Folha de S. Paulo
Ao agravar mudanças climáticas, presidente
dos EUA afeta o cérebro de seus apoiadores
"A OMS nos roubou, todo mundo rouba
os Estados
Unidos", afirmou Donald Trump,
no melhor estilo paranoico da política americana, ao assinar a ordem que
determina a saída do país pela segunda vez da Organização
Mundial de Saúde.
A decisão impacta na prevenção e combate de doenças em todo o planeta e em
estudos sobre como o calor excessivo afeta o cérebro e causa distúrbios de agressividade e impulsividade, redução da capacidade
cognitiva, dificuldades de raciocínio, aprendizado e memória. As temperaturas
extremas, segundo a OMS, derretem pensamentos no sentido literal.
Mesmo exibindo a pele alaranjada por
bronzeamento artificial e esgares de escárnio e menosprezo por tudo que não
seja ele próprio e o que representa no clube exclusivo dos trilionários (cujas fortunas
cresceram a ritmo acelerado em 2024) e dos novos plutocratas da tecnologia,
Trump não parece ter a saúde afetada pelo calor recorde do ano passado —que atingiu 3,3 bilhões
de pessoas no mundo, sobretudo as mais pobres.
Não se pode dizer o mesmo de boa parte de seus apoiadores, lá e aqui. A turma
de deputados e senadores bolsonaristas que aproveitou a onda trumpista para
fazer nos EUA um curso de "imersão geopolítica" e bailar ao som
de Gusttavo Lima, cantor sertanejo que se diz candidato a
presidente. Com a cabeça fritada, é pena que eles ficarão sem a ajuda dos
pesquisadores da OMS para socorrê-los.
Trump não é mercurial, age com frieza, cumpre
promessas de campanha: perdoar 1.500 condenados pela invasão do Capitólio e um condenado à prisão perpétua
por administrar um site clandestino onde traficantes de drogas comerciavam com
bitcoins; revogar medidas pró-energia limpa e de combate a mudanças climáticas; aumentar a exploração de petróleo e
gás ("Perfurar, baby, perfurar"); estancar, com as Forças Armadas, o
fluxo migratório na fronteira com o México. De quebra, adota uma prática
stalinista obrigando servidores a delatar colegas por ações de diversidade.
Tão gélido e programado quanto seus dois principais colaboradores, Steve Bannon e Elon Musk,
que fazem saudações nazistas vendidas como "gestos
polêmicos".
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