do benefício pela inflação e proibição da
filas.
O presidente da Câmara, Arthur Lira, cobrou a retirada da mudança em reunião com líderes. O ministro Paulo Guedes chegou a lhe pedir diretamente que não colocasse a indexação. Aro retirou do relatório, mas manteve apoio em acordo para ficar com a determinação de fila zero e as outras mudanças do parecer na votação da MP na Câmara.
Sem dúvida, a correção era uma medida
polêmica, porque a indexação amarra o Orçamento do governo, já comprometido com
90% de despesas obrigatórias e com pouco espaço para os investimentos.
Como o teto de gastos e as principais
regras fiscais, como a LRF, estão desmanchando na votação da PEC dos
Precatórios, a correção automática do Auxílio, que valeria a partir de 2023,
levaria a uma discussão séria e efetiva sobre mudanças estruturais nos gastos
obrigatórios, que o governo Bolsonaro e o Congresso não quiseram enfrentar em
2020 e nem 2021.
Poderia ser uma excelente oportunidade para
o enfrentamento dessa agenda no primeiro ano do próximo governo. É mais
importante olhar para os programas ruins, como o abono salarial, do que tirar
da fração mais pobre.
Foi desconcertante acompanhar o pouco ou
quase nenhum empenho dos parlamentares, incluindo os da oposição, no debate no
Congresso do desenho do Auxílio.
A hora de mudança para melhorar a estrutura
do Auxílio Brasil é agora nesta quinta-feira. Mas os deputados governistas só
pensam na PEC dos Precatórios para embalar a eleição de 2022 e a oposição, em
atravancar o caminho do governo. É claro, tudo com o discurso em defesa dos
mais pobres. Que ao menos a fila zero seja mantida na votação final da MP na
Câmara.
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