domingo, 31 de dezembro de 2023

Míriam Leitão - O ano em que o mercado falhou

O Globo

Números de 2023 foram melhores do que os previstos e ainda tiveram outras surpresas positivas

O que marca 2023 é o fracasso das projeções econômicas. Até economistas do mercado financeiro estão olhando com desconfiança para os próprios modelos. O ano terminou com números muito melhores do que os previstos. Houve também erro na sequência de eventos projetados para a economia.

Comparando-se os dados das duas pontas, o país iria crescer pouco mais de 0,5%, e cresceu 3%, iria ter uma inflação de 6% e ela termina em torno de 4%. Não cumpriria a meta e ela foi cumprida. Houve um momento do ano em que os analistas diziam que só haveria queda da inflação de serviços se houvesse forte aumento do desemprego. A inflação de serviços caiu com aumento do emprego.

O que mais cresceu no Caged foram vagas formais no setor de serviços e a Pnad Contínua mostrou que o desemprego até novembro foi o menor para o período desde 2014, com mais de cem milhões de brasileiros empregados, um recorde.

No começo do ano já se sabia que o país teria uma supersafra, portanto era possível prever um crescimento maior do que a mediana do Focus, de 0,7%. É verdade que o crescimento de 2023 foi concentrado no setor do agronegócio e ficou restrito aos primeiros dois trimestres. O fim do ano foi de economia estagnada. Mesmo assim, crescer 3% com juros altos não é um desempenho trivial.

Uma das surpresas de 2023 foi o saldo comercial que pulou de US$ 62 bilhões para perto de US$ 100 bilhões, injetando dólares na economia, o que foi importante para manter o câmbio estável, mesmo no período em que a entrada de capital estrangeiro era fraca. O real teve valorização durante o ano, derrotando também as projeções do mercado financeiro e ajudando a inflação no seu processo de convergência para a meta.

Dois personagens são centrais para o sucesso da economia em 2023. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Haddad contrariou as apostas iniciais de que o governo Lula seria de descontrole fiscal.

Prometeu em suas primeiras entrevistas, inclusive em uma que me concedeu, que o déficit não seria o projetado de R$ 230 bilhões, ou 2,3% do PIB e que suas prioridades seriam a aprovação de um arcabouço fiscal e da Reforma Tributária. Terminou o ano com um déficit mais alto do que gostaria, mas em um ponto percentual do PIB abaixo do previsto, ou seja, 1,3%. E aprovou no Congresso tanto o arcabouço, quanto a Reforma Tributária, o que parecia improvável.

Campos Neto foi criticado por manter os juros altos demais por muito tempo. As indicações da desinflação já estavam dadas, e o Copom mantinha os juros inalterados. Mas o fato incontestável é que Campos Neto não terá que escrever a carta explicando o descumprimento da meta, como teve que fazer nos últimos dois anos. A meta está cumprida.

Além disso, ele atravessou com sucesso o teste de estresse do Banco Central autônomo, que foi a mudança de governo. Na entrevista que me concedeu, definiu como “tempo de aprendizado” o período em que esteve sob ataque direto do novo governo.

Nada foi fácil para o ministro Fernando Haddad, mas ele terminou o ano com uma coleção notável de sucessos. Venceu as batalhas internas do governo e do partido e as que travou no Congresso. Contudo, no pacote do dia 28 de dezembro, pode ter contratado um fracasso. A MP misturou três assuntos, um deles bem tóxico, e foi divulgada em momento impróprio.

Haddad tem razão em combater as perdas de arrecadação, e tem sido resiliente no enfrentamento de interesses localizados. Mas o fato é que o governo perdeu completamente a batalha na desoneração dos 17 setores. O Congresso aprovou, o governo vetou, o Congresso derrubou o veto com uma larga margem de votos. Baixar uma MP dizendo o contrário do que decidiu o Congresso no mesmo dia da promulgação da desoneração deixou-o isolado politicamente.

Para além da economia, o governo também teve vitórias. O país que era pária voltou ao mundo. E se sentou, entre outras mesas, naquela que conduz as negociações globais do clima. Chegou com dados positivos para mostrar, de queda do desmatamento na Amazônia.

Em outras áreas, o Brasil se reconectou com princípios civilizatórios como defesa da vacina, combate ao armamentismo, combate ao garimpo ilegal e, o mais importante, defesa da democracia atacada no 8 de janeiro. Muita promessa não foi cumprida, mas o balanço geral do ano é positivo. Feliz Ano Novo.

 

3 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Feliz ano novo.

Anônimo disse...

■■■Obrigado, por mim e por todos!
■Há pouco tempo fiz um amigo no Rio de Janeiro, Ramon, que é mágico e trabalha se apresentando em festas infantis e em eventos diversos. Ramon me desejou boas mágicas em 2024.
=Desejo para você a mesma coisa que Ramon me desejou::
,=》Boas mágicas para você em 2024, Amâncio!

ADEMAR AMANCIO disse...

Edson Luiz,Obrigado,desejo a você a mesma coisa.